sexta-feira, 19 de julho de 2019

A Palavra a Professora Zita Mamede


A Palavra a Professora Zita Mamede

A TODOS OS COLEGAS PROFESSORES

"Hoje sinto-me revoltada e triste! Fala-se nos 3 professores que morreram neste final de ano letivo e penso naqueles que não terão morrido noutros finais de ano e que não foram falados por ninguém. Como se a sua morte tivesse sido natural... Não poderei esquecer a morte chocante da minha colega Fátima. Já as aulas e as reuniões de avaliação tinham terminado e tratava-se dos últimos afazeres (sempre muitos) de final de ano, quando as temperaturas altas já se faziam sentir. Tinha estado a conversar com ela que nesse ano tinha tido turmas difíceis (N.E.E.) e sobre a sua revolta de no fim, sem fazerem nada, terem passado alunos que não o mereciam. No dia seguinte, quando vinha para a escola a conduzir, parou o carro e morreu. "Elas não matam, mas moem", digo eu, que também sou um pouco exemplo disso. Pedi a rescisão há 5 anos, tenho 58, não sei ainda como viverei até aos 66, mas tive plena consciência de que comecei a adoecer por exaustão e que "aquilo" não era vida... Eu, que tinha começado por lecionar com paixão e dedicação máxima... Agora esse tempo acabou e tornou-se demasiado para uma classe envelhecida que, vai perdendo algumas capacidades e a quem vêm chegando algumas maleitas próprias da idade. Não pretendo com isto, ser compreendida por toda a população que, continua a pensar que esta profissão é uma brincadeira e ainda por cima, com imensas férias....," Perdoai-lhes Senhor porque não sabem do que falam..." . Penso que os da classe me compreenderão, sobretudo os mais velhos e aqueles que "vestem a camisola". Não posso ainda deixar de falar nos outros professores que vão falecendo durante o ano, talvez também por exaustão e desespero porque se criou o chavão de que é fraco aquele que desiste. Há alguns que chegam a pôr termo á própria vida e outros que são obrigados a ir trabalhar até ao último dia, quando por doença lhes é negada a baixa médica e não têm já forças para se manterem de pé...que falta de humanismo! Registo aqui a minha consternação e homenagem a todos aqueles que já pereceram e hao-de vir a perecer...nesta batalha não há, por enquanto (como nos EUA), armas de guerra, mas há muita falta de tudo pelos professores. Que descansem em paz os que partiram e deram a vida ao terem escolhido ser professores!  Por tudo aquilo que já referi, penso que mais uma vez se justificava os professores de vestirem de luto e fazerem uma marcha lenta até á Assembleia da República para que se despertem consciências. Ser professor não deveria ser equiparável a participar numa guerra, não é á toa que somos um dos grupos profissionais que sofrem de "síndrome de burnout" e que mais recorre a psicólogos e psiquiatras para conseguir ir trabalhar para ganhar o "pão". Quando é que o poder político deixa de fazer como o macaco que não quer ver, ouvir nem falar? Não está tudo bem Sr. Miinistro! Está tudo muito mal e cada vez pior!"

Zita Mamede

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