Mesquita/Catedral de Córdova - Córdova - Espanha
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
O dia quatro foi preenchido com mais uma visita, desta vez rápida, ao centro histórico de Córdoba, uma demorada visita ao interior da belíssima Mesquita de Córdoba e a viagem até casa o que já não foi pouco para tão pouco dia!
Mas vamos por partes. O centro histórico de Córdoba é uma beleza de Património Mundial da Humanidade feito de cármenes com os seus característicos pátios floridos, ruas estreitas decoradas com sardinheiras nas paredes, nas varandas e nas janelas, restos de banhos árabes, vestígios da presença romana, nomeadamente na ponte que galga, ainda hoje, o Guadalquivir e, é claro, a imponente mesquita, a terceira em tamanho logo após a excepcional Mesquita de Casablanca e a inexcedível Mesquita de Meca.
Entrar na Mesquita de Córdoba é entrar num templo estranho porque feito de um misto de arte islâmica e de arte cristã que não funcionam muito bem juntas porque imbuídas de filosofias religiosas e estéticas bem diversas que as sustentam.
Por um lado é surpreendente a permanência dos elementos arquitectónicos puramente islâmicos presentes na sala hipóstila, a sala de orações verdadeira floresta de colunas que sustenta arcos em ferradura, de meio ponto, polilobados, entrecruzados, num jogo pleno de harmonia corrompido aqui e ali por uma ou outra intervenção posterior, cristã, a decoração exterior e interior, predominantemente islâmica, a parede da Kibla onde se ainda hoje se aninha um Mihrab intocado é motivo de admiração se atendermos que esta mesquita, iniciada no século VIII, foi mesquita somente até 1236, data da reconquista cristã da cidade e se atendermos que a conversão a templo cristão foi imediata. Por outro lado, com o passar do tempo, para além de intervenções pontuais que não interferiram no seu conjunto, foi impossível aos católicos resistir à marca que se abre como uma ferida na bela sala de orações original e rasgaram uma verdadeira catedral, que estranho vê-la aqui! bem no seu seio, ocupando esta o centro do anterior templo consagrado ao islamismo, qual corpo exótico rasgando a métrica compassada das colunas sustentando os arcos bicolores, vermelhos e beges, de inspiração síria.
Ou seja, se por um lado é estranha esta sobreposição de arte cristã sobre arte islâmica, nitidamente marcando o espaço, marca inconfundível de um poderio cristão sempre crescente na Península Ibérica medieval, por outro lado não deixa de nos espantar a permanência, até aos dias de hoje, de um templo marcadamente islâmico, desde a sua concepção e planta, aos elementos arquitectónicos, à decoração geométrica, floral e caligráfica omnipresente por todo o edifício.
A viagem de regresso fez-se bem... muito embora nunca tenham tanto interesse como as viagens de ida...
Valeu a visita. As minhas apresentações em PowerPoint ficarão agradecidas, porque mais ricas.
2 comentários:
Absolutamente maravilhoso!
Muito obrigada, Maria de Lourdes! Este post esteve particularmente engalinhado...
Beijinhos!
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