sábado, 11 de agosto de 2012

A Palavra a Luís Costa

 

 

 

 

 

 

A Palavra a Luís Costa

Carta Aberta a Mário Nogueira

Prezado Mário,
Em primeiro lugar, espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde, na companhia dos demais colegas da Fenprof, pois bem precisais dela para o ano letivo que se avizinha. Nós, por cá (nas escolas) lá vamos desandando, e todos mal, graças ao último triunvirato ministerial e a alguma falta de arrojo da vossa parte.
Começo por dizer-te, Mário, que gostei muito de te ouvir, ontem, na SIC Notícias. Estiveste bem, muito bem mesmo, contrariamente ao outro Mário, que esteve bem mais crespo contigo do que com o ministro. Coisas! Mas… isso já não se estranha! Concordei quase em absoluto com tudo o que disseste. Essa é, aliás, a minha posição mais comum sempre que criticas as decisões ministeriais. Não há dúvida de que são, por via de regra, pertinentes, rigorosas e acutilantes as tuas análises. Pena é que, também por via de regra, após esses preliminares tão prometedores, acabes sempre com uma efabulação precoce, uma espécie de vitória de Pirro daquelas que só dão mesmo gozo ao próprio. Há qualquer coisa que não funciona bem quando te sentas a negociar com os ministros. Talvez haja demasiada ansiedade de ambas as partes.
Estive na concentração do Porto, em frente à DREN. Uma vez mais, gostei de ouvir e concordei quase em absoluto com o teu diagnóstico preciso. Mas já não gostei tanto das tuas palavras, no final, após o encontro com o Diretor Regional, ou seja, da tua terapêutica. Falaste em estar, no início de setembro, nos centros de emprego, em gesto de solidariedade com os colegas “descontratados”. Muito bem, mas muito pouco também! Depois, falaste numa “ação simbólica”, na abertura do ano letivo. Muito mal! Já te digo porquê.
Nas restantes concentrações de julho, foste variando sinonimicamente o teu receituário, acabando mesmo por dizer mais ou menos isto: “estamos a pensar, vamos todos pensar em qualquer coisa no início de setembro”. Finalmente, seguiu-se o encontro com Nuno Crato e a tua inevitável efabulação precoce. Mas ele parecia satisfeito e apaziguado! É este o teu calcanhar de Aquiles, para nossa desgraça!
Mário, tu és um dos mais inteligentes sindicalistas que conheci na nossa praça. Contudo, a federação que encabeças, embora se demarque muito bem da FNE, que é uma espécie de pároco do sindicalismo, acaba por fazer um papel muito semelhante: transmitir aos professores a ideia de que estão a ser defendidos, dentro do possível, enquanto a máquina ministerial os vai cilindrando impiedosa e massivamente. Juntamente com os professores, também vai sendo cilindrado o “serviço nacional de educação” e as esperanças de muitos portugueses, sobretudo dos mais novos, filhos daqueles que não têm posses para pagar o conforto das carteiras do privado.
Como tens repetidamente dito, estamos a sofrer o maior ataque desde que a Escola Pública foi criada. E quando digo estamos, não me refiro somente a nós, os professores, refiro-me a todos aqueles que podem beneficiar de uma Escola Pública de qualidade: alunos, pais, comunidades… Então não achas que grandes males exigem grandes remédios? Então não achas que o pior ataque de que há memória justifica a maior e a mais contundente reação de sempre? E não achas que uma ação dessas já devia estar a ser preparada e anunciada, mesmo em tempo de férias?
Que muitos blogues de professores queiram apenas assumir o papel de comentadores, de descritores da desgraça, ainda se tolera. Estão no seu direito, por moto próprio e à sua conta. Mas dos sindicatos exige-me muito mais, sobretudo em situação de calamidade como a que sofremos. Os sindicatos não estão no terreno para consolar o nosso espírito e salvar as nossas almas, os sindicatos existem para defender quem trabalha, para combater incondicionalmente todas as injustiças que ameaçam ou são perpetradas contra os trabalhadores. Ações simbólicas e hinos de vitória por migalhas são elementos de uma coreografia que os desgovernantes conhecem e aceitam muito bem. Useiros e vezeiros nesse folclore, eles já incluem as cedências vindouras nos cortes anunciados. E muitas vezes, estranhamente, os sindicatos parecem até contentar-se com bem menos do que o previsto. Estes cantam vitória e aqueles compõem um visual tranquila e assertivamente descontente. E o mundo continua a girar.
Termino esta improvável missiva exortando-te a um encontro com a História. Faz o que a conjuntura impõe: solicita a adesão das restantes organizações sindicais, o envolvimento das associações de pais e encarregados de educação, dos blogues mais representativos da classe, e convoca os professores deste país para uma greve sem precedentes à abertura do ano letivo. Motivos não te faltam. Não queiras ser apenas um gestor de infortúnios.
Surripiado ao Luís Costa, tratador do blogue Dardomeu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pela partilha, Anabela!
Aquele abraço!

Anabela Magalhães disse...

Eu é que te agradeço o excelente texto, Luís!
Beijinhos!

 
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