sábado, 5 de novembro de 2011

"Admiro-a, viajante"

"Admiro-a, viajante"

A frase, muito bela, é de um aluno meu, de uma das minhas turmas de CEF de pastelaria/panificação e caiu na minha noite como abelha em prato de mel.
Sei que os meus alunos vão andando por aqui, ao longo dos anos, o mais das vezes em silêncio, de quando em vez, que é o mesmo que dizer de muito longe a longe, lá me entra um ou outro blogue adentro e comenta um ou outro post. Mas por norma os alunos dos CEF não o fazem e eu já tive tantos, tantos ao longo destes muitos anos de experiências doridas, tarimbadas, densas, emotivas, felizes.
Ontem um corajoso dignou-se abrir a porta desta minha casa virtual, que nunca se fecha, e deixou-me um comentário que acaba com um "Admiro a viajante".
Confesso que penso que ser digna da admiração dele/deles é meio caminho andado para o meu êxito enquanto professora e que isso me deixa com a tarefa um pouco mais amenizada e facilitada, especialmente dentro da sala de aulas, com a rapaziada e o mulherio a cumprir à risca as minhas directrizes de forma ordeira e civilizada.

De resto, o rapaz tirou-me a pinta. Sou viajante mesmo... mesmo quando não saio daqui e viajo com a mente para sítios recônditos, duros, problemáticos, daqueles que me põem à prova e põem à prova a minha capacidade de resistência e adaptação a povos, costumes, hábitos, condições de habitabilidade radicalmente diferentes e falta de mordomias sem fim...
Retiro a energia e alimento-me dela, sugando-a até ao tutano, ao subir uma duna completamente só antes do nascer do sol, ao passar uma noite ao relento deitada sobre a areia fina e aconchegante do deserto sem fim, ao adormecer olhando o céu incrivelmente estrelado escutando risos genuínos dançando à volta de uma solitária fogueira no Grande Sahara, ao percorrer uma pista dura, duríssima, Alto Atlas acima, seis horas para cumprir 30 quilómetros, ao percorrer o leito inacreditavelmente pedregoso de um oued saindo dele pior que o chapéu de um pobre, ao entrar no Paiva e rema, Anabela Maria, rema que vais a entrar num rápido para depois teres a recompensa de uma piscina...
Dito por outras palavras e para quem ainda não percebeu, alimento-me das/nas dificuldades, nas contrariedades e nos desafios. E sei que no final chegarei a bom porto. E que o bom porto até poderá ser o Ponto de Não Retorno, na Líbia.
Obrigada por admirares esta viajante, Rúben!
Dedico-te este diaporama musical que nos remete a todos para outros mundos que não este...

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