sábado, 10 de março de 2012

A Palavra a Luís Costa - Quadro Desolador

A Palavra a Luís Costa - Quadro Desolador

O texto que a seguir transcrevo não é da minha autoria mas até poderia ser se atendermos ao assunto tratado. Ao que vou sabendo, e pelo que me é dado observar, as escolas estão lugares estranhos com os quais eu não me identifico de todo. Sendo uma mulher e uma profissional que procura manter a coerência entre as palavras por mim ditas e os actos por mim praticados, que procura manter a coerência entre as palavras ditas e as palavras escritas, a coerência entre o que é dito aqui e o que é dito ali, olho com verdadeiro espanto para o que vai acontecendo, por vezes, ao meu lado, por vezes mesmo à minha frente. E quando as pessoas ocupam cargos de maior relevo ainda mais estupefacta me deixam pela falta de coerência, pela verdadeira lata e impunidade das afirmações ditas em determinados contextos jamais vertidas no papel, jamais mantidas noutros contextos. E todos acabamos por pactuar com isto e isto é um país de faz de conta, uma escola de faz de conta, onde nem sempre a bota condiz com a perdigota e devia condizer sempre e onde não devia haver porcaria escondida debaixo dos tapetes, mas há. Para meu desgosto, para meu enorme desgosto, há. E não é pouca.
É claro que o ME, MEC ou lá o que lhe quiserem chamar, deu uma ajuda extraordinária à degradação. Desde MLR que não temos parança e a capacidade de sobrevivência de uns manifesta-se pelos mais abjectos modos. Já o observei, oh se o observei... se observei... continuo a observar... e a registar na minha memória.
Entretanto, continuamos a caminhar em direcção ao futuro... o futuro julgar-nos-á a todos.
Alguns parecem esquecer-se disso.

Quadro Desolador

"O ensino passou a um estado de reforma permanente, compulsiva e viciosa. Uns fazem questão de acompanhar todos os ditames da moda pedagógica, seja ela de outono-inverno, seja de primavera-verão (não ganham para papel); outros já deixaram de acompanhar tantas mudanças (à espera que este temporal, um dia, acabe; ou à espera da sua própria reforma); outros estão num tal estado de ansiedade, que já nem aplicam a lei que chega, pois sabem muito bem que a próxima está para chegar; outros ainda… já andam completamente à deriva, ao sabor das ondas, de ventos e marés. É um quadro desolador!
Não sei se já deixei de acreditar nos professores e não tenho consciência disso, ou se apenas estou no bom caminho descendente para que isso venha a acontecer rapidamente. Não se trata dos professores enquanto administradores de conhecimentos, enquanto cumpridores do seu serviço docente e não-docente. Trata-se de uma descrença relativamente à coerência dos professores, à sua firmeza de caráter, à sua verticalidade, à sua intransigência em questões éticas, ao saberem assumir-se como referências de atitudes e valores, sobretudo neste tempo em que tantos e tantos jovens também andam completamente à deriva na vida, na família e na escola. Enfim, trata-se de uma profunda descrença relativamente à autoridade intrínseca dos professores, aquela que nenhuma lei pode instituir nem destituir. Os alunos são barcos no mar, na tempestade, no nevoeiro ou na noite, e muitos professores são faróis deambulantes, frouxos ou apagados. É um quadro desolador!
Fico possesso (às vezes apetece-me mesmo esbofetear) quando os professores dizem A aqui e dizem B ali; quando juram A aqui e fazem B ali; quando chegam arrasados, desesperados, desmoralizados aqui, por causa dos… (e agora imaginem um chorrilho de maus atributos a verter sobre os alunos), e ali já se mostram primaveris, compreensivíssimos, tolerantíssimos, permissivíssimos, íssimos, íssimos... deixando perfeitamente isolados aqueles que se sabem manter no seu lugar (que passam, implicitamente, ao papel de réus); quando os professores não são verdadeiros faróis, mas outra coisa que não vou nomear. É um quadro desolador!
Não me admira nada que os alunos andem à deriva!"

2 comentários:

gabrielvboas disse...

A exigência é grande, é enorme, mas não pode ser de outra forma. Cabe ao professor saber o que quer ser. Ser professor deve ser um honra, uma oportunidade única de tornar a sua vida e a dos outros uma coisa extraordinária.
Qualquer coisa menos do que isto é um falhanço pessoal e profissional. E dos falhados e desistentes nunca rezou a História.

Anabela Magalhães disse...

Não pode poder ser de outra forma.
Seremos recordados pelo que somos hoje. Ficaremos na memória dos nossos alunos pelas boas... ou pelas más razões... ou, em alternativa, não seremos recordados de todo porque nos esfumaremos sendo reduzidos a nadas... que horror!

 
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