terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Café Bar
Café Bar - S.Gonçalo - Amarante
Fotografia de Eduardo Teixeira Pinto
Café Bar
Hoje partilho um postal editado pelo Pedro B, em edição numerada, que me foi oferecido pelo próprio nesta quadra festiva que agora se aproxima rapidamente do fim.
O postal retrata a fachada do Café Bar, em plenos anos sessenta, captada pela lente do enorme fotógrafo amarantino Eduardo Teixeira Pinto.
O gesto do Pedro deixou-me sensibilizada pois este colega dos bancos de escola sabe que eu cresci à volta deste café, à época do meu avô Rodrigo e dos seus irmãos Ismael e Belchior, e era do seu conhecimento que eu não possuía nenhuma fotografia de família que retratasse esta fachada ao tempo da minha infância. Por isso aqui lhe deixo os meus agradecimentos até porque o seu gesto reavivou-me memórias antigas associadas a este local.
A este café associarei sempre as histórias contadas pelo meu avô, sobre os clientes ilustres que frequentavam, à época, o café do Largo, e cuja figura maior tinha sido o ilustre poeta amarantino Teixeira de Pascoaes, que possuía a sua chávena particular no dito estabelecimento, por onde só ele bebericava o café.
Associarei sempre este espaço à história pitoresca da sua abertura quotidiana, às seis da manhã, pelo avô do A, Rodrigo, cliente assíduo da máxima confiança do meu avô e dos meus tios, madrugador inveterado que se levantava da cama ao cantar do galo e única pessoa que possuía a chave para além dos donos do dito café.
Associarei sempre a este espaço o facto de ser unicamente frequentado por homens já que, senhora que se prezasse, em plenos anos sessenta, não transpunha a sua porta, sob pena de ficar com a reputação completamente arruinada para o resto da vida. Vai daí era ver os carros entrarem no largo onde estacionavam. As madames não arredavam pé do interior dos automóveis e aqui mesmo eram servidas por solícitas empregadas fardadas que, de bandeja na mão, serviam chazinhos e outros produtos que tais.
Outros tempos. Uma Amarante diferente. Um diferente café.
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27 comentários:
Excelente Postal do Café Bar, Parabéns! Um local que também me diz muito! Obrigado!
Neste recorte da sociedade amarantina de outros tempos estão retratados alguns dos hábitos sociais da Covilhã da mesma época.
Felizmente que só vim habitar esta terra nos anos 90. Aqui a 20 km, o Fundão, que me viu crescer, tinha um ambiente bastante diferente, por exemplo, as mulheres iam ao café e à esplanada, pelo menos no Verão, desde o final da década de 50.
Engraçado, parece que estamos a falar de épocas remotas, tais as mudanças que se deram – em certos aspectos, claro!
A trégua (?) natalícia permitiu o regresso a outra casta de postes.
Com que prazer os tenho lido, embora, mazinha, sem comentar.
Beijocas guapa
É, Helder, acabamos todos por crescer à sombra deste café!
É claro que não partilhas comigo as memórias dos anos sessenta, mas partilhas as dos setenta talvez...tempos bem diversos, marcados sem dúvida pela conquista da Liberdade. Para as mulheres foi o saltar do muro... pelo menos para mim foi, que o saltei ainda adolescente, com uma enorme curiosidade por ver o que estava do outro lado! :)
Jamais me arrependi.
O Porto, aqui ao "lado", também tinha um ambiente muito dferente, Elsa.
A minha sogra que de lá veio nos anos cinquenta, para casar com um amarantino, diz que foi completamente chocante adaptar-se a Amarante.
Desde miúda que frequentava os cafés do Porto, o cinema, o teatro... e só abandonou esses hábitos quando aterrou aqui na parvónia!
Amarante era muito castradora.
Há quem a continue a ver assim... :)
Quanto à trégua, confesso-te que a ADD estava mesmo a deixar-me enojada!
Beijocas
Belo e ternurento olhar sobre Amarante de outros tempos.
Sou completamente fascinada pela história do quotidiano e pelas gentes anónimas que, inconscientemente, a fizeram. Quando a História Local se mistura e confunde com as nossas memórias familiares, o passado convive com o presente,complementando-o e perpetuando-se no futuro.
Obrigada pelo teu belíssimo contributo!
Um 2009 cheio de bons momentos e anseios concretizados!
Beijinhos!
A minha mãe vei de Lisboa para casar um covilhanense e viver no Fundão, que nem cinema tinha.
No primeiro Verão, quase um ano depois de casada, "atreveu-se" a beber uma imperial na esplanada!
Toda a minha a vida ouvi os relatos do choque! Acho até que nunca chegou a adaptar-se!
Mas é claro que os preconceitos não mudam se não formos nós a mudá-los!:)
Em 74 com 17 anitos estás os muros que não saltou uma aquariana!
«estás a ver», comi o "a ver".
E eu apanhei-lhe o gosto... e ainda continuo a saltá-los!! kakakakaka...
Quanto à minha sogra, acho que ainda hoje permanece chocada!
Olá Maria
Tinha de abandonar aquele assunto mais do que bolorento que me estava já a provocar vómitos! :)
Excelente 2009!
Beijocas
A minha mãe, foi a primeira mulher no burgo a usar calças. Vinham à porta vê-la passar!Isto, no início dos anos 70!
Gostava de dizer que esse cizentismo "já era" mas, em muitos casos, apenas está mais clarinho! E não falo só do meio rural nem de pessoas sem formação. A estrutura mental deste nosso Portugal é muito tacanha. A novidade continua a ser um bicho papão!
O conservadorismo anda é mais camuflado. Infelizmente...
Em muitos casos o cinzento apenas está mais clarinho. Subscrevo.
A mentalidade ainda é muito tacanha. E por isso que eu preciso de sair...para respirar o ar fresco que me permite aguentar a temporada seguinte!
Minhas amigas, eu nasci em terras africanas,lá os portugueses adaptaram-se ao "modus vivendi". Hábitos muito diferentes do nosso Portugal. Nos anos sessenta,lembro-me perfeitamente da minha mãe a conduzir o seu carro, as mulheres já frequentavam os cafés. A vida era levada com alegria. Claro que o clima em muita ajudava...
Se chove demanhã, à tarde o sol está radioso!
Bjs
Sorte a tua, Dudú! Não tiveste que crescer num Portugal deprimente, a preto e branco, com inúmeros tons de cinza!
Anabela,
Será tudo sorte?
Hoje, há a dificuldade em criar raízes, minha querida. Muitas dificuldades em adaptar-me às pessoas muito limitadas, muito preocupadas com a vida do outro...
Sabes, este meio é pequeno,tudo vem ao de cima.
O ideal,o ilusório talvez, teria sido a continuação da convivência entre africanos e portugueses.
Enfim!
Pois, mas eu também tenho essa dificuldade relativamente à tacanhez. Daí eu saltaricar daqui para fora sempre que posso. :)
Quanto a África... a África eu chamo Home. Apesar das dificuldades é o continente que mais profundamente me toca e onde eu encontro a hospitalidade mais desconcertante.
Já postei sobre isto lá mais para trás neste blogue.
Fico contente por terem gostado postal e alerto-os para a importância da cartofilia (coleccionismo de postais ilustrados) como forma de conhecermos as terras e as gentes.
É um postal com cliché do grande fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto que recentemente expôs na Biblioteca Albano Sardoeira e é uma edição numerada. Terei muito gosto em oferecê-lo a quem dele gostou. Se é bom, deve ser partilhado.
Pedro Barros
Tenho lido tudo o que tens em post sobre África. É a minha terra e será sempre. Sonho levar lá os filhos, um dia.
Obrigada por me entenderes!
Bjo
És um amor, Pedro.
Já viste as memórias soltas neste blogue à custa deste postal?
Thanks!
Beijoquinhas! Do A, também! :)
Nasceste onde, Dudú?
Nasci em Sá da Bandeira, actual Lubango. Também lá nasceram a minha mãe e a minha avó materna.
É caso para dizer que vens de longe, moça! :)
Sabes que pai nortenho(Porto-Paranhos), aventureiro, parte à descoberta de África e por lá ficou - anos 50 até 80 -
Um dia destes regressas... nem que seja em peregrinação...
É isso Anabela. A História foi assim, e assim eu vivo em paz, criando laços por cá, que também é a minha terra, Portugal inteiro.
Temos que reaprender a viver de outro modo, e já lá vão muitos anos...Estou adaptada, mais do que enraízada.
Bôa nôte!
:)
Fica bem. Bôa nôte.
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