Pensava eu que estava incógnita!
(E outros gritos.)
Hoje partilho este excelente texto da Teresa Martinho Marques, mais conhecida na blogosfera por 3za, retirado da sua casa http://tempodeteia.blogspot.com/
É um pouco longo mas vale a pena ler, atentamente, até ao fim. São as nossas mágoas, desabafos, espantos, incompreensões, escritas e registadas algures na blogosfera.
"Como recentemente não fui opositora a nenhum concurso do ME... nem preenchi nenhuma aplicação onde deixasse os meus dados... escapei do SPAM propagandístico que tem corrido as caixas de correio electrónico de muitos colegas meus.
Acabou-se hoje a minha imunidade...
A minha escola, a pedido do ME, suponho, fez-me chegar o dito SPAM com muito conforto, carinho e simplicidade... Duas mensagens longas que já conhecia da blogosfera e que nem comento.
Digo apenas que nada se alterou. Se a situação era caricata antes... agora é indescritível. O tempo gasto a produzir mil e tal despachos de simplexificação em vez de pensar tudo outra vez, ou de pensar em coisas que ajudem realmente a melhorar a educação neste país, assusta-me. Aceitar isto é levar a opinião pública a constatar os dizeres tantas vezes colados a nós de que afinal "o que tu queres sei eu!"... não ser avaliado ou ser assim mais ou menos mas com muito conforto e simplexidade que é quase tão bom como uma espécie de classificação administrativa... foi por isso que andaste por aí a reclamar em manifestações e tal... já conseguiste o que querias... pronto... acabou-se a luta!
Basta ler as propostas emanadas para perceber o esvaziamento de todo o sentido... a perfeita acefalia que reina... O que vamos fazer?
Se se vier a confirmar a redução da componente lectiva como cenoura para os avaliadores terem tempo de andar a preencher papéis e atrás de nós... sentir-me-ei ofendida. Nenhum dos meus projectos o merece e, este ano, o meu Clubito a desoras, com três sessões semanais (duas de 45 minutos e uma de 90) fora de tempo, já conta com 58 alunos... Ando completamente estoirada, porque é uma sobrecarga imensa equiparável a actividades lectivas (trazendo muito TPC de manutenção do blogue, de acompanhamento dos projectos e de comentário e estímulo aos membros)... Guardarei para mais tarde a reflexão sobre o rebuçado dado às tarefas dos avaliadores que o merecem mais do que as tarefas dedicadas aos alunos.
Afinal este mérito todo dos excelentes professores titulares vai afastá-los cada vez mais da possibilidade de o usarem ao serviço dos alunos, da educação e dos resultados estatísticos! Paradoxo interessante: quanto mais mérito tens, mais capacidade científica e pedagógica apresentas (que nem precisa de ser avaliada... claro... só vão servir para fazer o trabalho pouco claro da tutela), mais avaliador te tornas e menos tempo tens para os alunos. Ficaremos apenas nós, pobres professores sem mérito para chegar a titulares, ou progredir nas carreiras, a cuidar das crianças. Ora... se somos menos bons... menos capazes e tal do que quem nos avalia e supervisiona... como será possível vir a melhorar os resultados da educação afastando a frota dos "melhores" para avaliar colegas e colocando no activo a tomar conta das criancinhas apenas os "piores" coitaditos sem lugar, sem cargo e sem terra? Eu arriscaria dizer (como disse ao presidente do meu Departamento na Faculdade que me convidou em 1985 para ficar como docente por lá, usando o argumento de que eu tinha boas notas demais para ir para o ensino e que o ensino estava feito para atrasados mentais) que os mais bem preparados e vocacionados têm de ser colocados a trabalhar com os alunos para que o ensino possa melhorar! Como desperdiçar esse potencial pedagógico e científico, essa vocação específica, em papéis e funções que não nos competem? Essa foi uma das razões que me fizeram não aceitar o convite da Universidade e partir para a aventura do ensino dos mais pequenos, recusar dois anos depois o convite para ir para uma ESE (das melhores que conheço, com quem tenho cooperado, onde se encontram pessoas excepcionais e de elevada competência que admitiria muito mais facilmente me acompanhassem num processo de avaliação) e, agora, recusar ser titular.
Todos são necessários, mas podem estar mais vocacionados para a educação de adultos, a formação de profissionais, a educação das crianças... ser Professor tem todas as cores... até as da coordenação e liderança. Seguindo a vocação que nos orienta o caminho, completamos a nossa preparação comum com o crescimento profissional e académico em certas áreas... Então por que razão a divisão neste formato proposto pelo actual ECD? Eu optei pela proximidade dos alunos, deverei ser penalizada por isso num ECD que vê tudo a preto e branco? Já ocupei todos os cargos na escola (excepto os do CE), tenho a experiência e a certificação da entrega em qualquer tarefa com sentido, mas se me obrigam a optar, que alternativas tenho de oferecer os meus préstimos à escola em diferentes momentos e nas várias qualidades?
Já não quero ouvir falar deste modelo de avaliação com ou sem conforto. O problema que me move, e sempre me moveu nesta luta, persiste: afinal quem são os avaliadores? Que critérios de mérito curricular ou profissional os colocaram nessa posição?
Resposta simples: nenhuns. Só por acaso alguns possuem genuinamente essa formação profissional e científica que os habilita a tal... os outros são todos iguais a mim: boas pessoas mas pronto... incapazes de avaliar colegas... iguais ou melhores do que eles...
E cada vez mais, de remendo em remendo, pode ser avaliador qualquer pessoa... com ou sem título, desta ou doutra escola, assim ou assado... uma festa! Se podemos ser todos avaliadores, por que diabo insistem em ter a carreira partida em duas, com base em critérios perfeitamente absurdos que não premiaram qualquer espécie de mérito e se fizeram em toalha de mesa de restaurante com umas contas mal amanhadas a tinta de esferográfica saída da traseira de uma orelha?
Desta forma não. Recuso-me a ser avaliada por pares, sobretudo pares a quem não reconheça superioridade de conhecimento, capacidade ou desempenho pedagógico e científico na docência e na formação e avaliação de docentes (e isso vê-se em duas aulitas???). Não é nada contra os colegas a quem saiu a rifa premiada... é pelo facto de serem avaliadores acidentalmente, num jogo viciado à partida.
O que está podre é a raiz das coisas. Isto é uma anedota triste e não consigo sequer compreender como chegámos aqui. Por que razão ainda nos damos ao trabalho de discutir o que não pode ser discutido. Um modelo assente em coisa nenhuma. Um modelo com ar por baixo. Um modelo tipicamente português, muito ao estilo desenrasca, porque todos temos habilitações para fazer tudo e assim somos todos amigos e pronto, uma mão lava a outra que nunca se sabe bem quando está um em cima e o outro em baixo. Tudo vai ficar... não na mesma, mas muito pior.
O que contesto está muito a jusante. Este modelo de avaliação que coloca a faca e o queijo nas mãos de PCEs e colegas, sem que se perceba por que razão estarão habilitados a tratar da minha avaliação, ocupados que andam enredados em tanto papel quem nem tempo têm para acompanhar ou conhecer o que faço, é apenas uma consequência aberrante de um ECD que já devia ter desaparecido de cena se houvesse vergonha genuína.
Não baixo os braços. Este modelo de ECD é que não serve e por isso a forma de Avaliação assente nos erros em que se sustenta, também não.
Dia 3, dia 11...
Até às últimas consequências."
sábado, 29 de novembro de 2008
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11 comentários:
:) Obrigada por desmultiplicares... Beijinhos e bom fim-de-semana!
Clone do comentário na TEIA:
.
Ora cá estão a Teresa e a Anabela, as duas blogueiras que tantas vezes têm feito das suas vozes a minha voz.
As duas blogueiras que, concientemente, também não participaram na farsa do concurso a titular.
A "grande impercação" que fazes "diante das muralhas" do ME, 3za, merece ampliação nacional. Como o merecia a do "Amor à Pátria, Amor à Educação".
E só os teus leitores assíduos sabem de todos os malabarismos e sacrifícios que fazes para não faltares os teus meninos.
Dia 3 e dia 10...
Até às últimas consequências.
Abraço comovido
.
Outro para ti Anabela
Ainda bem que ampliaste...
Obrigada, Elsa D.
Beijinhos grandes
Ah!
Dia 3 e dia 9...
Até às últimas consequências.
É uma escandaleira nacional esta manta de retalhos em que se tornou a ADD. Cada vez que há um simplex, é mais uma farpa na nossa dignidade profissional.
Que estado de direito é este em que o meu país se tornou, que fecha os olhos aos atropelos legislativos que permitem que se despache ao sabor dos humores e das azias do momento?!!!
Por que se esconde no silêncio a figura máxima da Nação?!!!
Pobre país o meu que tão fracos governantes tem!
Dói-me!
Dia 3 e dia 12...
Até às últimas consequências.
Vai sendo habitual ver na blogosfera textos deste teor, os quais lançam críticas sobre os avaliadores em geral, esquecendo-se de que podem estar a atingir pessoas que estejam nessa função, que não a procuraram, mas que as contingências a isso as conduziram.
Para que se compreenda melhor aquilo que se segue, tenho a dizer que pertenço à nova categoria de professores que este Governo instituiu, que sou Coordenador de Departamento e, por força destas funções, avaliador. Mas isso não contribui para a minha felicidade. Acrescento que estive na manifestação de Lisboa dos 120 mil Professores e na de Braga (25/11), na qual estiveram presentes à volta de cinco mil. É importante acrescentar que estivemos em Lisboa 9 elementos dos 14 que constituem o nosso Departamento. Julgo ter alguma “autoridade” para falar…
Vai sendo cada vez mais corrente ‘atacar’ os avaliadores, como se fossem eles os culpados do que está a passar-se nas escolas. Julgo que isso terá uma razão…
Acreditamos muito pouco nos nossos colegas e estamos sempre de língua afiada para os criticarmos, por algo que não lhes corra bem e não a felicitá-los por aquilo que fazem bem. Julgo que temos algum caminho a fazer no que diz respeito às relações interpessoais…
Sublinho que me sinto orgulhoso por coordenar um Departamento em que os Professores não têm medo de ser avaliados. Contudo, ainda ninguém o foi porque a escola aprovou um pedido de suspensão do processo e em reunião geral deliberámos, no início de Novembro, que se a mesma tivesse de seguir caminho, apenas a partir de Janeiro poderia ser feita. Em boa hora tomámos a decisão, pois os desenvolvimentos posteriores vieram dar-nos razão. Eu não serei melhor nem pior do que os outros Professores, mas faz bem ao ego sentir que somos aceites pelos pares.
Com o decorrer do tempo uma pessoa vai dando conta que para cada questão há sempre diversos pontos de vista, os quais dependem da posição em que nos colocarmos. E tenho concluído que o melhor é ouvirmos mais do que falamos e não termos ideias preconceituosas sobre os outros. Como poderemos rotular uma pessoa de incompetente sem a pormos à prova? O facto de nos julgarmos sempre melhores do que os outros, não nos torna melhores…
Não devemos gastar as nossas energias noutras questões, mas apenas no combate determinado ao modelo de avaliação chileno, o qual tem subjacente um carácter punitivo. É o que tenho vindo a fazer com muito gosto!
Concordo com o que escreves, Telmo, e não me parece que a Teresa tivesse a intenção de agredir os titulares avaliadores em geral que como nós, rasos, os há de qualidade variável.
Vê o meu caso. Neste mesmo dia de sábado fiz um post dedicado a uma colega da ESA, Ester Cabral de seu nome, excelente colega e nem fiz qualquer menção ao facto de ela ser Coordenadora do Departamento de Línguas e consequentemente avaliadora. É absolutamente irrelevamte para o caso porque a qualidade da Ester está muito para além desses títulos. Mas também não posso generalizar estes elogios a todos os avaliadores da ESA. :)
E também concordo contigo quando focas a atenção na luta contra este modelo. E contra esta divisão artificial entre nós, já agora. Eu continuo sem a aceitar.
Bjs
Subscrevo inteiramente o que dizes, Anabela!
Como se pode lutar contra este modelo de avaliação e aceitar ao mesmo tempo a divisão horizontal da carreira?!!!
Professores avaliadores vítimas de contingências que os conduziram aos cargos?!!!
Escapou-me alguma coisa?!!! Então não houve um concurso?!!!
Eu não concorri! Tu também não, pois não, Anabela?!
Maria
Na minha página de recursos em PowerPoint digo-o claramente - jamais concorrerei a professora titular. Já avisei cá em casa que me manterei por aqui, praticamente no topo da carreira, até aos fim dos meus dias.
Jamais aceitarei que se privilegiem, dentro duma escola, funções burocráticas em detrimento das funções exercidas em contexto de sala de aula. Quando, conscientemente, escolhi a minha profissão tinha em vista o trabalho com e para os alunos. Passados todos estes anos este continua a ser o meu objectivo primeiro de trabalho. :)
Beijinhos
Junto a minha à tua voz! :)
Bom fim-de-semana pintado de branco! Que beleza!
Beijinhos
Sim, uma beleza!
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