África Acima
"Como era de esperar, as minhas previsões africanas falharam... infalivelmente. De pouco serviram os quinze anos de experiência prática a viajar pelo resto do mundo. De pouco serviu a América Central, o Afeganistão, o planalto andino, as ilhas mais recônditas da Indonésia. A África não se prevê, vive-se. Vai-se lá. (...)
Felizmente a atitude pouco acolhedora, se não mesmo hostil, do aparelho consular africano nunca teve equivalente no terreno. Eu imaginava que iria inúmeras vezes passar por situações vexatórias e delicadas por causa da cor da minha pele. Preparava-me para sofrer pequenas vinganças retroactivas de um inteiro continente sobre um representante da antiga raça colonizadora. Uma espécie de racismo quotidiano a acompanhar a minha progressão por África acima.
Enganei-me. As populações africanas dos vários países que atravessei foram sempre generosas, hospitaleiras e fraternas comigo. Foi esta a mais importante lição, e hoje recordação, da minha viagem. Que surpresa, meu caro viajante tão experiente: encontrar o melhor da Humanidade no lugar onde essa mesma Humanidade apareceu. Mais uma vez as minhas previsões tinham falhado infalivelmente.
"Como era de esperar, as minhas previsões africanas falharam... infalivelmente. De pouco serviram os quinze anos de experiência prática a viajar pelo resto do mundo. De pouco serviu a América Central, o Afeganistão, o planalto andino, as ilhas mais recônditas da Indonésia. A África não se prevê, vive-se. Vai-se lá. (...)
Felizmente a atitude pouco acolhedora, se não mesmo hostil, do aparelho consular africano nunca teve equivalente no terreno. Eu imaginava que iria inúmeras vezes passar por situações vexatórias e delicadas por causa da cor da minha pele. Preparava-me para sofrer pequenas vinganças retroactivas de um inteiro continente sobre um representante da antiga raça colonizadora. Uma espécie de racismo quotidiano a acompanhar a minha progressão por África acima.
Enganei-me. As populações africanas dos vários países que atravessei foram sempre generosas, hospitaleiras e fraternas comigo. Foi esta a mais importante lição, e hoje recordação, da minha viagem. Que surpresa, meu caro viajante tão experiente: encontrar o melhor da Humanidade no lugar onde essa mesma Humanidade apareceu. Mais uma vez as minhas previsões tinham falhado infalivelmente.
Gonçalo Cadilhe
A minha experiência de África é diminuta. Resume-se a Marrocos, ao Sahara Ocidental, à Líbia, à Tunísia, à Mauritânia, a Cabo Verde. No próximo Agosto será a vez de visitar Madagáscar e no ano seguinte os meus projectos contemplam a Namíbia. Depois não sei. Só sei que de todos os continentes onde os meus pés e as minhas mãos já tocaram (e só me falta tocar a Oceânia) nenhum outro exerce sobre mim a magia que exerce o continente africano, nenhum outro exerce sobre mim a atracção que exerce o continente africano. É o das paisagens extremas, dos grandes horizontes, do céu incomparável, dos cheiros e das cores espampanantes, da simpatia das suas gentes hospitaleiras e acolhedoras, dos sorrisos abertos e francos. Infelizmente também o da pobreza extrema, das doenças, dos conflitos.
Mas, de todas as surpresas do continente africano, a mais surpreendente é de facto o acolhimento que as suas gentes reservam aos brancos privilegiados que por aí se aventuram.
Gostei muito de ler esta passagem do livro "África Acima", de Gonçalo Cadilhe, que dá testemunho deste acolhimento caloroso e comovente e por isso a transcrevi para este blogue.
Não sei se tem a ver com o facto de sermos oriundos de lá, não sei se isso ficou registado algures nos nossos génes... só sei que
África é "Home".
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