terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Recuperação Urbana - Retoma Amarantina

Recuperação Urbana - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Recuperação Urbana - Retoma Amarantina

Já escrevi inúmeras vezes neste blogue sobre o abandono a que foi votado o centro histórico de Amarante com o esvaziamento de casas atrás de casas, todas habitadas na minha infância. Os prédios urbanos do casco antigo amarantino enfermam do mesmo mal de outros prédios situados noutros centros históricos espalhados pelo país - os prédios são em altura, sempre sem elevador, frequentemente de frentes exíguas para as ruas, quase sempre sem garagens e tudo isto dificulta a vida que se quer moderna, de comodidades já enraizadas de que as pessoas parecem não querer prescindir.
Daí o termos uma cidade esvaziada de vida a pulsar dentro das paredes, de pedra ou de tabique, feita de prédios ao abandono, alguns em ruínas, alguns a constituírem mesmo um perigo para quem passa... só daremos conta quando houver um desastre? Um telhado que parcialmente desaba, um incêndio incontrolável que se propaga aos prédios vizinhos? Como de resto já aconteceu?
Mas a verdade é que habitar o centro histórico de Amarante trás vantagens incontáveis ao dia-a-dia de quem por cá habita e eu falo com conhecimento de causa - as pessoas que partilham esta opção e por aqui ainda se mantêm ou que para aqui retornaram, como é o meu caso, não têm necessidade de pegar em automóvel para as deslocações dentro da cidade para fazerem uma ou outra compra, para as idas ao café/escritório, para a deslocação para o local de trabalho, caso trabalhem por aqui, têm acesso pronto e rápido às escolas, do pré-escolar ao secundário, a clínicas com médicos e enfermeiros, a farmácias, usufruem de acesso gratuito à Internet de muitos pontos da cidade, as casas do centro histórico acumulam ainda, o mais das vezes, logradouros que possibilitam o trabalho num jardim, numa horta, num pátio interior, trabalho sempre bom para a manutenção da sanidade mental e, amiúde, as pessoas que as habitam usufruem de vistas desafogadas e privilegiadíssimas sobre o rio... o que não é coisa pouca! e, por último, a cereja no cimo do bolo num país intervencionado pela TROIKA e que constitui uma boa ajuda aos orçamentos familiares nos dias que correm - isenção de pagamento de IMI na totalidade dos prédios de algumas ruas deste centro histórico. 
Estas são algumas das vantagens que, assim de repente, me vêm à ideia e que, colocadas num dos pratos da balança podem fazer pender os casais mais jovens, ou menos jovens, para a tomada desta importante decisão na hora de decidir o local da fazedura do ninho.
Adepta desta opção, eu tomei-a logo que pude e agarrei-a pelos cornos, propagandeio as suas vantagens aos quatro ventos sem contudo conseguir ter muito êxito entre amigos e familiares que, o mais das vezes, montaram mesmo arraiais na periferia da cidade.
Por isso, pelo que genuinamente penso, tão genuinamente que passei da palavra ao acto, é sempre com especial agrado e satisfação que recebo notícias de mais um prédio em obras no centro histórico do meu burgo, principalmente se essas recuperações se destinarem a habitação.
Amarante centro precisa de povo que acenda candeeiros dentro das habitações, precisa de povo a caminhar pelas ruas dando-lhe a vida que, por agora, Amarante só conhece nos meses de férias onde esborda a bom esbordar de visitantes e forasteiros que chegam dos exteriores e circulam, arruando, pelas principais artérias da cidade e enchem as esplanadas, muitas, existentes nas duas margens do rio. Depois... é o vazio. E não pode ser assim, não tem que ser assim.
Espero que estas obras que fotografei mesmo por cima da Confeitaria da Ponte contribuam para alterar e contrariar este esvaziamento de gentes... e as obras do prédio da antiga papelaria do sr. Osório... e as obras do prédio da antiga Padaria Aires, posteriormente Celeste... e o mais que se possa fazer por esta cidade tão bela que precisa, urgentemente, de ser ajudada também por cada um de nós.
Vamos a isso?

Nota  - De referir que já há muito trabalho feito quer por particulares, quer pela autarquia e até pela própria igreja... mas há muiiiiiiito mais a fazer e todos temos responsabilidades nesta regeneração do legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados e que precisa de ser devidamente respeitado. Coisa que ainda não acontece no presente, do meu ponto de vista, claro está.

O post acima transcrito foi escrito em 2013 mas hoje, propositadamente, relembro-o e recupero-o.
Porque a retoma amarantina de que falo não é de hoje e vem antes de ontem, dia em que timidamente despontou, fazendo sair Amarante da letargia. Nitidamente 2013 foi um ano de viragem, tão de viragem que registei o facto neste meu blogue. Hoje, depois de anos de estagnação, notórios num centro histórico em grande parte ainda abandonado, velho e arruinado, eis que se percorre o burgo antigo, o único que vale a pena percorrer com as suas ruas e quelhas sinuosas e não fáceis, e o que se vê? Obras e mais obras a decorrerem, a terminarem, a iniciarem, prédios inteiros em vias de se transformarem em preciosos estaleiros que contribuirão, no final, para uma Amarante preciosa, limpa, arrumada e asseada.
Estamos na fase mais complicada, aquela em que os prédios legados pelos nossos antepassados terão de ter obras de vulto a exigirem algum/muito esforço financeiro com uma certeza - passada esta fase virá uma outra bem mais fácil, feita de um retoque aqui, de uma manutenção acolá.
Vamos, então, a isso!

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