sábado, 26 de novembro de 2011

A Parva Incómoda

Outono nas Margens do Tâmega - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

A Parva Incómoda

A Parva Incómoda ama o seu trabalho e encara-o como mais uma dimensão da sua vida, por acaso absolutamente imprescindível para seu equilíbrio. A Parva Incómoda trabalha como uma mula para os seus alunos e para a Escola Pública, nunca se privando de prejudicar o andamento do seu trabalho particular para ajudar os outros a progredir. A Parva Incómoda partilha estratégias de actuação, ferramentas de trabalho por si criadas, projectos que saem da sua cabeça e coisas afins apenas porque a Parva Incómoda tem como lema de vida, entre muitos outros, a defesa e a prática de uma actuação transparente, asseada, leal e honesta, não baseada na inveja, no diz que disse, no diz que foi, na hipocrisia, na aldrabice, na aparência de normalidade que esconde uma anormalidade atroz. A Parva Incómoda partilha aquilo que tem e, curioso, ainda é gozada por isso, porque por certo se anda  armar em boa, por certo se anda a armar em inteligente, por certo se anda a armar aos cucos. Foi o caso com uma célebre apresentação em PowerPoint preparada para a recepção aos encarregados de educação, que partilhei e disponibilizei, e que realizei ainda nos longínquos tempos de ESA, preparada para as minhas turmas de CEF, do qual tenho sido directora de turma de há uns anos a esta parte. Disponibilizada a apresentação, sem grande êxito, diga-se de passagem, foram-me reservados mimos de Olha olha! Por certo quer ser excelente! Ao que nós chegamos! Powerpoint para a recepção aos encarregados de educação, que raio de floreados! sem que por certo soubesse, quem assim falou, à minha frente, diga-se de passagem, do meu cognome de Miss PowerPoint, conseguido à custa de muiiiiiito trabalho, de milhares de horas do tempo que eu poderia queimar a ver novelas e outras coisas que tais, e que, felizmente, não contribuem para a minha felicidade. E a Parva Incómoda o que fez? Pois voltou à carga, que é masoquista, e vai daí este ano resolveu ela mesma fazer as alterações necessárias para adaptar a coisa ao básico, obrigada Paula Almeida pela ajuda! e voltou a disponibilizar a dita cuja que, finalmente, teve serventia. E a Parva Incómoda ficou contente... apenas por poder ser útil.... e ainda se sujeitou ao gozo de ouvir Aaah! Autoria de Anabela Magalhães?!!! Pois, mas se a autoria da coisa é minha, queriam que lá estivesse o quê? Autoria do cão? Do gato?
É claro que este é apenas um dos muitos exemplos por mim vividos nesta aventura chamada Educação, e não, não vou falar agora da verdadeira saga da folha excel que operacionaliza os critérios de avaliação, exemplos deprimentes, este e os outros, que, não fora eu ser como sou, determinada até dizer chega, me poderiam fazer baixar os braços e dizer para mim mesma Anabela Maria, não vale a pena.
Mas continuemos. A Parva Incómoda, para além de parva é incómoda porque, ao partilhar o seu trabalho aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui e aqui, faz alguns outros sentirem-se mal por não terem nada de nada para partilhar... anos a fio, anos a fio, nada de nada de produção própria, copy past, copy past, anos a fio corta e cose ou cola, ou lá o que é... azar... ainda se a Parva Incómoda se calasse... e não é que o seu projecto ainda teve direito a post a ele dedicado no blogue "Aula Magna" do Jornal de Notícias, blogue reservado a Projectos Inovadores em Educação?! Raios a partam que a mulher não pára! E não se cala, criticando o que deve ser criticado, apoiando o que deve ser apoiado, na sua luta diária e não desistente, na sua luta diária por uma Escola Pública mais asseada, digna e transparente. E por um Portugal do mesmo calibre, já agora, que a mulher é ambiciosa. E tudo isto somente com uma secretária de quatro pernas, que é somente do que a mulher dispõe, mais um pc, uma cabeça no sítio devido e dez dedos para teclar.
É claro que este post não se dirige a todos, mas é que nem de longe nem de perto, que eu tenho muiiiita gente docente e muito decente guardada no meu coração, mas é certo que se dirige a todos os que forem capazes de enfiar o barrete, a todos os que não dão o litro pela Escola Pública e dela fazem parte integrante, parasitando-a, ao darem de si o mínimo dos mínimos e que, na crise, são tão penalizados como os outros, os parvos que não desistem nem se deixam abastardar porque sempre trabalharam e sempre deram o litro na profissão que desempenham com paixão.
Tenho dito.

14 comentários:

gabrielvboas disse...

Parva? Nunca! Dedicada, trabalhadora, inovadora, excelente profissional, amiga dos seus colegas e dos seus alunos.
Ah, já me esquecia, uma ótima companhia.

J disse...

Como diria certo dia "O pinheiro mais alto é aquele que o vento agita mais vezes."

Anabela Magalhães disse...

Muito obrigada pelas tuas palavras de apoio, Gabriel, a mim, incómoda, e ao meu trabalho, igualmente incómodo para umas quantas minhocas a rabiar à solta pela Escola Pública, conspurcando-a. E que deviam ter vergonha na cara e, ao que parece, não têm nem um pingo. O Mundo será delas? Das minhocas?
Beijinhos

Anabela Magalhães disse...

Eheheh... gostei da frase, muito linda e saborosa de ler nesta manhã de Domingo ensolarado!
Raios de sol para ti, João!
Beijinhos

Anónimo disse...

Anabela, a expressão "dar pérolas a porcos" diz-te alguma coisa (pergunta retórica)?

Os nossos amigos professores estiveram (quase) todos com o Governo e com o Ramiro Marques. Isso diz-te alguma coisa (pergunta retórica)?

Lembras-te daqueles músicos do Titanic? É o que nós (os "parvos" da blogosfera docente) somos neste momento.

Eu talvez vá tomar a decisão que se impõe. Estou farto desta perda!

Abraço!

Anabela Magalhães disse...

Diz, também a uso e tenho pensado nela várias vezes ao longo da minha vida que eu encaro como uma cruzada. Não desisto. Não farão de mim uma desistente. Nem de ti, Luís! Tenho a certeza.
A música contianuamos a dá-la até ao fim. Doa a quem doer, incomodando este e aquele, esta e aquela, esses sim, uns parvalhões!
O mundo não pode ser deles. Pode?

Anónimo disse...

Anabela, detesto que me venham com a palavra "desistência" (mesmo que ele seja dita por ti), sempre que ameaço deixar a blogosfera. O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Se ainda não dei provas de quem sou, então vós precisareis de outra vida para me enxergardes.

Eu já era resistente antes de vir para a blogosfera, e continuarei a sê-lo depois de a deixar. Por favor, se ainda me respeitas, retira essa palavra de perto de mim!

Anabela,eu tenho a minha atividade literária parada para estar aqui a dar música a defuntos. Tornei-me antipático para muita gente, e muitas portas se me fecharam por estar aqui. Algum dos meus amigos da blogosfera (já para não falar dos outros)sentiu alguma pinta de curiosidade sobre a minha escrita literária que está nos livros editados. Pois fica sabendo, Anabela, que ela encerra uma luta muito mais profunda, mais genética e mais hercúlea do que esta. No entanto, pu-la de lado para estar aqui a lutar por uma classe acobardada, rendida, entregue.

O meu pseudónimo literário (Flávio Monte) é, na verdade, um nome de guerra contra um dos maiores flagelos deste país. Posso dizer que ele transporta um dos mais importantes ideais para a etapa da vida que me resta. E vou cumpri-lo, fazendo o que estiver ao meu alcance.

Voltei à blogosfera em outubro, pois pensei que o discurso de PPC, no dia 13 desse mês, seria suficiente para indignar os mortos. Enganei-me. Para mim, a luta "pelos professores" deixou de ser digna. Outros valores, muito mais altos,se me levantam.

Por favor, Anabela, não caiamos no erro de pensar que tudo se esgota aqui na blogosfera, que é aqui o tabuleiro onde tudo se joga. Não façamos deste espaço de intervenção cívica uma espécie de seita que condena aqueles que já não se identificam com ela!

Anabela Magalhães disse...

Exactamente, Luís.
Quando eu apliquei a palavra "desistente" foi por puro egoísmo meu, por querer a tua companhia diária, aqui na blogosfera, por querer ler os teus textos que me dizem sempre tanto. Quero que continues por aqui, muito embora a decisão seja tua e só tua. Num mundo ideal continuarias a tua actividade literária e continuarias por aqui, a enriquecer uma blogosfera docente cada vez mais pobre.
O facto de desistires da blogosfera não faz de ti um desistente, obviamente, há muito mais vida para além disto e é bom que cada um de nós tenha isto bem presente.
Mas deixa-me continuar a ser egoísta e desejar-te para minha companhia nesta caminhada ... mais dura que nunca...

Anónimo disse...

Continuas a usar demasiadas vezes a palavra "desistir". Não vou alongar-me, pois já começo a sentir vontade de ser cínico.

Anabela Magalhães disse...

Não sejas. Continua a ser "apenas" sincero e já não será pouco nos dias que correm.
Bjs

maria disse...

Caro Luís
Ainda não percebeste o quanto és importante para muitos que por aqui passam diariamente?

Anabela Magalhães disse...

Ele sabe. Ele sabe.
Bjs, Maria!

Helder Barros disse...

Mais parvo é que não quer ver a figurinha que faz a defender modelitos e depois a não olhar a meios para que o dito se adapte á sua mediocridade...

Anabela Magalhães disse...

Estas ADD são um filme negro deste país. Tenho falado com o pessoal das autarquias, avaliado pelo SIADAP... contam-me histórias de arrepiar...
E a avaliação dos professores universitários? De deixar qualquer indivíduo, com dois neurónios, de cabelos em pé. E nos hospitais? Bem, é melhor mesmo nem desbobinar a desgraça.
Assim sendo estou descrente neste país. Descrente mesmo. Acho que não vamos a lado nenhum de jeito porque é quase tudo tão mau e tão rasca que até dá dó, Helder!
E, porra, um dia destes temos de tomar um café!
beijocas

 
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