quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Retenções de Ano e (Condicionamento de) Verbas para Investimento em Educação


Retenções de Ano e (Condicionamento de) Verbas para Investimento em Educação

O post que se segue foi inicialmente escrito para o ComRegras.

Clara Viana dá-nos conta, hoje, no Público, do diagnóstico feito pela Comissão Europeia no Monitor da Educação e Formação 2016, divulgado ontem e que vos convido a ler.
Mas, entretanto, partilho com vocês duas ou três ideias motivadas pela notícia e pelo diagnóstico agora divulgado.
Parece que já fizemos muito trabalho em termos de redução de retenções... ou de redução de chumbos... isto para utilizar a terminologia em voga aquando da minha passagem pela escola enquanto aluna. Mas também parece, temos até a certeza, que esse percurso não nos levou a bom porto, tem-se revelado não suficiente, os seus resultados afastam-nos ainda das médias europeias, não chega, que teremos de fazer mais e melhor num futuro que já está aí.
A pressão para que o número de retenções se reduza de qualquer maneira é enormesca e essa pressão é feita de forma mais ou menos subtil, muitas vezes pública - o Conselho Nacional de Educação é disso exemplo com o amiúde martelar nos nossos ouvidos dos custos das retenções - segundo os seus cálculos 250 milhões por ano é quanto estas nos custam ao país de tanga - mas as pressões não se ficam por aqui e continuam dentro das escolas, por vezes igualmente subtis, por vezes completamente descaradas e vou dar apenas um simples exemplo que eu própria já vivenciei - um professor atribui uma negativa e é obrigado a elaborar um relatório, atribui vinte negativas e é obrigado a elaborar vinte relatórios... e se pensarmos que há por aí professores com dez, quinze turmas e até mais... bom... é só fazer as contas a quantos alunos pode ter de avaliar um professor... duzentos... trezentos... até mais... e quantos relatórios, só para isto, terão de ser produzidos!
Seria bom que esta taxa de retenção se reduzisse de facto e que a sua redução não se verificasse à custa de malabarismos e artimanhas várias, mais ou menos criativas. Parece-me que o sistema de tutorias e de apoios implementado este ano poderá dar uma ajuda, o alargamento do pré-escolar poderá dar outra boa ajuda, absolutamente determinante deverá ser a redução, que ainda aguardamos, do número de alunos por turma e, acrescentaria eu, o fim da junção de alunos a frequentarem dois ou mais anos lectivos distintos, numa mesma sala, atribuídos a um mesmo professor também seria indispensável. Importante também seria o emagrecimento, feito com pés, cabeça tronco e membros, dos programas/metas, chamem-lhes o que quiserem! escolares para os diferentes anos e diferentes disciplinas que, tanto quanto sabemos, está a ser feito, o emagrecimento... esperemos que não às três pancadas. E depois precisávamos de políticos asseados em todos os ministérios, no das finanças, no da economia, no da cultura, no da educação, no da saúde... que fomentassem um país asseado, que cuidasse da sua gente, que não contribuíssem, alguns vigorosamente, para o aprofundamento do fosso entre os muito ricos e os muito pobres, que não fosse possível um aluno chegar à escola com fome, com frio, com falta de cuidados médicos, com falta de estímulos à aprendizagem feitos no tempo correcto... e por aí adiante que a desgraceira provocada neste país, nos últimos anos, foi quase total para demasiados, espoliados dos seus trabalhos, dos seus rendimentos... e tudo para salvar indecorosos bancos.
E tudo isto liga-se à ainda altíssima taxa de abandono precoce existente neste país que, muito embora já tenha descido, o que é revelador do muito que já foi sendo feito ao longo do tempo, era de 30,9% em 2009, situou-se nos 13,7% em 2015, só nos pode deixar a pensar que se as condições sócio-económicas das famílias não se tivessem agravado poderíamos agora apresentar uma percentagem que não nos envergonhasse tanto. De realçar que há dados diferenciados por sexo e que as mulheres levam claramente a melhor na taxa de abandono precoce que se situa nos 11% contra 16,4% para os elementos do sexo masculino.
Em 2020, esta taxa terá de se situar nos 10%. É suficiente?
Claramente, não! Idealmente deveria ser de 0% ou muito próximo deste valor residual. Vá lá que há uma boa notícia neste relatório - estamos bastante melhor na integração dos imigrantes nos vários sistemas de ensino relativamente à média europeia o que só nos pode deixar orgulhosos do trabalho feito.
Por último, a ser verdade o que está implícito no título da notícia, que só haverá fundos para reformar a educação se os chumbos diminuírem... só me lembro de associar isto a uma imagem muito utilizada pela sabedoria popular através da expressão, lapidar, do pôr a carroça à frente dos bois. Quando deveria acontecer o contrário.

Verbas para reformar educação só chegam se os chumbos diminuírem





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