quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Amadeo de Souza-Cardoso - Centenário da Morte


Amadeo de Souza-Cardoso - Centenário da Morte

14 de Novembro de 1887 - 25 de Outubro de 1918

Há 100 anos morria o génio indomável.
Hoje, faço questão de voltar a um texto antigo, partilhado aqui, nesta casa que é minha. Foi escrito em dia de aniversário. Confesso, gosto mais de o lembrar no dia do seu nascimento...

Aconselho a leitura atenta das suas palavras. Já agora, leiam também as minhas.

Quanto mais dele conheço mais o amo. Amo o seu olhar profundo e penetrante, as costas direitas com coluna vertical a condizer, o seu peito lançado para a frente, sem medos; amo a sua rebeldia, o seu pioneirismo, o seu arrojo, a sua determinação, a sua elevação da mediocridade geral, a sua procura de caminhos outros, de percursos novos, o seu querer fazer diferente, a sua necessidade imperiosa de afirmação. Amo este ser original, único, irrepetível, genial.
Por acaso, ou talvez não, escorpião dos sete costados. Por acaso, ou talvez não, nascido numa terra especial que já deu tanto ao país e que se chama Amarante.
Continuaremos a honrá-lo. E a amá-lo. Ontem. Hoje. Amanhã.
Pela sua criatividade sem freio nem garrote, pela sua modernidade e arrojo, pela sua coragem e determinação, pela qualidade excepcional de todo o seu trabalho... Amadeo é Amadeo, acima da pequenez portuguesa que, há exactamente cem anos, ficou bem patente no escândalo causado pela sua exposição "Abstracções", realizada em Lisboa, onde expôs cento e catorze pinturas.
Em 1916, Amadeo de Souza-Cardoso era um vanguardista incompreendido pela maioria dos portugueses que tiveram a oportunidade, e o privilégio digo eu!, de pôr os seus pobres cegos olhos sobre a sua excepcional pintura. Em 1916, Amadeo de Souza-Cardoso estava certo. Hoje, passados cem anos, continua certo e isso é de génio.
Por aqui, continuaremos a honrá-lo. E a amá-lo. Ontem. Hoje. Amanhã.
Hoje, cito-o:

" Agora a minha idade é outra - resolver problemas e marchar, subir em cultura física, e espiritual e artística ao mais alto degrau, aproveitar desta vida o mais possível, pois que tudo é passageiro, e o céu outrora prometido já não seduz os homens modernos. Em arte estamos em absoluto desacordo. De resto estou-o também com os amigos compatriotas que marcham numa rotina atrasada. Arte é bem outra coisa que quase toda a gente pensa, é bem mais que muita gente julga. Tudo quanto por aqui se faz é medíocre aparte várias coisas. Porque se eu não gosto de Rodin ou Ticiano, todos me dizem que sigo um mau caminho. E porquê? Se cada um se fiasse no caminho que nos aconselham nada de mais se fazia, pois que eles, os outros, só sabem indicar-nos as suas próprias pisadas. Há gente que chama ao meu estado uma pretensão para sair do vulgar - que pensem o que queiram, indiferente me é - eu tenho as minhas razões e bastam. Eu sei o que agrada em geral - eu na generalidade desagrado. Até certo ponto não é menos lisonjeiro."

Amadeo de Souza-Cardoso





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