Memórias Amaratinas - Costa Carvalho
Há muitas Amarantes e outras tantas maneiras de amar a terra natal.
A minha Amarante é, e não é, esta: a dos rumorosos açudes; a do espumoso e ronceiro espadelar dos moinhos; a dos morleiros xotando garranos cambados ao peso dos sacos de farinha; a das cheias com medonhos vómitos biliosos; a das guigas dum saber manejar os remos nas forquilhas; a do Tâmega a cheirar a hortelã e a sabão azul; a do comboio quase brinquedo aos gritinhos de medo no pontão de S. Veríssimo; a do pestilento museu da cagalhota; a dos ramos de árvores que os meninos ajudávamos a matar a sede no rio, voadouros balancés de macaquinhos aos gritos à Tarzan,
Mas Amarante é sobretudo - sabe-o bem meu padrinho S. Gonçalo! - aquela última carruagem onde baloiçava sem tino a lanterna vermelha de uma composição de sonhos de que me apeei, na Ilha dos Amores, com um murro do Zeca Pedro:
- Pensei que estavas morto! - choramingava o parceiro das cobóiadas.
- Há que tempos estou aqui a sacudir-te! Pregaste-me cá um susto!
És mesmo burro! -Mas não como palha, como tu.
E desatámos à bulha!
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