segunda-feira, 9 de abril de 2007

Marrocos


Intromissões Azuis - Chefchaouen - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Marrocos

Marrocos evoluiu bastante nos últimos dezassete anos.
Em 90 o único ponto de encontro com a nossa cultura era a Coca-Cola que existia por todo o lado. Tudo o mais era diferente.
Havia um pequeno troço de auto-estrada entre Casablanca e Rabat, respectivamente a capital económica e a capital política de Marrocos, onde se passeavam burros, pessoas, e se vendiam cebolas e laranjas. Não existiam áreas de serviço. Faziam-se Kms e Kms, para sul, sem se ver vivalma. De onde em onde tendas de nómadas berberes. Os sanitários eram indescritíveis de porcos. Sanitas de buraco no chão, imundas. Imundas as paredes, o chão, as portas. Papel higiénico inexistente. Era um luxo termos à nossa disposição pequenos quadrados de folhas de papel de jornal ou de papel higiénico cor-de-rosa que mais parecia lixa. A carne, coberta de moscas, dependurada nos talhos à beira da estrada. Os camiões do lixo, de caixa aberta, espalhando tudo pelo caminho, deixando os montes mosqueados de sacos plásticos de todas as cores. Nos pequenos "cafés/restaurantes" comíamos com as mãos porque pura e simplesmente só existiam colheres. Lembro-me de pedirmos pão com manteiga e café com leite, num pequeno café em Arzila, e ficarmos a ver o empregado sair para comprar o pão, a manteiga, o leite, e chegar a rir-se para nós, e preparar-nos um lanche delicioso e ali improvisado. Não existia café expresso e ficávamos privados de o tomar durante todo o tempo que passávamos de férias. Lembro-me de chegarmos às dunas de Merzouga por uma pista manhosa tantas vezes percorrida de noite.
Este Marrocos está a acabar.
Hoje em dia os sanitários são normais e até já têm secadores de mãos. Abrem-se auto-estradas que cortam o reino de Norte para Sul e do interior para o litoral. Já há áreas de serviço melhores do que muitas em Espanha. Sim, na auto-estrada continuam a pastar rebanhos, mas já não vi tendas com produtos à venda. Já se come em qualquer lado, mesmo manhoso, de faca e garfo. Os carros do lixo já são como os nossos, todos automáticos. Temos rede de telemóvel mesmo no deserto. O Lavazza está por todo o lado e podemos agora tomar belíssimos cafés italianos sempre que nos apetece. Já podemos lanchar em qualquer café sem que tenham que nos ir comprar o material com que se faz um lanche português. Já é preciso, cada vez mais, procurar os nómadas. Há cyber-cafés por todo o lado, mesmo no deserto. E já chegamos às dunas por uma estrada alcatroada.
É, Marrocos evoluiu muito nestes últimos dezassete anos. Mas ainda assim é possível encontrar um Marrocos pitoresco e diferente se tivermos a coragem de o procurar. Onde os vultos são fantasmas (como diz o meu sobrinho Rodrigo), onde o pôr-do-sol é africano, onde os cheiros são mais intensos, onde os verdes são mais verdes, os vermelhos mais vermelhos e os azuis... ai os azuis...
Onde os azuis são mais azuis!

2 comentários:

Verinha ' disse...

A cor do céu, do mar, dos olhos, da alma, do coração...
Pacífica, serena, calma...
Inspira confiança, sabedoria, inocência..,
É a cor de alguém que me mostrou Marrocos com olhos de ver, e de sentir :)

Anabela Magalhães disse...

Com muito, muito atraso...obrigada, sobrinha minha! Foi um prazer mostrar-te Marrocos.

 
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