domingo, 6 de novembro de 2016

Os Portefólios de História, a Criatividade, os TPC



Portefólios de História - E.B. 2/3 de Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Os Portefólios de História, a Criatividade, os TPC

Os portefólios de História são construídos por cada um dos meus alunos segundo um guião, que pode ser consultado se clicarem aqui, guião este que pode, e até deve!, ser alterado e ajustado à medida do seu fabricador, à medida de cada aluno e eu tenho sempre o cuidado de avisar os alunos de 7º ano, que pela primeira vez me vêm parar à sala de aula, sobre aquilo que pretendo - e eu pretendo trabalho, por vezes "padronizado", por vezes tudo menos padronizado, é conforme, porque tudo tem o seu lugar e pode coexistir em perfeita harmonia.
Um portefólio deve ter uma pessoa dentro e, se a tiver, será absolutamente original, único e irrepetível, reflexo da individualidade de cada um e são exactamente estas características que o diferenciam de um mero caderno diário onde todos passam os sumários, todos fazem os exercícios de aula no caso de serem escritos durante as aulas, todos fazem os TPC, todos fazem as correcções dos testes... não estimulando, o caderno diário, a tal da criatividade que a escola deve cuidar.
Já os portefólios são espaços físicos também de liberdade mas que ajudam os alunos a organizarem-se pois cada separador funciona como uma gaveta no nosso armário de roupa, onde guardamos as camisolas em gavetas diferentes das gavetas onde arrumamos as cuecas. Sim, claro, podemos ter tudo ao molho e fé em deus e não morreremos por isso mas criar hábitos de arrumação e de ordenação ajuda a arrumar outras coisas ao longo da vida que vão precisar de ser arrumadas, organizadas, separadas e parece-me que, sem stresses, a Escola tem aqui um papel a desempenhar e os Professores podem, e devem!, ajudar a fomentar e estimular a organização, o asseio e o brio dos/aos seus alunos.
Sim, eu sei, há casos em que isto não funciona de todo mas também sei que muitos outros há em que os alunos levam a coisa seriamente e apresentam portefólios com trabalho constante, com reflexões sobre si próprios e sobre o que pretendem, até com trabalho não solicitado absolutamente extraordinário e que me deixam, amiúde, se sorriso rasgado de orelha a orelha.
Um dia não muito distante, dentro da Sala de Aula de História, ao leccionar a arte do Paleolítico, nomeadamente a pintura, falei-lhes de duas diferentes técnicas, que nos vêm desses tempos remotos, para pintar as mãos em positivo e em negativo... mãos dos nossos antepassados que chegaram até aos dias de hoje, até nós, que mais não somos do que os descendentes desses Homo sapiens sapiens que, pela primeira vez na história da humanidade, inventaram a arte. Emocionante poder olhar para elas.
Presumo que um dia, algures no futuro, estas mãos que hoje partilho pintadas em negativo e em positivo, que pertencem a alguém que agora se senta na minha sala de aulas, também serão olhadas com emoção... porque se transformarão em mãos adultas e firmas para depois declinarem, devagar, até chegarem a uma idade avançada... espero.
Se eu mandei os meus alunos fazerem este TPC? Não, não mandei. Mas houve quem o fizesse apenas porque lhe apeteceu. Leccionar é também provocar. E, tenho a certeza, quem fez este exercício, jamais trocará o que é uma mão representada em positivo pelo que é uma mão representada em negativo.
Partilho um exemplo. Pequenino, insignificante, mas que é ilustrativo da complexidade do desempenho da minha profissão, que envolve muito trabalho não medível, não quantificável, por vezes até oculto e que se prende com a Humanidade e que se prende com as Humanidades.

Nota - Com os meus agradecimentos à L... e às suas mãos.

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