quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Constrangimentos
Constrangimentos
Constrangimento um - Ver com estes meus olhos, e em plena luz do dia de um destes domingos amarantinos e ensolarados, uma idosa a remexer um caixote do lixo, a retirar o lixo, meticulosamente, à procura de poder aproveitar qualquer coisa dos dejectos dos outros.
Tenho estas memórias de um Portugal em tempo de ditadura, de um Portugal que existia na minha infância, pobre, paupérrimo e indigno. Guardei para sempre a memória de ter comido uma banana, na praia, e de ter deitado a casca ao caixote do lixo, ali perto da barraca que a minha família tinha alugado para a temporada de iodo e sol e de um miúdo, mais ou menos da minha idade, lá ter ido, ter retirado a casca e de ter aproveitado o "rabo" da banana madura ainda preso à casca, e de o ter comido, perante os meus olhos esbugalhados.
Constrangimento dois - Ser abordada agorinha mesmo, enquanto subia a minha rua vinda do café da manhã, por uma mulher um pouco mais velha do que eu, com um ar perdido e desesperado, a perguntar-me se eu não sabia de ninguém que quisesse umas horas, porque o subsídio já fora, não tinha nada e não sabia o que fazer... e eu sem saber de ninguém que precise de empregada, porque antigamente não faltava quem precisasse de empregada e agora está tudo a retrair, a retrair a olhos vistos e parece não haver solução para nada.
Nota - Chamei a este post "Constrangimentos" apenas para não usar uma linguagem à altura das situações, obscenas, pois então!
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