Resposta - Esclarecimento
O meu "post" de ontem, publicado no blogue do Ramiro Marques, http://www.professoresramiromarques.blogspot.com/, suscitou este comentário de um estimado colega meu.
Tino disse...
Além do enorme trabalho que lhe deu fazer a aplicação em Power Point pense na eficácia educativa destas aulas interessantes e modernas.
Para isso, dê uma aula mais tradicional, com leitura de textos, comentários dos alunos e do professor, pequenas exposições orais, algumas questões solicitadas aos alunos por escrito, etc..
Noutra turma dê uma aula interessantíssima, com PowerPoint, videoprojector, ecran interactivo, etc..
No final das duas aulas faça uma ficha de avaliação dos conteúdos ministrados e tire a conclusão sobre a eficácia dos dois métodos.
Além do cansaço pelas muitas horas que gastou a preparar o PowerPoint, talvez descubra que com o manual, um texto de apoio e uma fichinha de avaliação formativa os alunos aprenderam o mesmo ou mais do que com a interessantíssima aula que deu com meios multimédia mais diversificados e modernos.
Isto penso eu que tenho repetidas vezes testado a eficácia de vários tipos de aula.
Mas possivelmente, apesar de todas as conclusões que tirar, terá mesmo de dar aulas aparentemente interessantes e de eficácia reduzida.
O sistema ou o regime não lhe pede que ensine. Pede-lhe que entretenha os alunos e que faça coisas vistosas mesmo que de eficácia reduzida.
Os alunos também estão mais interessados em que o tempo passe depressa do que em aprender.
E os seus avaliadores acharão que é melhor professora se usar uns powerpoints e outras coisas que tal.
31 de Março de 2008 21:32
E vamos lá então à resposta e ao esclarecimento.
Cada docente/educador tem a obrigação moral, inerente e decorrente do seu papel de docente/educador, de tentar aliciar os seus alunos com aulas mais apelativas do que as tradicionais aulas pelo livro que qualquer aluno lhe diz hoje achar uma seca. Os tempos são outros, bem diferentes daqueles em que eu frequentei a escola como aluna, e em que, de facto, só tínhamos o livro, com muito poucas imagens, para manusear. Hoje em dia os miúdos manuseiam e manipulam uma infinidade de tecnologias, que estão aí para ficar, e para se desmultiplicar, inexistentes na minha infância e adolescência. E, no entanto, ainda há professores que continuam a ler os livros nas salas de aula, ou a mandar ler os seus alunos e pouco passam daí, como faziam quando eu frequentei as aulas como aluna, e que continuam a assobiar para o lado perante as novas tecnologias omnipresentes. E até há professores que travestiram os livros em powerpoints sofisticados e se limitam a ler os powerpoints na sala de aula como se os seus alunos não soubessem ler.
Está errado. O embrulho é outro mas a porcaria é a mesma.
Feito este esclarecimento devo dizer-lhe o seguinte. A minha experiência já vem de longe. Iniciei a minha actividade como docente em 1989 e já experimentei muitas estratégias ao longo destes anos todos e já tirei as minhas conclusões. E as minhas conclusões não são iguais às suas. Felizmente. Se eu tivesse à minha frente, ano após ano, turmas constituídas por meninos e meninas mais interessados em passar o tempo do que em aprender, garanto-lhe que já tinha desistido há muito e já tinha mudado de profissão.
Só posso falar da minha experiência pessoal, não posso falar da sua que pelos vistos é outra. E a minha é esta. Já dei aulas de forma mais tradicional, utilizando o manual. E mesmo utilizando o manual já dei aulas de diferentes formas e o que lhe posso dizer é que os alunos não aprendem o mesmo.
Iniciei este projecto das aulas em powerpoint com as minhas três turmas de 7º ano que agora estão no 9º e o que lhe posso garantir é que nunca tive alunos tão empenhados, interessados e tão satisfeitos dentro das salas de aula. Diria até que nunca tive alunos tão felizes dentro da sala de aula. Por isso as aulas "aparentemente interessantes"e "modernas" e de "eficácia reduzida" de que fala não se aplicam no meu caso. As minhas aulas são mesmo interessantes e são mesmo modernas para generalidade dos meus alunos. Daí a felicidade, conforto e bem-estar que uma aula pode e deve proporcionar aos alunos. No meu caso uma aula de História. O que se reflecte nos resultados por eles obtidos. Não tenho qualquer tipo de dúvida acerca disto que afirmo. Eu consegui reduzir significativamente a percentagem de negativas que atribuo.
Esclareço-o entretanto que eu não fiz uma aplicação em powerpoint. Tenho-as todas feitas cobrindo todo o programa do 7º ao 8º ano de escolaridade. As de 9º são as que agora termino e para o próximo ano reinicio o trabalho com novas turmas de 7º ano e vou proceder ao"retoque" das apresentações, aqui e ali, que o trabalho não acaba nunca e pode ser sempre melhorado e modernizado. Pode vê-lo em http://anabelapmatias.googlepages.com/home muito embora o meu trabalho não esteja ainda todo publicado que o tempo não dá para tudo.
E digo-lhe que não iniciei este trabalho por causa da famigerada avaliação de desempenho. Não o iniciei para mostrar trabalho à minha coordenadora, ou seja lá a quem for, que no próximo ano lectivo observará as minhas aulas. Felizmente para mim, que estou de consciência tranquila a este respeito, entendo que a modernização constante é inerente à minha profissão e por isso iniciei-o bem antes de se falar de avaliação de professores, num tempo em que o trabalho se fazia unicamente "por amor à camisola".
E não me interessa o que o Ministério me pede ou deixa de pedir, os sinais de laxismo que me dá ou deixa de dar. Eu não entretenho alunos, nem me parece que seja isso que nos é pedido, e também não perco tempo com coisas vistosas e de eficácia reduzida. Aliás se me conhecesse saberia isto. Eu sei o que faço dentro duma sala de aulas e não desisto do meu papel, exigente, de docente. E também sei o que faço fora duma sala de aulas. Todos os meus alunos sabem disto. Todos os meus alunos sabem que sou exigente comigo e com eles. É o que eu chamo educar pelo exemplo. As minhas turmas de 9º ano tiveram a oportunidade de visitar comigo o Museu Amadeo de Souza-Cardoso e o seu comportamento, atitude e interesse demonstrados durante a visita foi elogiado pela nossa guia, Drª Cláudia Cerqueira, alto e bom som e comparado com o comportamento de outras turmas de 9º ano que deixaram uma péssima imagem naquele museu.
E deixe-me acrescentar que o "enorme trabalho" que tenho em fazer cada uma das apresentações continuaria sempre a tê-lo, independentemente dos resultados. Imagine que os resultados dos meus alunos se mantinham exactamente os mesmos. Garanto-lhe que só para ver os seus olhinhos brilhar de entusiasmo eu gastaria milhares de horas da minha vida a proporcionar-lhes esse brilho que eu tantas vezes já vi, dentro da minha sala de aulas. Confesso que sou mesmo fã desta ferramenta e confesso que praticamente eliminei das minhas aulas o "Está sossegado!", o "Está calado!, o "Está quieto!" Confesso que as minhas aulas decorrem, frquentemente, de forma que até a mim me surpreendem, com alunos que sabem exactamente o seu papel dentro da sala de aulas. E isto é muito interessante nos dias que correm.
O que me preocupa não é este tipo de trabalho. O que me preocupa é mesmo o trabalho burocrático e estéril que aí vem. Este é o tipo de trabalho que eu abomino exactamente por ser de "entretenimento" e por ser "vistoso" e de "eficácia reduzida".
Falo daquilo que sei e daquilo que conheço. E aquilo que sei e que conheço é a minha experiência, não é a minha teoria.
E só para terminar acrescento que todos os meus alunos sabem que adoro trabalhar com eles. Incluindo os meus alunos de Cef`s.
terça-feira, 1 de abril de 2008
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13 comentários:
Do meu ponto de vista(mesmo sendo aluno da prof.Anabela), nunca tive razão de queixa das aulas de História! As aulas que utilizam a "ferramenta" Power Point(na minha opinião) tornam-se muito mais interessantes do que as "típicas" e "velhas" aulas onde o livro está sempre presente! Estas aulas são muito cativantes e até conseguem chamar a minha atenção pois eu reconheço que sou um aluno um pouco distraído! Continue o bom trabalho professora!
Muito obrigada pelo teu testemunho Camões e pelo estímulo que aqui me deixas no sentido de dar continuidade ao meu trabalho. Afinal vocês são o melhor da minha escola. Lol. Prosseguirei o meu trabalho.
Pah se á aula em que se justificam os powerpoint de maneira quase crucial é história.
A produtividade com o manual é imensamente menor além da sonolência que nos provoca.
Penso que nunca devemos criticar uma pessoa por não seguir as regras (erradas) que vem do patamar superior da hierarquia mesmo que isso implique algum esforço pessoal.
Mas quanto issso eu em nome dos seus alunos agradeço pelo esforço, pela facilização na aprendizagem e também por nos manter acordados.
OBRIGADO
Obrigada eu, Pi. Foi sempre um prazer entrar na vossa sala de aula ao longo destes quase três anos. E cada aula é um desafio que vencemos juntos. E é verdade, se há coisa que não há nas aulas de História é sonolência...lol... mas decerto é por se deitarem cedinho, não? lol
Nem
professores que continuam a ler os livros nas salas de aula, ou a mandar ler os seus alunos e pouco passam daí, como faziam quando eu frequentei as aulas como aluna, e que continuam a assobiar para o lado perante as novas tecnologias omnipresentes.
Nem
professores que travestiram os livros em powerpoints sofisticados e se limitam a ler os powerpoints na sala de aula como se os seus alunos não soubessem ler.
Professores que amam os seus alunos e tudo fazem para os conquistar e sentirem que vale a pena estar na escola.
Não preciso que me prove nada... as palavras dos seus alunos são o testemunho do quanto tem sido benéfico para eles o seu trabalho.
O meu comentário será um comentário de dois comentários. Complicado?
Passarei a explicar: vou referir-me às afirmações quer de Tino, quer de Anabela Magalhães.
Será, portanto, um meta-discurso.
Por que o faço?
Sobretudo porque o tema "aulas com pedagogias tradicionais vs aulas com pedagogias contemporâneas" me interessa.
Como o farei?Com que método?
Utilizando a hermenêutica, a descodificação dos sentidos, óbvios e ocultos, inscritos nas duas mensagens.
1. A dicotomia estabelecida entre "aula mais tradicional, utilizando uma leitura de textos (...)", o manual, e a aula "moderna" que viabiliza a aplicação ou apresentação dos conteúdos em Power Point é falaciosa.
Como diz,e bem, Anabela Magalhães "(...) há professores que travestiram os livros em powerpoints". Há, acrescento, quem utilize filmes, notícias, músicas, pinturas, fotografias. Numa palavra, as diversas manifestações culturais ou humanas. Como eu.
Não são, todavia, as ferramentas ou os recursos viabilizados nas aulas que permitem classificá-las como antigas ou tradicionais, modernas ou contemporâneas. São, creio, os modos sapiente, criativo e analítico como o docente as utiliza, as maximiza no despertar do espírito crítico-reflexivo dos discentes.
Qualquer um dos instrumentos mencionados poderá ser usado. E abusado. Para isso, "bastará" que seja prevertido, na intencionalidade e nos objectivos.
A prática pedagógico-científica rigorosa, lúcida exige esforço sabedoria e, sobretudo Gosto. Aquele prazer quase "desinteressado", no sentido kantiano do termo, que permite a fruição e a fusão, na figura do professor, do Ser, do Estar e do (saber) Fazer.
Concluindo: há aulas com recurso ao manual extremamente modernas (contemporâneas) e aulas com recursos audio-visuais extremamente tradicionais (caducas)!
2. Estamos perante dois testemunhos contraditórios, no que concerne à eficácia pedagógica da projecção dos conteúdos em Power Point.
Subscrevendo a máxima de Wittgenstein: "Do que não se pode falar, é melhor calar-se", abstenho-me de opinar sobre a prática e a experiência pedagógica do professor em questão. Nem quero. As escolas estão "invadidas" de titulares e avaliadores, institucionalmente reconhecidos. Eles farão a tarefa. Bem ou Mal. Aguardemos...
No entanto, devo evidenciar que não se coibiu de falar em avaliadores que "(...) acharão que é melhor professora se usar pouwer points...", não se apercebendo, que num ápice se transformou num.
Gostaria de saber se a opinião que tece sobre as aulas da colega, sobre a sua prática pedagógica são sustentadas em argumentos ou factos (como por exemplo, ter estado presente nelas), que não regista no seu comentário, ultrapassando, desta forma, o domínio meramente opinativo.
Parece-me que os blogues - tal como qualquer recurso pedagógico - têm um uso ambivalente: permitem-me o acesso por um lado, a informações muito esclarecedoras; por outro, a desinformações, isto é, a meras opinões avulso, infundamentadas.
É a Era dos Titulares de Opiniões. Mestres do senso comum.
E um recurso pedagógico mal utilizado, não deveria ser designado como "recurso anti-pedagógico"?
Contrariando esta tendência, inerente à sociedade global de (des)informação posso asseverar que conheço a prática pedagógica da Anabela Magalhães.As suas aulas são, de facto, minuciosamente trabalhadas (preparadas)e, sobretudo, saboreadas pelos seus alunos.
Sei-o porque falo diariamente com um deles. Exigente. Inteligente. E muito auto-crítico relativamente aos seus professores. Falo com vários alunos, com pais dos alunos, como outros colegas, que me permitem uma análise comparativa, e com a própria Anabela.
E os testemunhos, os juízos dos alunos são os mais significativos porque os mais autênticos.
Finalmente, gostaria de esclarecer o seguinte:
Não redigi este comentário porque a Anabela é uma colega de escola. Foi tão-somente porque o merece. E devo, dizer que poucos seriam aqueles (docentes) a quem poderia destinar tais palavras...
Relativamente ao extenso comentário que escrevi, a horas tardias, registo as seguintes rectificações:
Onde se lê:
- "(...) auto-crítico", deve ler-se crítico;
- "falo (...) como os outros", deve ler-se "falo (...) com os outros".
E a vírgula colocada em "E devo dizer (...)" está, obviamente, mal colocada.
Lamento.
Elsa Cerqueira
Parabéns à Elsa pela forma clara e pedagógica como abordou o assunto.
Mais palavras, da minha parte, nada acrescentariam...
Há três anos atrás também comecei a investir na realização de slides em Power-point para leccionar a disciplina de Geografia. No ano passado juntei-lhe a criação de um blogue. Agora quase que não utilizo o manual. A expeiência tem sido positiva, tanto para mim, como, e sobretudo, para os alunos.
Mas, cada um sabe de si...
O meu muito obrigada ao Raul pelas suas palavras.
O meu muito obrigada à Elsa que acompanha o meu trabalho na posição de mãe presente desde o 7º ano do seu filho e que, por isso, me deixa particularmente sensibilizada com as suas palavras.
E, posto isto, ainda três esclarecimentos, em jeito de sublinhados, para que não haja dúvidas sobre o meu pensamento:
1 - O problema não está na utilização de um texto, um acetato, um documentário, uma música, uma fotografia, um esquema, um powerpoint ou seja o que for, mas na sua manipulação incorrecta, como diz a Elsa, "abusiva". Todos nós sabemos que é possível leccionar uma aula brilhante utilizando cada uma destas ferramentas. Todos nós sabemos que é possível, com as mesmíssimas ferramentas, leccionar uma aula miserável.
2 - Há disciplinas e disciplinas. Cada um na sua área tem a obrigação de encontrar o que resulta melhor para os seus conteúdos. O Pi, meu aluno de 9º ano, opina aqui que História e Geografia lhe parece que beneficiam com a utilização do powerpoint. Concordo com ele. Já para Matemática não me parece.
3 - Não nos podemos esquecer das faixas etárias dos alunos com que trabalhamos e das características das turmas que devem influenciar as nossas estratégias neste ou naquele sentido.
Só tenho uma coisa a dizer continue a exercer o seu trabalho como o tem feito.
Já passaram os tempos em que o aluno lê os textos do livro e o professor acompanha.
Agora temos que aproveitar a tecnologia. Se ela nos pode proporcionar aulas com mais eficáia porque não aproveitar?
O método dos PowerPoints é muito bom, consegue cativar a atenção dos mais desconcentrados(eu).
E assim temos topicos da materia, logo facilita a vida aos alunos.
Apenas continuar a dar as aulas assim.
Os miudos do 7º até se vão passar com estas aulas...
Boa Sorte com o Futuro
Muito obrigada pelo teu apoio, Dianita, minha leitora e comentadora muito assídua . Souberam-me bem as tuas palavras. Vocês alunos estão a milhas de tudo o resto que envolve o meu trabalho e é por isso que me mantenho de pedra e cal dentro da sala de aula. Até ver.
Achas? Achas que os meus próximos alunos até se vão passar com as minhas aulas? Foi a coisa mais engraçada e gostosa que me poderias ter dito. E obrigada pelo teu apoio na sala de aula, sempre solícita com fios, ligações e botões de aparelhos tecnológicos.
Olá Pedro.
Obrigada pelo seu testemunho. Faz bem em usar as novas tecnologias na sua disciplina que é Geografia. Se há disciplinas em que pode ser produtivo o uso do powerpoint elas são sem dúvida a História e a Geografia. É a minha opinião. Também é a opinião de um meu aluno que focou isso mesmo aqui nos comentários.
Já espreitei os seus blogues e gostei do vi. Continue.
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