quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Palavra a Alberto Castro

A Palavra a Alberto Castro

Endoidaram!

"Qual gripe A, B ou C. Afinal a epidemia era outra. Uma pandemia. Com recaídas frequentes e sem vacina à vista. Não se sabe muito bem onde começou e como se propagou. O surto mais recente, até agora o mais perigoso, manifestou-se inopinadamente em Bruxelas e afectou os ministros das Finanças da Zona Euro. Atacados por esse vírus que ninguém, até agora, conseguiu identificar e, muito menos, isolar, decidiram por unanimidade uma coisa que, no dia a seguir, todos e cada um consideraram perigoso e despropositado. Os adeptos da teoria da conspiração defendem terem sido agentes ao serviço da causa da destruição do euro, que lhes terão deitado qualquer coisa nas bebidas. Fosse como fosse, o resultado está perto da tempestade perfeita, dando credibilidade acrescida à tese dos que consideram o euro uma criação em vias de extinção, por desagregação suicidária.
Com um cenário de fundo desta natureza, as sequelas que por cá se têm feito sentir, afectando tanto o Governo como a Oposição, podem ser consideradas quase benignas. Na verdade, quando poderá estar em causa o fim de uma Europa como a conhecemos (e desejámos) quem pode criticar que os políticos caseiros tenham optado por uma lógica primária de carpe diem? Assim como assim, mais dislate menos dislate pouco importa quando o porta-aviões se está a afundar. Em qualquer caso, os sintomas no PS são mais preocupantes pois ainda havia quem o considerasse recuperável. Deu-lhes para apresentar uma moção de censura o que, em si, é algo legítimo e aceitável. O problema surge de alguns distintos militantes terem levado a coisa a sério e já falarem em eleições e novo Governo.
Como dizia o outro, qual é a pressa? Como efeito colateral, só de pensar em os ter de volta já houve vários portugueses que foram encontrados a tentar trepar pelas paredes. A um nível pessoal, o caso de Seguro afigura-se grave. Se dúvidas houvesse, as suas declarações sobre o papel do aumento do salário mínimo enquanto factor de crescimento e de combate ao desemprego provam-no. Terá havido quem o procurasse conter, forçando-o a engolir a evidência de que, mesmo nos casos mais favoráveis, o desemprego tende a aumentar e que a justificação (nas actuais circunstâncias, mais do que razoável) para a medida estará no seu impacto na distribuição do rendimento. De pouco serviu: um ou dois dias passados, teve uma recaída e voltou à arenga anterior. Cada vez mais gente o considera um caso perdido, prateleira em que já estava arrumado quase todo o Governo, com Relvas e o PM à cabeça. Esta semana o número foi engordado com mais um secretário de Estado que fez prova pública de ter sido contagiado ao anunciar, com pompa e circunstância, o processo de rescisões por mútuo acordo na Função Pública. Atacado pela febre de reduzir o número de funcionários públicos sem critério, nem percebeu que os primeiros a rescindir serão os que têm ocupação alternativa, os melhores, deixando a Administração Pública ainda pior. Mais barata no imediato, mais cara a prazo.
Mas a doença ameaça generalizar-se. Quando começa a ser consensual que o regime político vigente está muito doente e precisa, urgentemente, de uma transfusão de sangue novo, os directores das televisões tiveram um acesso de loucura e, numa recaída, resolveram contratar toda uma tralha de comentadores que representam o pior do jogo partidário que trouxe o país ao seu estado actual.
Ainda sem sintomas externos mas, ao que dizem, em fase de incubação, estarão os membros do Tribunal Constitucional. Encerrados na sua torre de marfim, deliram, vendo na Constituição a moderna utopia. Têm seguidores que já salivam em antecipação do veredicto. Se ninguém os trouxer de volta à realidade, muitos inocentes penarão ainda mais.
Identificados ou não, eles andam aí. Estão no meio de nós, infiltram-se onde menos se espera. Nem este jornal escapou. A candidatura de Rui Moreira (uma loucura?) endoideceu (só pode!) quem fez as capas e títulos do JN na semana que passou. Ou será o escriba que delira? No meio disto tudo, admiram-se que, na Páscoa, até os coelhos ponham ovos? Oxalá!"

Surripiado aqui, via Teresa Almeida.

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