sábado, 11 de julho de 2009
Memórias Amarantinas - Tâmega
Tâmega - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Memórias Amarantinas - Tâmega
Já falei do Tâmega, por diversas vezes, neste blogue.
Pela importância do nevoeiro a ele associado. Pelas cheias, ora mansas, ora violentas. Pela beleza das suas margens. Pelos problemas de poluição que enfrenta na actualidade.
A intervenção da Zinha, lá atrás nos comentários, focalizou a minha atenção, mais uma vez, no Tâmega, e nas minhas memórias a ele associadas.
Nascer em S. Gonçalo, no início dos anos sessenta, implicou quase nascer neste afluente do Douro que corta a minha cidade em duas metades distintas. Implicou aprender a nadar na água escura do rio entre cobras velozes a roçarem o meu corpo. Implicou chegar ao Penedinho... primeira etapa vencida no meu relacionamento com o Tâmega! E chegar ao Penedo Grande atingindo a maturidade fluvial!!! Implicou atravessar o rio, a nado, parar na outra margem, entre a vegetação, enterrar os meus pés nus no lodo macio, olhar à minha volta e ver os cágados e as lontras espraiando-se no rio. Implicou andar nas guigas do Tâmega, remando ora a favor, ora contra a corrente, saltar e mergulhar do pontilhão para a água verde do rio e lanchar, obrigada, com a pele dos dedos encarquilhada, branca e "cozida" pelo excesso de permanência na água, deliciosos pêssegos carecas apanhados nos quintais dos meus avós. Implicou atravessar os açudes, em equilíbrios perigosos, saltando de pedra em pedra, apanhar girinos, com as mãos em concha, para dentro de sacos plásticos transparentes, "caçar" rãs e aprisioná-las dentro de baldes de plástico e ficar a ouvi-las coaxar, numa sinfonia maravilhosa. Implicou viajar até Frariz, conhecendo o leito do rio e as pedras que se atravessavam no caminho e tomar um merecido banho no areal desta praia. Implicou assistir aos salvamentos do Quinzinho da Cerca, de quase afogados, numa repetição quase anual de generosidade e de entrega da sua parte. Implicou esticar-me no sol quente do areal, comer gelados do Mário nos Poços... e... saudades, saudades de um tempo e de um Tâmega que infelizmente não são os de hoje.
Estas memórias de infância são minhas. Mas também são as de muitos da minha geração.
Hoje partilho-as.
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12 comentários:
Pois é Anabela, ver entardecer em Frariz, o Sol a escoar-se por entre o Penedo da Rainha e os pinheiros, descansar nos tufos de juncos quando as forças já faltavam. Mergulhar de olhos abertos e ver os peixes...
percorrer a Ínsua de lés a lés sem medo, conhecer todos os penedos pelo nome...que felizes fomos...
Eu curiosamente, lembro-me dos lanches de "pêras joaquinas" deliciosas lavadas no rio. E lembro e me deixar ficar a boiar e a comtemplar o céu, sem tempo marcado.... o quotidiano era tão singelo e tão saboroso.
gostava tanto de não ter de falar nisto à minha filha, como algo que ela não vai ter oportunidade de saborear...
bjtos
Foi uma infância feliz e descontraida a que tivemos nas margens e dentro deste rio.
Tenho saudades.
Ainda pude levar a minha filha, bem pequenita, para o Tâmega... mas depois começou a ficar muito poluído e desisti. :(
Não partilho dessas memórias, mas usufruo de um belo texto! :)
Obrigada, Dudú.
E conheces o Tâmega? Daqui... ou de Chaves... talvez?
Obrigado Anabela!
As tuas memórias emocionaram-me, porque nós fomos os últimos felizardos a usufruir dos prazeres simples mas belos deste Rio!
Os nossos filhos já não o poderão fazer e isso devia fazer reflectir muita gente responsável!
Fomos os últimos, é certo, Helder.
Talvez lá mais para a frente volte a ser possível este Tâmega fresco e apetecível... quem sabe!
E fico contente por te teres emocionado! :):):)
Partilhamos muitas memórias comuns aqui do nosso umbigo, não é assim?
Os Amarantinos sentem, de facto, um amor muito especial por este bocado de terra e de rio...
Bj
Já estive em Amarante, há uns anos, mais do que uma vez, e olhei para o Tâmega, sim.
Gostei muito da paisagem que vi, pena o que está a acontecer...
Será que já nos cruzámos, fisicamente falando, Dudú?
Às tantas!!!!
Citando Pascoaes "sem esta funda terra e fundo rio, eu não era o que sou"
bjtos
zinha
Não éramos! De facto! O homem é as suas circunstâncias.
Quem disse uma coisa semelhante?
agradeço a você meu querido amigo .. .. pourtugaise Ana Bella
it's me tenho que agradecer-lhe para mostrar uma parte de Portugal.
J 'gosta e Amarante payesages como Tâmega e também o pequeno museu.
Sahel, Sahel!!! Tu és lixado, moço!
Agora surpreendes-me em português?!
Pois, eu sei que tu também amas este rio que te apresentei durante as tuas férias inesquecíveis cá por casa. tenho saudades das dunas de tua casa, Sahel! E sei que tu tens saudades do meu rio!
Um dia destes temos de resolver isto!
Agora amanha-te com este português, Sahelzinho! Kakakakaka
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