Jardins Majorelle - Marrakech - Marrocos
Fotografia de Anabela Matias de MagalhãesNão há Desertos Sem Fim
----------------------- Prova de Vida -----------------------
Já lá vão quase mil e quinhentos dias de trincheira. São quase mil e quinhentos dias a pensar e a viver os problemas da Escola, os problemas da minha classe profissional, a toda a hora, sem descanso nem vontade de descansar. E, confesso-vos, ainda estou longe de estar saturado. Rendido? Nem morto!
Porém, reconheço que esta permanente vigília fez de mim um inadaptado. Viver tão intensamente e tão perenemente as injustiças, as deturpações, as humilhações, as ofensas, as perfídias e os roubos perpetrados tem-me mantido num sofrimento constante, uma dor que alimenta a chama da indignação, do veemente repúdio, do nojo, da… raiva. Por isso sou, hoje, um inadaptado. Entre mim e esta Escola de papel teleguiado há um abismo de quase mil e quinhentos dias, que mais parecem mil e quinhentos anos. Ela já sabe que não me vai engolir, e eu também sei que jamais a engolirei. Sou um corpo estranho. Tenho encontro marcado com o tempo.
No meu dia-a-dia, procuro arreigar-me, com todas as forças que tenho, ao que é estritamente pedagógico (preparar as aulas, ensinar e avaliar) evitando, contornando ou declinando, sempre que possível, a infernal papelada que tudo sujeita, tudo controla, tudo tolhe. Tento manter-me tenazmente abraçado à minha sanidade mental, até que a besta me cuspa. Talvez fosse mais feliz de outro modo (como técnico operacional docente), mas teria de voltar a nascer, e com outros genes.
Infelizmente, olho para o resto da carreira como para um deserto: cada dia mais diferente, mais distante, mais só, sem oásis no pensamento, seguindo pacientemente o meu caminho, ciente de que não há desertos sem fim. Mas, contrariamente a esta sombra de Escola, jamais serei sombra de mim.
Luís Costa
1 comentário:
Peço-te desculpa, Luís, o blogger está, por certo, tolo... não consigo linkar para o teu blogue.
:(
Enviar um comentário