quinta-feira, 5 de abril de 2012

Reencontro com a História - Dia Três - Parte Um

Alhambra - Granada - Espanha
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Reencontro com a História - Dia Três - Parte Um

A planificação do dia três foi integralmente cumprida, primeiro numa Alhambra a acusar lotação esgotada seguida de viagem para Córdoba e visita do casco velho da cidade.
Mas vamos por partes. Primeiro a visita a uma Alhambra a esbordar de turistas de todas as nacionalidades, transformada em verdadeira Babel, onde entram trezentas pessoas de meia em meia hora, em grupos mais pequenos e espaçados ou não caberíamos lá dentro em algumas dependências, e já assim sabe deus!, seis mil por dia, dia após dia... não é por acaso que a Alhambra, "A Vermelha", em árabe Al Hamra ou  الحمراء , é o monumento mais visitado de toda a Espanha.
Declarada Património Mundial da Humanidade desde 1984, a Alhambra, medina que podia funcionar de forma independente da restante cidade de Granada, abrigava no interior das suas muralhas as dependências reais, as dependências dos funcionários e dos militares, mesquitas, madrassas, oficinas onde labutavam artesãos... deslumbra continuamente os seus visitantes espevitando-lhes os vários sentidos. Os palácios Nazaritas, que chegaram até nós, são compostos pelo Palácio Mexuar, mandado construir por Ismail I (1314-1325) e por Muhammad V (1362-1391), pelo Palácio Comares, mandado construir por Yusuf I (1333-1354) e Muhammad V, e finalmente o extraordinário Palácio dos Leões, mandado construir pelo mesmo Muhammad V.
O espaço exterior contrasta enormemente com o interior, à boa maneira árabe. Por fora as paredes lisas, em grande parte cegas, transmitem-nos uma mensagem de despojamento total que se opõe a um interior opulento de delicadeza filigranada presente em arabescos de estuque de uma beleza sem fim, em tectos de madeiras trabalhadas com mestria, em cúpulas de muqarnas que nos remetem para um ambiente de gruta cheia de estalactites, em azulejos alicatados, os famosos zeliges, de múltiplas cores e formas geométricas, em salas e pátios e mais salas e mais pátios onde pontua sempre a água, presença imprescindível para a reconstrução do paraíso aqui na terra, ora em grandes tanques onde se espelham as paredes dos palácios nazaritas, ora em taças mais pequenas, sempre centralizadas, cada qual a mais bela e onde mergulham passarinhos loucos que cantam doidos a alegria de poderem penetrar livremente em tão insólitos e belos espaços.
Há quem critique a arte islâmica catalogando-a de repetitiva. Pois é exactamente nesta repetição, até à exaustão, até à perfeição, de decoração floral, geométrica e caligráfica, magistralmente combinadas, que reside, para mim, a sua beleza transcendental de uma espiritualidade raramente alcançada em outros estilos artísticos.
De visita aos Palácios Nazaritas, passeando-me inebriada pelo ambiente das mil e uma noites do Pátio dos Leões, foi-me impossível não pensar no desgosto profundo e na humilhação do último rei mouro de Granada, ao entregar as chaves do seu coração, da Alhambra, no dia 2 de Janeiro de 1492, aos reis católicos vitoriosos Fernando e Isabel.
Impossível não pensar em Abu Abd Allah...

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