domingo, 7 de janeiro de 2018

Amarante, os Amarantinos e o Rio

Amarante, os Amarantinos e o Rio
Fotografia de Foto-Carneiro
(Este post data  de 2009 e baseia-se nas memórias amarantinas, não sei se já romanceadas, do meu pai.)

Amarante, os Amarantinos e o Rio

post que agora escrevo tem por base as palavras do meu pai e as suas memórias relacionadas com o Tâmega.
O meu pai nasceu em 1937 e, aquando do seu nascimento, já existiam velhos hábitos e costumes entre os amarantinos relacionados com o rio, como se pode ver na fotografia que ilustra este post, e onde é facilmente identificado o meu muito querido avô Rodrigo, segundo na foto, contando da direita para a esquerda, o primeiro encostadinho à barraca, ainda muito jovem e solteirinho da silva.
O rio foi património passado de pais para filhos e estas barracas de madeira listada, contemporâneas do meu avô, povoaram ainda a infância e adolescência do meu pai não tendo chegado, no entanto, a alimentar as minhas memórias de infância, ligadas ao rio, passada já nos Poços.
As barracas eram montadas anualmente e inauguravam a época balnear. Montadas sobre a corrente do rio num sítio chamado Gola, entre a Ínsua e o Areal, serviam não só para as pessoas mais modestas tomarem o seu banho de limpeza semanal, como também para as senhoras importantes e excêntricas de Amarante se refrescarem, a coberto dos olhares, curiosos e matreiros, da rapaziada que povoava o Tâmega à época. Mas a rapaziada parece que fintava as ditas senhoras e mergulhando nas águas outrora límpidas do rio espreitava-as, ai Jesus! Nuas!, tal qual tinham vindo ao mundo!
Durante a infância do meu pai era o senhor Adolfo Flores que ensinava a moçarada a nadar e foi com este senhor que o meu pai aprendeu a deslocar-se em meio líquido, nadando em segurança no rio. De cabaças debaixo dos braços, para não ir ao fundo, lá ia ganhando destreza e aperfeiçoando os movimentos até o senhor Adolfo o mandar fazer a prova final e que consistia em nadar, sem as ditas cabaças, desde a ponta da Ínsua até ao pilar da Ponte Velha, acompanhado pelo senhor Adolfo, que da sua Guiga, barco típico que ainda hoje povoa o rio misturado com umas ditas dumas gaivotas infestantes, ia vigiando a prova de superação de dificuldades acrescidas, num local de grande profundidade do rio. Dizia ele que se a moçarada conseguisse nadar aquela distância, sem parar, estava já apta a nadar em qualquer lugar e sem mais companhia, quer humana, quer a das ditas cabaças.
E a moçarada lá ia crescendo, no Verão sempre enfiada no rio, chapinhando e brincando, bebendo da sua água quando tinha sede, pescando as enguias que se movimentavam no fundo pedregoso do rio, com garfos, nadando até dizer chega, espreitando as senhoras nuas dentro das barracas.
Este foi um tempo anterior aos Poços, que pura e simplesmente não existiam enquanto praia, na infância e adolescência do meu pai.

5 comentários:

Costa Neves disse...

Um dos miúdos,junto à barraca,usa o pseudónimo de Né do Covelo e é autor dde um livro«HISTORIAS DO COVELO».Esta fotografia de Anabela Magalhães,que cumprimento e felicito pelo seu importante contributo para a história do rio,em parte já divulgada no referido livro.Cordial abraço para Anabela,que gostaria de conhecer pessoalmente,de A.Costa Neves

Anabela Magalhães disse...

Obrigada pelas suas palavras! Quanto ao conhecer-me pessoalmente.. é fácil! Eu ando sempre por aqui.

Andreia Quintas disse...

Gostei muito do seu texto, Anabela. É ótimo o reviver dessas tradições.
Fiquei curiosa com o livro "Histórias do Covelo"... Sabem onde poderia adquirir ou consultar?
Obrigada.

Anabela Magalhães disse...

Muito obrigada pelo carinho! Penso que deve conseguir o livro na Biblioteca Municipal.
Beijinho

Andreia Quintas disse...

Obrigada, Anabela. Vou lá procurar.
Um beijinho.

 
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