Percurso/Caminho - Galiza - Espanha
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
Hiperactividade
Durante muitos anos, confesso, não pensei em mim como uma pessoa hiperactiva. Agora, cada vez olho mais para mim como uma hiperactiva que acabou por canalizar bem a sua hiperactividade.
Relembro histórias que a minha mãe contava de como eu era destravada e me tinha que agarrar constantemente pelos colarinhos e me salvava, quantas vezes in-extremis!, de ser atropelada, abalroada, eu sei lá. De como eu não parava desde pequena, sempre em correrias pelos quintais do meu avô ou em corridas pelos cedros da Florestal, dando tombos de meia noite quando os meus pés furavam os ditos cujos bem aparados e eu ia parar à rampa mais ou menos em mau estado... eu, mais ou menos em mau estado também. Recordo as corridas por cima dos esteios das altas ramadas... sempre sempre em equilíbrios precários e improváveis.
O resultado de todas estas brincadeiras foram muitas nódoas negras, uma cabeça rachada, um braço partido, muitas idas ao hospital... coisa invulgar para uma menina que devia estar a brincar com bonecas no recato do seu lar. Mas eu tinha que correr, tinha que gastar energias...
Adolescente, dançava durante todas as noites de Verão no Pub Ante-Maranum, que eu fechava, para a seguir fechar a Dona Loba... e repetia a dose todos os dias da semana. E aos fins-de-semana acrescentava as tardes às noites. E o tempo chegava-me para tudo, para estudar, para namorar, para dançar...
A J já me questionou muitas vezes "Ó mãe, tu não páras?" Respondo-lhe sempre que tenho muito tempo para parar... e que pararei, sim, quando morrer. Até lá tenho muita urgência...
Tenho agora 45 anos e continuo a subir e a descer escadas a correr, a levantar muros e a fazer caminhos, a cortar mato na Barca, a preparar quilómetros de apresentações em PowerPoint, a conceber viagens complicadas que me dão luta e que são as que mais gosto de preparar, enfim, continuo a conseguir fazer tudo aquilo que quero e tudo aquilo que gosto. E ainda continuo com tempo para conversas quase intermináveis com os meus amigos e com tempo para prolongados cafés.
E vem isto a propósito de um comentário que o A fez, um dia destes, sobre o meu blogue. Disse ele que se a Ministra da Educação, por acaso, vir o trabalho já feito neste blogue é bem capaz de pensar que nós, professores, ainda temos muito tempo livre e vai daí... pumbas!, ainda é capaz de se lembrar de nos pôr mais tempo a trabalhar nas escolas!
Por isso achei por bem fazer este esclarecimento, para não haver mal entendidos.
Se bem que, quando eu comentei cá em casa que ia fazer um post sobre a minha hiperactividade, a J disse-me imediatamente "Para quê, mãe? Não é preciso. Toda a gente que acompanha o teu blogue já sabe que tu és hiperactiva."
Durante muitos anos, confesso, não pensei em mim como uma pessoa hiperactiva. Agora, cada vez olho mais para mim como uma hiperactiva que acabou por canalizar bem a sua hiperactividade.
Relembro histórias que a minha mãe contava de como eu era destravada e me tinha que agarrar constantemente pelos colarinhos e me salvava, quantas vezes in-extremis!, de ser atropelada, abalroada, eu sei lá. De como eu não parava desde pequena, sempre em correrias pelos quintais do meu avô ou em corridas pelos cedros da Florestal, dando tombos de meia noite quando os meus pés furavam os ditos cujos bem aparados e eu ia parar à rampa mais ou menos em mau estado... eu, mais ou menos em mau estado também. Recordo as corridas por cima dos esteios das altas ramadas... sempre sempre em equilíbrios precários e improváveis.
O resultado de todas estas brincadeiras foram muitas nódoas negras, uma cabeça rachada, um braço partido, muitas idas ao hospital... coisa invulgar para uma menina que devia estar a brincar com bonecas no recato do seu lar. Mas eu tinha que correr, tinha que gastar energias...
Adolescente, dançava durante todas as noites de Verão no Pub Ante-Maranum, que eu fechava, para a seguir fechar a Dona Loba... e repetia a dose todos os dias da semana. E aos fins-de-semana acrescentava as tardes às noites. E o tempo chegava-me para tudo, para estudar, para namorar, para dançar...
A J já me questionou muitas vezes "Ó mãe, tu não páras?" Respondo-lhe sempre que tenho muito tempo para parar... e que pararei, sim, quando morrer. Até lá tenho muita urgência...
Tenho agora 45 anos e continuo a subir e a descer escadas a correr, a levantar muros e a fazer caminhos, a cortar mato na Barca, a preparar quilómetros de apresentações em PowerPoint, a conceber viagens complicadas que me dão luta e que são as que mais gosto de preparar, enfim, continuo a conseguir fazer tudo aquilo que quero e tudo aquilo que gosto. E ainda continuo com tempo para conversas quase intermináveis com os meus amigos e com tempo para prolongados cafés.
E vem isto a propósito de um comentário que o A fez, um dia destes, sobre o meu blogue. Disse ele que se a Ministra da Educação, por acaso, vir o trabalho já feito neste blogue é bem capaz de pensar que nós, professores, ainda temos muito tempo livre e vai daí... pumbas!, ainda é capaz de se lembrar de nos pôr mais tempo a trabalhar nas escolas!
Por isso achei por bem fazer este esclarecimento, para não haver mal entendidos.
Se bem que, quando eu comentei cá em casa que ia fazer um post sobre a minha hiperactividade, a J disse-me imediatamente "Para quê, mãe? Não é preciso. Toda a gente que acompanha o teu blogue já sabe que tu és hiperactiva."
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