Paulo
Fotografias de não sei quem
Paulo
Este é o meu primo que faz hoje 46 anos e está, por isso mesmo, de parabéns.
Acompanha-me, literalmente, desde que me lembro, e este facto faz dele mais um escorpião especial na minha vida. Muito próximos em idade, já que somente uns dias separam o seu nascimento do meu, recordo que durante muitos anos, do nosso já longo crescimento, eu era a mais alta, para além de ser, para sempre, a mais velha, o que me enchia de orgulho e satisfação, e me fazia olhar para ele como uma espécie de irmão mais novo que eu devia proteger.
O Paulo, de entre todos os meus primos e primas, de um e outro lado, foi sempre o meu preferido, o mais próximo, e foi sempre o meu companheiro predilecto de brincadeiras de criança em cavalgadas memoráveis nas videiras do nosso avô Rodrigo e corridas em equilíbrios instáveis pelos postes horizontais das ramadas. Era com ele que eu apanhava rãs nos charcos ao pé do grande tanque que nos servia quantas e quantas vezes de piscina. E faziamos corridas de rãs em pistas rectilíneas marcadas com partida e chegada. Colocávamos as rãs em posição, e era a ver quem mais berrava pela sua, incentivando-a a cortar a meta, em grandes saltos acompanhados de coaxares melodiosos. Uma alegria. E era com ele que eu fazia concursos de saltos de rãs para dentro de água em que pendurávamos as rãs pelas patas traseiras nos arames da ramada sendo que o vencedor era o dono da rã que se aguentava mais tempo pendurada, até mergulhar, de cabeça e na vertical, na água fresca do tanque. E fazia com ele corridas de sameiras, cabanas de índios nos troncos das laranjeiras, macieiras e pereiras da propriedade do nosso avô. Eram os anos sessenta. Anos sessenta vividos numa pacata e belíssima vila como era então Amarante. Os brinquedos não abundavam mas sobrava-nos a imaginação.
Um dia, algures pela nossa adolescência, o Paulo ultrapassou-me em altura. Colocados lado a lado para as marcações da praxe, que já vinham do tempo em que nós usávamos fraldas... surpresa das surpresas... para meu grande desgosto... era mesmo um facto... eu ficara irremediavelmente para trás em altura!
O mesmo não se passou nunca com a idade.
Quarenta e seis anos. Já, Paulo?!
Parabéns.
Apanhaste-me.
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