Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes
Foi hoje entregue o prémio de poesia Teixeira de Pascoaes ao poeta João Rui de Sousa. A cerimónia decorreu na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira onde também está presente a exposição "Recordando... Maria José Teixeira de Vasconcelos".
Confesso que saí de casa com a intenção de assistir à entrega deste prémio a um poeta que eu desconheço, mas do qual sei ter oitenta anos, que se deslocou propositadamente de Lisboa até aqui ao burgo para receber tão importante distinção, e que me deixou curiosa com o título do seu livro, belíssimo, "Quarteto para as próximas chuvas".
Mas depois uma discussão em pleno café, entre um grupo de professoras, acerca duma coisa que já nos dá vómitos, distraí-me e perdi a hora.
A Elsa C fez o favor de me relembrar tal facto, que já estava esquecido no meio de tanto portefólio para corrigir, ao enviar-me esta belíssima poesia de João Rui de Sousa que partilho com os meus leitores.
Obrigada Elsa.
"O Tudo e o Nada"
"Nesta propensão para querer dizer tudo,
neste pão de roer algumas côdeas de nada,
fica-se muitas vezes entre o nada e o tudo
(entre um tufo de avencas e o remexer
da palha...)
E nesta marcha lenta por um enorme açude
com janelas e portas, guindastes e amuradas,
falta dizer o muito (que talvez seja quase tudo)
a tiritar no ovo das palavras."
In Quarteto para as próximas chuvas, Lisboa, D. Quixote, 2008, p. 18
3 comentários:
Adorei o facto do Poeta agraciado com o prémio ter oitenta anos! As palavras não têm idade, mas contêm a sabedoria e a sensibilidade de quem as (re)inventa.
Aqui deixo outro poema de João Rui de Sousa:
"LÍMPIDAS PALAVRAS
Eram límpidas palavras:
eram insectos perfeitos
que não passavam por larvas;
eram águas em corrente
fruídas logo à nascença
no entremeio das fragas;
eram jovens diligentes
que sabiam como os lábios
ardiam antes da fala."
In Quarteto para as próximas chuvas, p. 82.
Belíssimo...
Belíssimo, sem dúvida!
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