quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Dia Mundial da Poupança e Consumismo


Talho - Dakla - Sahara Ocidental
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Dia Mundial da Poupança e Consumismo

Pelos vistos hoje é o Dia Mundial da Poupança e eu quase o deixava passar em branco. E é importante reflectir um pouco sobre ele. E também é importante reflectir sobre a nossa conduta e sobre nós próprios que tivemos a sorte de ter nascido nesta parte do mundo que, tendo direito a protecção social, não deveria prescindir do direito e do dever da poupança. Países como a Mauritânia ou o Mali, que são dos países mais pobres do mundo, habitados por pessoas que só podem olhar para isto de Segurança Social como uma miragem, uma utopia, não prescindem de fazer, quantas vezes com que dificuldades, parcas poupanças. Não parece ser o que se passa neste lado privilegiado do mundo, onde as pessoas deveriam estar alertadas para a importância da poupança, para a importância da almofada que nos amortizará a queda no caso dela ser inevitável, para além da almofadita que nos fornece a Segurança Social em abonos, subsídios de férias, décimos terceiros meses, reformas, subsídios de desemprego, subsídios de inserção social, etc, etc. Mas, pelo contrário, o que se verifica é uma espécie de fuga para a frente. Os portugueses já foram mais pobres e já pouparam mais. Hoje vivem muito melhor e poupam menos, fruto de um consumo desenfreado em que a necessidade de comprar está bem patente num país salpicado de catedrais de consumo de Norte a Sul, salpicado de habitações que espelham um novo riquismo que até dói e construídas "ao lado" de centros urbanos decadentes, abandonados, moribundos. (Que espécie de povo é esta que não cuida e despreza o que as gerações passadas lhes legaram em herança?)
Poupança, ou melhor a sua ausência, liga-se pois intimamente a consumismo, consumismo que deveria ser disciplinado e é, muitas vezes, desenfreado e até doentio. Já observei tantos e tantos casos destes...famílias com seis, sete e oito televisões em casa, jovens com dois telemóveis e os pais a receberem rendimentos mínimos e não sei mais o quê, frigoríficos enormes a abarrotar de porcarias e crianças obesas em casa, carros xpto e dívidas que não se conseguem liquidar, armários repletos de produtos de limpeza variados para os mesmos fins, casas monstruosas de grandes e de espalhafatosas e que são sorvedouros de dinheiro, são situações incompreensíveis para mim.
Confesso que com a idade tenho reflectido bastante sobre esta problemática e de cada vez que viajo para um país menos desenvolvido economicamente dou comigo a comparar atitudes, consumos, valores e muitas vezes chego à conclusão que o meu mundo sai claramente perdedor em tudo isto.
O meu mundo nunca viveu tão bem. Mas o meu mundo está indisciplinado, irritado, malcriado, insatisfeito, desregrado, obeso e velho.
Será que vamos morrer de abundância, na abundância?

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