Quadro Branco Após a Passagem da Lai - EB 2/3 de Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães
Todos temos memórias de professores que foram nossos um dia e que nos marcaram, de forma indelével, a vida que na hora vivíamos, a vida que mais tarde viveríamos e que não nos sairão jamais da memória até ao fim dos nossos dias onde permanecem envolvidos em doses descomunais de carinho e agradecimento por terem sido assim... ou assado... de qualquer forma exemplares. Já falei de vários neste blogue, melhor dizendo, já falei de várias... porque foram mais as mulheres professoras que me marcaram para a vida sendo certo que elas já eram mais em quantidade aquando da minha chegada aos bancos da escola.
Mas não são apenas estes os exemplos que nos norteiam a vida. Tendo olhos para olhar e, mais importante, para ver, tendo corações abertos para sentir e aprender, podemos olhar para o lado e agradecer os exemplos maiores que estão ali mesmo ao pé de nós... que estão ali mesmo... ao pé de nós.
Tive o grato privilégio de conhecer a Maria Adelaide aquando de uma outra minha passagem pela EB 2/3 de Amarante, em tempos que já lá vão. Foi um passagem feliz, após ser "expulsa do inferno", e devo esta felicidade a muita gente que comigo ainda trabalha nesta Escola. No entanto, tenho de fazer uma referência muito especial à Maria Adelaide, tenho de a destacar do todo, da massa humana que lá habita porque ela é um caso muito sério para mim, apenas por isso, por ela ser um caso muito sério para mim.... e para muitos de nós... e para ela própria... convém não o esquecer.
A Maria Adelaide, ou Lai, foi, já o disse neste blogue, a colega que mais profundamente me marcou enquanto profissional e também enquanto Ser Humano... tudo está ligado, eu sei.
A Maria Adelaide já está reformada... mais uma que se aposentou antecipadamente com tanto ainda para dar à Escola Pública... masé certo que apesar de reformada não se reformou de um elevado sentido de ética, de uma extrema generosidade, de um carinho e entusiasmo suave e meigo como só ela sabe imprimir a tudo o que faz e que sempre foram seu apanágio.
Hoje assisti a uma aula dela. Eu e mais uns quantos privilegiados, Gabriel Vilas Boas, o organizador da coisa, Zinha Pereira, mentora da coisa e os miúdos e miúdas do 8ºA,... estou ainda de cara à banda com a maturidade e responsabilidade connosco partilhadas hoje, agradeço-vos adolescentes em acelerado crescimento!
A viagem proporcionada a cada um de nós fez-nos partir do interior para o exterior de nós mesmos, partiu do eu para o nós, do individual para o colectivo, da Unidade a que estamos "obrigados", no mínimo!, enquanto seres dotados de inteligência, de consciência de si... e pelo meio falámos de solidariedade, fraternidade, felicidade, amor, generosidade, cooperação, entreajuda, confiança.... e tanta tanta coisa boa que tem de nos nortear os passos, não o podemos esquecer.
Não me alongo muito mais, nem é preciso, sob pena de este post ficar quilométrico. Quero apenas dizer que vivemos tempos difíceis, eu sei. Mas também sei que depois da tormenta vem sempre a bonança e que ela chegará, mais cedo ou mais tarde. Esperança é uma palavra bonita... também falámos dela, hoje de manhã, ajudados e encaminhados pela Lai. Sei que para os miúdos a intervenção Daquela que permanecerá para sempre nos seus/nossos corações foi/é/será inesquecível. Para mim foi-o igualmente. Só tenho a aprender com ela. E por isso quando ela perguntou um a um "Qual foi a pérola de hoje? eu fiz questão de lhe responder "Foste tu. A pérola de hoje foste mesmo tu, Maria Adelaide."
E sim, deixaste um buracão na EB 2/3 de Amarante e não foi só entre os alunos... não foi não.
4 comentários:
É sempre bom ler textos destes, tantos os escritos por ex-alunos como por colegas.
Tenho em reserva, para um tempo com mais calma, o rascunho sobre um recente encontro inesperado com um ex-aluno e muitas memórias avulsas que tenho de alunos que pude ou não reencontrar...
A Adelaide parece mesmo boa pessoa, como é descrita.
É o que é importante,nesta vida, tentarmos ser boas pessoas para os outros, acarinharmos em retorno as boas pessoas e não apenas pensarmos que, coisa e tal, no fundo no fundo de toda a parvoíce e maldade X, P. T e O até devem ter bom coração...As pessoas , seja qual a sua condição ou azares na vida,têm de, pelo menos, serem verdadeiras e justas e viverem com lealdade e gratidão aos outros e à vida. Ponto final. As pessoas não são apenas uma imagem retocada, como um produto comercial vulgar, mas devem ser alguém que transmite autenticidade e reciprocidade,alguém que não se julga nem mais nem menos que os demais, ou que pelo menos os respeita, sem máscaras exageradas, pesem todas as máscaras normais que possamos todos ter, numa ocasião ou outra. Viver PARA a máscara, para a fuga às responsabilidades , para o não reconhecer dos erros e para o magoar constante e impunemente os outros é que não! :(
Tenho levado sofrido algumas desilusões sobre isso em anos recentes.Porém quero acreditar, apesar de tudo, que foram excepções à regra(demasiado bizarras, monstruosas até).
Mas, embora seja duro restaurar a confiança nos outros e no mundo, não vou desistir das pessoas e do que elas nos conseguem dar e ensinar de bom.Não sou de me isolar em alta torre de Marfim só a "desdenhar" do mundo, a-social e pateticamente!
Isso graças a pessoas nesta Terra como a tua professora Adelaide. E certamente os teus alunos dirão e dizem o mesmo de ti.
Beijinho a ambas! :)
(e desculpa o longo desabafo!)
Tenho a certeza que a Adelaide gostará de ler as tuas palavras...
A Adelaide, esta ou outra deste calibre, faz falta na vida de todos nós, faz especialmente falta na vida das escolas de hoje, com tendência para a desumanização e para o conflito. A Adelaide é um sorriso radioso em dia soturno, é uma lufada de ar freco em dia de canícula, para além de Ser Ela, coerente entre a palavra dita e a acção. Admiro-a muito. E quando crescer quero ser como ela...
Bjs
Sabes bem como fiquei satisfeito de ter trazido, em conjunto com a Zinha, a Adelaide novamente à nossa escola. Prometi aos alunos alguém de especial que marcasse de forma indelével o arranque do nosso projeto "solidariedade". Quando a viram, logo percebi a alegria no olhar dos alunos. Não tinha trazido alguém de especial, tinha trazido a melhor...
Espero que este projeto consiga aproximar-se da excelência, do prazer, da lição de vida e humanidade que constituiu para todos (alunos e professores) aqueles maravilhosos 90 minutos!
Obrigado pela tua presença, obrigado pela generosidade e amor com que divulgas e amplias (e de que maneira) os nossos projetos.
Espero que o teu projecto singre com alegria, dedicação, empenho. Tem tudo para isso. Professor atento, alunos com neurónios irrequietos, ajudas e colaborações "externas" de um excelente calibre.
Eu não faço nada de especial, apenas não quero andar distraída nesta vida e muito menos alheada.
Beijocas e fica bem.
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