quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Carta ao Menino Jesus

Igreja de S. Gonçalo - Antes e Depois - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Carta ao Menino Jesus

Menino Jesus, durante este ano que agora está prestes a findar portei-me bastante bem.
Trabalhei como uma mula na escolinha, lutei como uma leoa para que o governo do meu país não me continue a roubar escandalosamente todos os dias da minha vida e estive atenta para não engolir engodos... que não engoli... tanto quanto sei.
Este ano peço-te somente uma coisita de caca mas que para mim é muito importante. Verdade, tu bem sabes que de entre todos os estilos artísticos que conheço, se me deres a escolher entre um minimalismo e um barroco, à partida, escolho o minimalismo.
Mas que diacho, e olha-me esta ironia... eu que considero toda a filosofia estética que suporta o Barroco uma bacoquice e que, bem o sei, se cá viesses a esta terra, agora quase a fazer dois mil anos depois de nos teres deixado, espatifavas estes templos que alguns, abusivamente, erigiram em teu nome... mas que diacho, estou eu para aqui a pensar em voz alta... e olha-me a ironia de eu estar a defender um estilo que me arrepia a alma de tão afastado que está dos teus ensinamentos e que verdadeiramente está nos antípodas de ti... mas... mas... está lá, a obra de arte está lá, forma um conjunto, consigo distinguir-lhe a harmonia, o equilíbrio dentro do excesso, a serenidade que me chega da patine dada por todo um tempo que já passou... quer-se dizer, conseguia! Conseguia porque agora não consigo mais à conta de uns estuporados móveis que caíram para lá aos trambolhões... e sim, já percebeste que estou a falar da Igreja de S. Gonçalo, em Amarante, da igreja e dos seus três mamarrachos, brancos como a cal.
Mas a conversa já vai longa e ainda não formulei o meu pedido.
Este Natal não quero bens materiais. Na verdade, o mundo já tem poluição que chegue. Desejo apenas que faças desaparecer, como num passe de mágica, os três mamarrachos da igreja. Em alternativa, chama uma camioneta e manda-os para a reciclagem, sim?
Ah! E sem querer abusar, restitui à Igreja o altar antigo... certo?

2 comentários:

Sei Lá disse...

Linda Carta ao Menino Jesus. O pedido é consentâneo com a "mensagem de Jesus" e o alerta para que volte tudo à normalidade, que é dizer, repor tudo como estava, não vá o diabo tecê-las e o verdadeiro altar, uma obra de arte, "desaparecer" algures.

Pedro Magalhães disse...

Bela carta sem dúvida...esperem que o menino Jesus...atenfa as suas preces...q qu também são minhas e de muitos amarantinos concerteza... um bem haja... cumprimentos

 
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