Margens do Tâmega - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia Propriedade de Anabela Matias de Magalhães
O Rio Tâmega Ontem e Hoje
A minha relação com o rio continua um caso sério de amor desde que me conheço. Nascida na freguesia ribeirinha de S. Gonçalo, numa casa da margem direita com varanda voltada para o Tâmega, o rio corre-me, por certo, nas veias e eu alimento-me dele, uma e outra vez, em olhares prolongados e densos, e passeios vagarosos pelas suas margens, belíssimas em qualquer estação do ano.
Hoje volto a recuar no tempo, ao tempo do meu avô Rodrigo, para registar as alterações entretanto operadas na margem direita do rio, antes da Ponte Velha.
A fotografia a cores foi tirada no Outono de 2008 e mostra-nos as margens do Tâmega arborizadas com árvores de grande porte e mostra-nos margens intervencionadas com muros de suporte aos caminhos pedestres que acompanham o rio. As árvores, que agora se mostram pujantes e se vestem de múltiplas cores consoante as estações do ano, mal existiam ao tempo em que a fotografia a preto e branco foi tirada, algures nos inícios dos anos trinta.
A fotografia a preto e branco, amarelecida pelo tempo, mostra-nos uma margem direita absolutamente nua e despida de arvoredo digno desse nome, onde, para além dos ocupantes da guiga - da esquerda para a direita Sebastião Sapateiro, o meu tio avô Ismael com o seu cão Mikado ao colo, Carneiro, sorry mas este Nizolino Carneiro era conhecido localmente por Piça Negra e cá fica registada a coisa, o meu tio avô António e o meu avô Rodrigo Queirós, barco típico usado aqui pelo Tâmega, são bem visíveis as lavadeiras que eu guardo ainda na minha memória feita de quase meio século. Rodilha na cabeça, enrolada em forma de rosca ou rosquilha, bacia de zinco bem equilibrada por cima, tamancos nos pés ou mesmo descalças, cantarolando Quelha das Garridas abaixo, por vezes eu tinha a sorte de acompanhar a criada de servir da minha avó Luzia e era uma festa. As lavadeiras davam um colorido incrível às margens do rio, lavando a roupa em pedras específicas, em movimentos cadenciados e enérgicos. A roupa corava nos penedos ou na erva que crescia pelas margens, a vida era dura, mas a tagarelice daquelas criadas e as cantilenas que entoavam enchiam aquelas margens de uma vida hoje inexistente.
Hoje já não se vêem lavadeiras. Felizmente, digo eu, que não gostaria de ver voltar as mulheres à dureza daquela vida! Mas as guigas continuam a povoar as margens do meu rio Tâmega. Felizmente, digo eu, que as vejo a povoar o meu rio, o meu Tâmega, resistindo ao ataque,agressivo, das gaivotas!
2 comentários:
Estou triste...
Não publicou o meu prémio, significa que não gostou!!!???
Gostei mesmo... até já o descrevi à professora Aurelina entre gargalhadas.
Está guardadinho. Pode ser que um dia destes me decida, ok?
Beijocas
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