quarta-feira, 18 de agosto de 2010
O País Indecente
Barca - Serra da Aboboreira - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
O País Indecente
Nos últimos dias tenho-me dedicado, entre outras coisas, a tratar o país indecente, o meu, tal como ele se apresenta aos meus olhos.
Hoje trato o já mais do que velho e batido problema dos famigerados incêndios, que já mete nojo a qualquer alma penada e que, a quem tem de os viver de perto, mete bem mais do que isso. Porque aflige de uma forma que só quem já se confrontou com as chamas bem de perto e sentiu as suas altíssimas temperaturas no rosto e viu as chamas descontroladas dançarem, subindo pelos céus em turbilhão, como é o meu caso, compreende o significado do que estou para aqui a escrever.
Infelizmente tenho já grande experiência de contacto ombro a ombro com os incêndios na Aboboreira, ano sim, ano sim, acordada em sobressalto, a meio da noite, com avisos de incêndio, ou acordada logo pela manhã, como foi o caso deste último.
Estive na serra no sábado, durante a tarde, e estava tudo mais do que calmo, depois de um grande incêndio já ter cabo de grande parte dela este Verão. Na segunda-feira recebi o maldito do telefonema da praxe com a nova de que o incêndio, deflagrado a meio da noite, andava nos meus terrenos. Ordem de marcha, Anabela Maria, serra acima e lá vais de novo fazer de bombeira, pensei eu, mas felizmente pensei mal, pois, quando lá cheguei, os bombeiros de Santa Marinha do Zêzere andavam exactamente na terra que é minha, em operações de rescaldo. Como manda já a tradição, os bombeiros apanharam-no ali mesmo, ao bicho, nos meus campos, relativamente limpos.
Mas interessa-me aprofundar um pouco mais este assunto dos incêndios, que vem à baila quase todos os anos, para além do meu caso particular.
Não sou uma especialista, e ele há tantos neste país e pagos a peso de ouro, mas pela minha experiência de vida, o segredo está não no combate aos ditos, mas na prevenção dos mesmos. Ou seja, não se trata de colocar trancas nas portas depois delas arrombadas e sim de as colocar muito antes, por forma a prevenir qualquer ocorrência.
Todos os anos fico a pensar em todo o dinheiro despendido neste país no combate penoso, difícil, quantas vezes impossível, ao fogo já deflagrado quando não vejo nada, mas mesmo nada de nada de cuidados preventivos para que não se chegue a esta altura e se ande com o credo na boca.
Confesso que foi com espanto que ouvi o ministro da agricultura a ameaçar os proprietários de expropriação caso não mantenham as suas propriedades limpas. Pensei naqueles pobres idosos, já poucos, dobrados pelo cansaço, desdentados, andando ajudados por muletas e bengalas que vi espalhados, aqui e ali, pelo interior, sem força para cortarem o mato das suas terras, sem cortes de gado para absorver estes mesmos matos outrora úteis, agora inúteis pela quase inexistência de vacas, bois, ovelhas, cabras e outra bicharada que tal, sem dinheiro para mandar cortar este mesmo mato, que cresce à velocidade da luz, em terras de Portugal.
E pensei nas terras estatais, a maioria das serras e montanhas deste país aberrante, e pensei que o ministro da agricultura daria um excelente exemplo ao país real começando por expropriar estas mesmas terras, porcas badalhocas de matos e outras coisas que tais, sem que ninguém lhes valha, e que as poderia oferecer, sei lá... a Espanha?
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8 comentários:
Não seria capaz, mesmo que o tentasse, de encontrar palavras outras que tão bem retratassem o meu pensamento acerca desta fatídica realidade.
Bem visto, Amiga!
Entregamos as Serras a Espanha e o Estado Português fica com os matos privados...
Obrigada, Arminda, pelas tuas palavras. Sê bem vinda aqui ao blogue.
Uma pergunta... tu és a Arminda? :)
Beijinhos!
Nem penses, Helder, o Estado português é expropriado de tudo porque não sabe cuidar de coisa nenhuma!
O que te parece?
Belas palavras. Não diria melhor. Isto é a vergonha de país que temos.
Cheguei agora ao seu blogue, e gostei. Boa continuação de escrita... :)
Muito obrigada, Sara, e sê muito bem vinda a este blogue!
Beijinhos!
... tanto subsidio a toxicódependentes, alcoólicos e malandros, prisioneiros á boa vida, com cama, mesa e roupa lavada, bem que poderiam fazer algo de produtivo á sociedade. Eventualmente até agradeciam alguma actividade e responsabilidade. Sei que é um pensamento comum e até vulgar, mas já que pagamos para tudo isto, que deêm algumas contrapartidas...
Bjs
Lourenço
Subscrevo, Lourenço!
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