domingo, 25 de abril de 2010
Relato de um Dia Abaixo de Cão
Possibilidade de Fuga - Mosteiro de Alcobaça - Alcobaça
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Relato de Um Dia Abaixo de Cão
Ontem foi dia de passeio a Alcobaça e, enquanto me lembrar do que me enervei sentindo-me perfeitamente impotente para pôr cobro a comportamentos verdadeiramente inadmissíveis, não acompanharei em viagem de não sei o quê alunos que desconheço.
Os alunos eram todos de 9º ano, idade mais do que suficiente para terem todos juízo e saberem muito bem o que andam a fazer nesta vida, e saberem como estar aqui, ali ou acolá. Ocupavam três camionetas. Na minha camioneta ia a turma da qual sou directora, os meus queridos jardineiros, e mais duas turmas lá da escola. E durante a viagem os palavrões foram-se escapando aqui e ali, sem qualquer respeito pelas professoras que os acompanhavam. Bem sei que não foram os alunos todos, talvez nem meia dúzia de perfeitos desconhecidos, mas eu garanto que por mais anos que viva jamais me deixarei de sentir profundamente incomodada pela linguagem indecorosa, obscena, grosseira e rasca que "vejo" sair da boca de alguns meninos e meninas, estudantes, que se estão a marimbar para tudo e para todos, e se comportam com o à vontade de quem sente que isto aqui é tudo nosso... deles, portanto.
Confesso que me enervei. Por dentro. Por fora lá lhes fui pedindo, educadamente, para não usarem aquele tipo de linguagem sempre que daquelas línguas de lavagem saía o que eu tive de gramar.
Chegados a Alcobaça entrámos em dois grupos distintos já que não era aconselhável entrar tanta moçarada de rompante. Entrei com o primeiro grupo composto por alunos da EB de Amarante.
E foi aqui, dentro de um dos edifícios mais belos e espirituais que conheço, que começou o meu calvário. Os meus jardineiros andaram à minha volta, e eu só lhes fazia sinal de silêncio com o dedo em riste sobre os lábios, enquanto olhava em redor, virando-me para os outros, os desconhecidos, dizendo baixinho "Isto não pode ser! Não podem fazer este barulho! Isto não pode ser!". Só que pelos vistos podia e eu fui assistindo a um verdadeiro chiqueiro de gente que quer lá saber se está num local de culto ou no meio de uma rave na floresta da Amazónia!
Desde falarem alto e bom som, darem guinchos estridentes talvez para testarem o eco, andarem em correrias, insultarem-se uns aos outros, andarem aos empurrões e às caçadinhas, a tudo de impensável me foi dado assistir durante o tempo daquela visita. E eu tentando atalhar aqui e ali, em absoluto desespero, com a perfeita consciência do meu fracasso total. "Vocês não podem fazer este barulho aqui dentro!"; "Falem baixo!"; "Estão num local de culto!" A alguns questionei-os mesmo "És católico(a)?" . Viravam-se para mim estupefactos "Sou!" - foi a invariável resposta, como se fosse uma evidência estampada nas suas caras. - "Pois eu não sou e estou profundamente incomodada com o vosso comportamento aqui dentro. Para um católico, esta é a Casa de Deus. Respeitem-na!"
Mas qual quê! Impossível contê-los, impossível controlá-los.
Queria ter um buraquinho algures para desaparecer dali para fora, envergonhada pelo comportamento daqueles alunos de 9º ano, da minha escola, muito embora não meus. Queria ter tido uma possibilidade de fuga, uma escapatória... que não tive.
De referir que não foram, evidentemente, todos os alunos. Tive honrosas excepções que, sabendo que eu era professora de História, se interessaram por confirmar onde estava presente o estilo gótico, o manuelino, o barroco e outras curiosidades que tais.
Salvaram-se(me) os meus jardineiros, que andaram frequentemente à minha volta e portaram-se como uns senhores. Movimentaram-se calmamente, falaram baixo, não lhes ouvi um palavrão, não se pegaram uns com os outros, não andaram aos empurrões, não se insultaram uns aos outros.
Na próxima aula não deixarei de lhes afagar a alma e não me esquecerei de lhes agradecer aquele comportamento exemplar que pude observar em cada um deles. Obrigada alunos meus. Quanto a vocês... foi um orgulho poder acompanhar-vos neste passeio escolar.
Quanto aos outros, aos que eu desconheço, pena que não lhes possa chegar como cheguei a estes que, depois de fazerem um mea culpa em relato escrito do seu mau comportamento, chegaram à conclusão que só lhes restava fazer um pedido escrito de desculpas, que foi feito e foi entregue em mão a quem de direito.
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32 comentários:
Olá Anabela!
Déjà vu! Déjà vu!
Com todo o respeito que me merece, e é muito!, já sabe, aí vai "bombada":
Passear meninos ao Sábado?
Jamais! Jamais!
À semana: Se verá, se verá ...
O que a Anabela observou, sentiu, revoltou, é o que os outros em Lisboa, não querem ver ... Mas sabem, sabem muito bem que é assim!
Visitas de Estudo:
Google, Wikipedia, Messenger ... e mesmo assim ...
Um Xi!
Não me incomoda absolutamente nada acompanhar os meus alunos em visita de estudo ao sábado. Já o fiz em paragem de Natal, já tive alunos cá em casa a passarem a tarde comigo. a arranjarem-se ao sábado logo pela manhã para uma feira medieval que parou o trânsito aqui em Amarante e muitas outras coisas que nem lembraao diabo e não vai ser uma MLR ou IA ou mesmo um S que me vai fazer alterar a minha conduta. Por muito que às vezes diga a mim própria "Anabela Maria, pôe-te fina!" Mas... os alunos falam-me sempre mais alto e vai daí... não adianta.
O que adiantou esta visita é que não sairei mais da escola com alunos que desconheço e sobre os quais não tenho o ascendente necessário para que me reconheçam como autoridade. Que sou. Ou não tivesse eu já ganho o título de coronel junto dos meus jardineiros!
Ah! Estou mesmo contente com eles. É que, apesar de tudo, salvaram-me o dia!
Xi
Mas o problema é mesmo esse, o da...autoridade!
Não me veja como alguém que armado de chicote conseguíu só assim impor-se aos que o rodeavam, nada disso...antes ao contrário, pela via da persuasão e de fazer sentir que...alguém manda.
Este é o problema da Escola e da Família!
É preciso devolver a autoridade aos professores e à Família...a responsabilidade civil que há-de regular as relações entre cidadãos.
Mas a Família abdicou, esqueceu e amoleceu...e a Escola é manipulada por um "punhado" de incompetentes que pouco ou nada se preocupam com o que estão(?!) a formar.
Aos Pais e aos Professores as suas funções específicas e próprias e aí...talvez ainda vamos a tempo, sob pena de já termos perdido...esta geração!
Espero que recarregue as baterias, mas é quase prenúncio de incapacidade!
Foi uma vergonha, Hélio. Não foi a primeira vez e não será a última que acompanho alunos que me deixam enervada pelo seu mau comportamento. Deixam mal professores e escola o que, do meu ponto de vista, é inadmissível. Só lamento que eles não sejam meus alunos... porque comigo a coisa não acabaria aqui. Assim sendo não lhes posso chegar. Ainda assim espero que os meus colegas cheguem para eles.
Beijos
Ah! E não desisto deles, Hélio. E de exercer a minha autoridades sobre eles.
Por sorte hoje esteve um belíssimo dia de sol e já recarreguei baterias!
Bjs
Again ... Depois, para a caminha (para Caminha queria ir), ver o Dr. House :))))))))))))))
Não interprete mal o que disse Anabela ...
E não interpretou. Quase aposto.
O que queria dizer, é que 30 anos a aguentar situações dessas e piores!, deu-me alguma andadura!
Pus (estará certo o tempo verbal? Que se lixe!) um ponto final nessa história de acompanhar alunos ao Sábado!
Desde que vi, com estes olhos que a terra há-de lamber gostosamente, putos de 10 e 11 anos a atravessar uma auto-estrada, numa recta de quilómetros e a subir a divisória em rede como gatos selvagens ... Jamais! Jamais!
Mas, ainda vou caindo noutras "palermices". Porque quero ... Porque quero ...
O Sábado é bom, para ir ver a Luz ou os Gotan Project.
Et voilá ...
1Xi(zão)!
Replicado do "XI"
Já vi, li e reli.
Eu leio tudo o que escreves.
Bem. Sempre bem. "Toujours"!
Não significa concordar. Claro ...
E daí para aqui, também. Porsupuesto!
Costumo dizer que os amigos não agradecem, estimam-se.
Mas, abro uma excepção e ... "Thank you".
Hasta mañana.
1Xi!
Pus está correctíssimo, embora soe um bocado mal...
Quanto às tuas memórias de putos... no dia em que observar tais coisas por certo também me porei fina! Espero! Espero ter essa lucidez!
Quanto aos Gotan... ainda vou ter de esperar um pouquito...
:)
Anabela, como lamento que tenhas aguentado esse amargo de boca...
sabes? na minha ecola eu sempre fui escolhida para acompanhar os alunos de ERMC nas suas viagens de estudo, apesar de não ter, quase nunca, alunos com essa disciplina. e era escolhida porquê? porque quem ia comigo ia com o cabresto posto (como se diz no Além Tejo).
Acontece que um dia, numa dessas concentrações distritais do dia de Moral, estiveram poucos professores disponíveis e calhou-me um grupo mais alargado e precisamente do 8º ano. eu optei pelo 2º ciclo porque não tenho pachorra pela idade da alforreca.... tu nem imaginas a loucura que foi.os alunos de ERMC de todas as escolas do distrito. num descampado de terra batida, perto de um quartel.eu e outra colega ficámos com um grupo de 40 meninos e meninas que não conhecíamos, porque à última hora, um dos professores deles adoeceu.Duas meninas desapareceram a meio da manhã... e eu e 3 alunos fomos em demanda delas.corremos a cidade a pé e nada, isto demorou umas 3 horas .regressámos à concentração para decidirmos, em conjunto, o que fazer quando vimos as moçoilas chegar, acompanhadas, por 2 alunos de uma outra escola (de quem ainda não tinham dado por falta....tinham ido ver um jardim frondoso que dá bem para namorar.obriguei-as a ficar o resto do tempo agarradas a mim e fiz questão de falar com os pais quando chegámos à escola. olha, tais filhas, tais pais. ainda me perguntaram porque eu estava tão aborrecida por as mocinhas terem ido passear um bocado porque aquilo devia ser uma seca.
...
resultado, para além da irritação e do susto, fiquei com uma crise de alergia, por causa do pó que por ali abundava, com os saltos e pinotes de tanto jovem junto. e...
a minha querida colega de Moral Católica deixou, pura e simplesmente de contar comigo durante + de 5 anos. há 3 anos via-a tão aflita, que lá fui, no meu dia livre, com ela e mais os alunos a Fátima e às grutas (agora não me lembro do nome). Mas já não fui sem fazer uma reunião com os pais e EE dos alunos que me calharam. correu tudo muito bem, com a excepção (rebola aí, que eu rebolo aqui)de eu e mais 6 termos ficádo um bocado fechados no elevador das grutas, a não sei qts m de profundidade...eu que sou claustrofóbica é que fui animada e mimada pelos alunos....ia-me dando uma coisinha má.e o funcionário coitado, só dizia "stora acalme-se que eles estão-me a dizer que vão dar à manivela"...estávamos no elevador mais antigo e que tinha estado parado não sei quanto tempo por avaria e falta de peças.
...agora estou de pousio outra vez.
aNABELA,
só agora releio a nota de teu «calvário» pelo Mosteiro de Alcobaça e camionetas.
Veio-me a memória, sabes que memória é a minha luta, quanto passei no meu primeiro ano lectivo pelo ciclo (então se chamava assim) do Entroncamento. Com filhos de ferroviários e classe pobre a frequentarem-me em História Pátria e Português.
O calão e o palavrão e a bruteza não são só de agora, mas agudizam-se mais nesta hora dramática a viver-nos.
Frequente menina de cigarrinho mandar um «foda-se» bem alto em pleno café de imediações de Escola minha antes Liceu perto do onde vivo.
Medina Carreira dissertou Sábado ( eu nem dormia ) sobre o embuste desta nossa Educação desde o 25 distante do Abril e quiçá desde ainda antes: Formamos ( e mal) incompetentes inaptos não funcionais maralha como carne para canhão, como nós que pelos anos 60 éramos carne para canhão de guerra QUE NÃO FIZ! aGORA O QUE ESPERA ESTE PAÍS DO LOGRO É O MARASMO ou o preservativo em doses maciças por ocasião da vinda do Bento que também aqui não fará milagres. Contentou-me só a tua nota sobre teus Jardineiros de Tagore e o trecho em foto donde sacaste a epígrafe para tua paixão que deu em crucificação!
Beijinhos, Anabela .
Por essas e outras -- toma conselho e não embarques -- deixa-te sonhar com teu Tâmega do teu meu nosso (des)contentamento.
Gostei das notas de «mea culpa» a quando de ida quejanda à Biblioteca Elídio Sardoeira. Andamos aqui, miga, não nos deixemos iludir, que é este o animal feroz, que nos acossa a cada hora.
Valha-me deus, que disse mais do que queria.
kkkka
Publiquei -- de imediato -- como de costume -- tua bela foto da Alcobaça e a íntegra do precedente meu arrazoado em (meu) spaces.live
(
http://angeloochoa.spaces.live.com/
) onde se poderão ler em quase historial muitos mas muitos momentos do nosso feliz convívio virtual e real...)
Beijinhos
Detesto ver-me em situações destas, sem qualquer possibilidade de controlo sobre as trupes, Ângelo e Em@. Foi o que me aconteceu com quase três camionetas de alunos desconhecidos das escolas EB 2/3 de Amarante e de Telões. Safa! Enquanto me lembrar desta, e eu ainda vou tendo alguma memória, não me apanharão a repetir a experiência.
Acompanherei alunos meus e ponto final. E, mesmo assim, às vezes, no momento, perdemos o controlo sobre as feras!
A experiência que aqui relatas, Em@, nunca me aconteceu mas imagino que deva ter sido assustadora.
Bjs para os dois!
Em@ e Ângelo
Não sei para onde foram os vossos preciosos comentários/testemunhos!
Desapareceram sem deixar rasto!
Vá lá que os li antes e respondi! Estou perplexa! Desapareceram mesmo!
:(
Olha! Olha! Magia!
Estou solidário com a tua amargura!
Pobre sociedade que faz da falta de regras, da má educação e do desrespeito sistemático, como norma de ser e estar...
A MLR deve estar muito orgulhosa deste Polvo que criou!
Aguenta Amiga, tu és um Escorpião Valente e ao menos os teus CEF's deram o exemplo. Os meus Parabéns, ser Professor é isto, trabalhar ao Sábado, não ser pago e levar vergonha para casa...
Que vergonha!
SÃO ALUNOS DE 9ºANO,DEVERIAM SABER COMPORTAR-SE!
Ainda falam dos CEF'S que se comportaram que é uma beleza...
Sinceramente,não têm respeito nenhum.. :(
E passeios,é só para o 9ºano,os outros que mereciam,não vão!
Tristeza! :(
Obrigada, Helder! Tu já me conheces de outros carnavais e sabes perfeitamente que eu não passo esponjas, nem assobio para o lado em caso de fracasso.
E eu senti-me fracassada e perfeitamente ultrapassada no sábado. Completamente impotente. Não é um sentimento fácil de digerir para um escorpião... principalmente azul... kakakakaka... vá lá que já consigo gargalhar...
Mas serviu-me de lição. Não voltarei a acompanhar alunos em circunstâncias semelhantes. E ponto final.
Beijocas
É verdade, Laryssa, deveriam. Não te esqueças que não foram todos os alunos que se comportaram assim e para além dos meus jardineiros outros houve que tiveram o comportamente adequado... mas os que se comportaram mal, bem mal, foram em número suficiente para que tenhamos deixado uma imagem de grunhice atrás de nós. Não suporto isto. E não me acredito que vocês, no lugar deles, tivessem deixado tal imagem naquele mosteiro, património mundial da humanidade.
Beijinhos, Laryssa!
Não me contive!
Ao ver tantos comentários, tanta intervenção e solidariedade, e tanto "sofrimento" da sua parte, não me contive e...fui ao Mosteiro para ver se alguém presenciou os factos, o que é que o vigilante tinha para me contar, enfim investigar!
Pavoroso...coisa nunca vista...a responsável que estava de serviço...deu entrada ao fim do dia com um colapso nervoso no Centro de Saúde de Alcobaça e o vigilante...recebeu ordens para passar a usar arma a tiracolo!
Francamente Anabela...conseguiu o que até aí era impensável!
Claro que estou a brincar, e a finalidade é para a ajudar a mandar "às malvas" tudo o que se passou.
Então não se apercebe com o que acontece quando na Páscoa os "nossos meninos" vão em excursão para Benidorm?!....
Saia desse sofrimento...porque a situação não é virgem e...há-de repetir-se.
Pelo que percebo da sua personalidade, não é mulher para entrar e permitir estes EFERREÁS!
Tem de certeza outras tarefas à sua espera...mãos à obra!
A situação não é virgem, há muiiito pior, afinal nenhum aluno se perdeu ou fugiu, não houve mortos nem feridos. É certo, Hélio.
Eu é que não , nem tolero, esta falta de respeito.
E faço a digestão disto escrevendo... já lá está outro... kakakakaka... forte.
No dia em que eu olhar para uma situação destas com indiferença por certo estarei irreconhecível no meu espelho, para onde olho todas as manhãs.
Obrigada pelo apoio.
Beijinho
Olá Ângelo
Fico muito contente por vires aqui a esta minha casa dizeres de tua justiça. Não penses que, ao dizer isto, estou a escrever o que acho conveniente já que estou a escrever apenas aquilo que verdadeiramente penso.
Não encares o "desconhecido" como um insulto ou coisa parecida porque não é. Retrata apenas o facto de eu não vos conhecer, não saber os vossos nomes, a alguns desconhecer até as caras que me não foram familiares porque não sou vossa professora.
Quanto à visita em questão eu só posso falar daquilo que vi e ouvi. Os palavrões que ouvi vinham de perto de mim, e foram de vozes masculinas e femininas. Se os disseram lá atrás eu não os ouvi.
Repara: se tu na minha aula disseres um palavrão e eu ouvir, eu, enquanto tua professora, tenho que te pedir para não o fazeres, porque estás numa escola. O mesmo se estiveres no recreio.
Pelo contrário, se tu disseres o mesmo palavrão e eu não o ouvir garanto-te que não actuo, apenas porque desconheço o sucedido.
É assim. Tão simples quanto isto.
E não afirmes que vocês, alunos do
9º ano, não disseram palavrões no autocarro, porque os disseram. Quando muito podes dizer que não os ouviste, ou porque estavas distraído, ou porque ias a ouvir música.
Quanto às cantorias a que fazes referência, não ouvi cantorias com linguagem obscena. Ouvi cantorias na vinda, já na última parte da viagem, e lembro-me até de me relembrar dos meus passeios escolares, enquanto aluna, em que nós cantávamos a bom cantar.
Ora, durante a ida e a vinda, ouvi sim palavrões, alto e bom som, repetidas vezes pois não foi uma, nem duas, nem três as vezes que me virei para trás e vos pedi para não utilizarem esse tipo de linguagem.
Se alguém fumou dentro do autocarro, coisa que não vi e coisa proibida por lei, o vosso dever era intervir junto do(s) colega(s) ou, em alternativa, avisar-nos desse tipo de comportamento que eu, volto a afirmar, não vi, nem cheirei.
Quanto à tua referência à ida das professores na parte da frente da camioneta eu só posso falar por mim. Sentei-me aí, propositadamente, com o intuito de vos deixar mais à vontade, num passeio que eu previa tranquilo e sem problemas. Afinal vocês são de 9º ano. E eu estava bem longe de adivinhar o que se passou de seguida sendo que tu próprio reconheces que foi errado.
E já pensaste que todos os professores que vos acompanharam prescindiram de um dia com as respectivas famílias para vos levar a um monumento que é património mundial da humanidade, e que o fizeram graciosamente, e para além do seu horário de trabalho?
Gostaria que me respondesses e continues a argumentar, se for o caso.
Vou só fazer-te outro reparo relativamente ao teu comentário, isto porque quando afirmas "Admito que nos comporta mos de maneira má, levanta mo nos e fizemos barulho" estás a faltar à verdade dos factos. Não foram todos. Foram os que foram. E os que foram que assumam as respectivas culpas.
Errar todos erramos. Eu também, a cada passo. e só não erra quem nada faz. Mas temos o dever de a seguir reflectir sobre o que correu mal e de aprender com os erros.
De qualquer modo agradeço-te o comentário corajoso, muito embora com incorrecções.
Aguardo a tua resposta porque acredito que a falar é que as pessoas se entendem.
Aliás já me desloquei a duas turmas, porque soube que estavam "muito zangados" comigo e penso que ficou tudo esclarecido. Pelo menos entendemo-nos no momento.
Faltam-me mais duas. Lá chegarei.
Duplamente contente por estares aqui outra vez. A falar nos entendemos. E já nos entendemos quanto ao "desconhecidos". Estamos pois a fazer progressos no sentido da clarificação de todas as dúvidas que possam existir.
Não fui a única professora com a percepção de que o comportamento dos meus alunos foi exemplar. Repara que eu digo dos meus, dos meus oito que participaram na visita. Ainda ontem ele foi elogiado e garanto-te não foi por mim. Tanto quanto eu vi, os meus alunos não disseram palavrões, não correram, não berraram... e também não deixaram latinhas de sumo atrás de si. Aliás todos eles sabem que eu não permito este tipo de atitude e linguagem. Dentro da sala ou cá fora, eles sabem que eu espero deles um comportamento irrepreensível.
Mas como é que eu sei que eles se portaram globalmente muito bem? Porque saíram comigo de mãos a abanar da camioneta, fizeram o percurso perto de mim, juntei-os na entrada do mosteiro para lhes dar uma explicação breve sobre o mesmo, que eles ouviram em silêncio, entrámos juntos na sala dos reis onde vocês, por certo não todos, já estavam numa barulheira incrível e eles permaneceram junto a mim enquanto eu andava feita barata tonta a pedir-vos moderação no barulho. É claro que só pedi a quem estava a fazer barulho e não sei quantos foram, sei que foram os suficientes para aquilo ficar transformado em tudo menos num local de culto, que exige da nossa parte moderação e silêncio.
Os meus jardineiros permaneceram o tempo quase todo junto de mim. Fácil de os controlar porque só eram oito. Até lhes disse a dada altura, baixinho e a sorrir "Eu pareço a galinha e vocês os meus pintainhos."
Tem atenção porque quando falas dos CEF, mais uma vez estás a generalizar. É que não foi só a minha turma dos CEF ao passeio. Não respondo pelos outros. Digo-te é que os meus oito que foram tiveram, tanto quanto me foi dado observar, e asseguro-te que foi muito, um comportamento exemplar.
É claro que em última instância vos acompanhei a todos. Por isso actuei, como pude e sei, tentando chamar-vos à razão.
Já confessei o meu absoluto fracasso.
Quanto ao fumo não vi ninguém, nem dentro nem fora da camioneta, a fumar. E parece-me depreender das tuas palavras que tu também não porque tu não o afirmas categoricamente.
Disseram-te? Ouviste dizer?
Ah! E desculpa-me! Esqueci-me de te dizer, entre a conversa, que registei o teu comportamento honesto ao assumires o teu contributo nos comportamentos desadequados e inapropriado para uma casa que é de Deus. Podia ter sido num museu, num cinema, num teatro... era exactamente o mesmo. Há locais, pelas suas características, onde nós temos de nos recolher.
Dou-te um exemplo, meu. No sábado não andei aos berros, mesmo quando tentava chamar-vos à razão. Em Outubro vou a Coimbra ao concerto dos U2, que por certo tu conheces. E é certo que cantarei a plenos pulmões letras que eu amo e que berrarei pelo Bono também a plenos pulmões. O que te quero dizer, com estes dois exemplos, é que os dois espaços são espaços diferenciados em que nos são permitidos comportamentos diferenciados. Temos é que os saber reconhecer. Um mosteiro é um mosteiro. Um estádio de futebol é um estádio de futebol.
Aguardo a tua resposta, Ângelo.
E estou a gostar de "falar" contigo.
Fiquei admirado por a "polémica" continuar.
Ângelo está a fazer "render a fruta" por uma questão de protagonismo...que quer concretizar a todo o custo, até quando se lhe dirige por STORA.
Conheço o género!...
Mesmo no espaço bloguista há regras de conduta.
Anabela tenho a certeza que procedeu correctamente.
Ângelo, temos de ser rigorosos não só com o que dizemos mas também com o que escrevemos.
As palavras que vou transcrever são tuas - "Quanto à frase que a Professora transcreveu do meu comentario, nao me referia a todos os alunos referia me aos que se levantaram e fizeram barulho, e reconheço que tambem o fiz."
Agra entras em contradição com o que escreveste.
Quanto ao "disseram-me", tem cuidado. Não acredites em tudo o que te dizem. Acredita no que os teus olhos vêem e, mesmo assim, digo-te para teres cuidado porque nem tudo o que parece é.
Com isto não estou a afirmar que nenhum aluno fumou. Só te posso continuar a afirmar que, tanto quanto eu vi, não.
Quanto aos meus alunos é certo que não andei sempre coladinha a eles e deixei-os "respirar", coitados, que eles também têm esse direito. Acho que ainda não entendeste o que eu te disse. Ao pé de mim eles portaram-se exemplarmente. E estiveram quase sempre ao pé de mim. Mesmo no shopping passaram um bom bocado comigo. É que a minha cultura de centros comerciais é quase nula e pedi-lhes para me levarem a uma casa de gelados que ficava lá em cima, no último piso, lá para os fundinhos de tudo. Ofereci-lhes um gelado, que eles recusaram educadamente, agradecendo... por certo com medo de me levarem à falência...
Aguardo a tua argumentação. Argumentar faz bem. Exercita-nos os neurónios.
Gosto disto,
Ter um blogue como o meu, Hélio, é um risco e só possível porque, tanto quanto é do meu conhecimento, não tenho esqueletos nos meus armários. E as minhas janelas não têm cortinas e são, por isso, transparentes. Amo a transparência. O Hélio, que me lê há um tempo, já deve ter reparado nisso. É claro que procedi bem, tanto quanto me foi possível. Tentei. Tentei mesmo se fiz figura de barata tonta e se os resultados da minha intervenção foram nulos. faria o mesmo, na mesma situação. É minha obrigação tentar até à exaustão.
Não contem comigo é para branquear, seja o que for. Não é assim que vejo a educação.
Não me senti ofendida, Ângelo, Tenho alunos que me tratam por Senhora Professora, assim mesmo com tudo explicadinho, por prefessora, e por stora também. Quando o fazem de forma carinhosa, como frequentemente o fazem, confesso-te que até gosto.
E quando deixam de ser meus alunos, com frequência perdem uma professora para ganharem uma amiga e assim me passam a ver. E eu gosto. Melhor dizendo - Amo.
Vejo nas tuas palavras alguma discriminação, algum preconceito, relativamente aos alunos de CEF?
Olha que não são nem mais nem menos do que vocês alunos de 9º.
Mais uma vez atenção às generalizações. Nós não somos o grupo em que nos movemos e cada um tem a sua identidade e responde pelos seus actos. É cobardia se nos refugiamos no todo, e não assumimos as nossas culpas, quando as temos. Porque, atenção, podemos não as ter.
Só mais uma nota, Ângelo, que deixei escapar.
A afirmação "Nos, 9 ano, sabemos que nos portamos mal, mas os seus 8 alunos com certeza nao se portaram melhor." não está correcta. Estás a presumir coisas que não sabes.
Ateção ao que eu escrevo - Os meus alunos, tanto quanto me foi dado observar, comportaram-se exemplarmente. Sabes o que é que eu considero exemplarmente?
É claro que algures, onde se lê prefessora deverá ler-se professora.
Queria ter escrito assumirmos... algures... num comentário anterior.
Ângelo
Ainda aguardo a tua resposta, principalmente na questão dos pruridos relativamente aos alunos dos CEF. Mas que incómodo, que dor de cotovelo eu senti da parte de alguns alunos, das turmas que já visitei (3 de 9º e já só me falta uma), por eu os ter elogiado. Confesso-me até chocada. Não esperava sentir esta discriminação em gente tão jovem como vós, adolescentes em plena formação.
Como é um tema muito caro para mim, tratá-lo-ei num próximo post.
Entretanto aguardo.
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