hugo.mon@clix.pt Alguém conhece este rato? II
A novela continuou logo no dia seguinte. Depois de lhe enviar as duas mensagens, recebi novo ataque insistindo nas mesmas críticas às apresentações em PowerPoint e estendendo agora a "crítica" à minha avaliação e às minhas práticas.
Agora e aqui só quero fazer um reparo ao rato de esgoto que não mais deu sinal de vida desde que eu lhe pedi para se identificar.
Não se atreva, "Hugo", a usar a palavra Liberdade neste contexto. Não se atreva a escrever "por amor à liberdade" e a invocar amor e liberdade neste contexto. Para este contexto deverá usar libertinagem, bandalheira, irresponsabilidade, covardia.
É também contra estas confusões que existe este blogue.
Nota - Xiiiiiii!!!!!! Que desgosto se eu vier a descobrir que este rato de esgoto é professor!!!!
15-05-2008
Exª Professora Anabela,
Quantos aos erros ortográficos por mim cometidos quero esclarecer que não tive a preocupação de rever o que escrevi por falta de tempo. Mas como deve compreender esses erros devem-se ao mau batimento de algumas teclas no teclado. Penso que o mesmo aconteceu consigo quando escreveu: «Tenho ainda a certeza que estimulo o gosto pela História pelo facto de ter alunos de 9º ano a ler, com gosto, a História de Portugal do Matoso.». Certamente que a Anabela sabe que o historiador, medievalista, a que se refere se chama José João da Conceição Gonçalves Mattoso. Mas, por amor à liberdade,não vamos por aí.
O que me levou a enviar o e-mail, no dia de ontem, são precisamente algumas críticas feitas precisamente pelos seus alunos e respectivos Encarregados de Educação pela limitada utilização de recursos nas suas aulas, ou seja, segundo os discentes, os conteúdos da disciplina de História são transmitidos unicamente com base em apresentações em PowerPoint. E, de facto, é discutível em termos pedagógicos, numa disciplina como História, a leccionação com base em apresentações PowerPoint. E, ainda, que a Anabela tenha utilizado mais recursos, o que por sinal, eu acredito, o facto é que essas apresentações levam a crer o contrário.
Mas o problema maior reside numa outra vertente: a avaliação. E aí, mesmo que não tenha assistido às suas aulas, já vi e analisei os seus testes de avaliação e fichas de trabalho. E, de facto, aí o seu trabalho é verdadeiramente discutível. Em primeiro lugar porque a sua avaliação se baseia essencialmente em testes sumativos, valorizando muito pouco a participação oral, a realização de fichas de trabalho.E o pior que tudo é que esses testes utilizam essencialmente questões que estimulam a memória, o decorar de factos, ou seja, as taxonomias de «Bloom» relacionadas com a aquisição e compreensão de conteúdos, e não a análise e avaliação. Certamente que a aquisição e compreensão de conhecimentos são competências importantes, mas um professor deverá sempre estimular os seus alunos e exigir patamares superiores. Eu não quero apenas que o meu filho tenha boas notas, mas quero sobretudo que ele tenha as competências necessárias para ter um bom aproveitamento no secundário e universitário. E a via «facilista» das suas aulas e testes não estimulam a excelência. E claro está, isso favorece os alunos «com baixo rendimento». Mas em todo estes sistema quem se preocupa essencialmente com os alunos que no contexto turma poderiam ser «explorados» intelectualmente com outra exigência. E todos sabemos que essa exigência cabe nos programas e planificações de qualquer disciplina. O problema é que os docentes para «calar» alguns Encarregados de Educação, geralmentes dos «baldas», e «preguiças», subvertem essa exigência e enveredam pela via facilista. Agora, o problema é que há muitos Encarregados de Educação que começam a perceber as dificuldades dos filhos quando chegam ao secundário e universitário, e claro começam a questionar como é que os filhos entre o 9º ano e o secundário «estupidificaram».É claro que não estupidificaram, o problema é que durante os 9 anos de escolaridade foram tratados como seres «limitados» a quem foi exigido o minímo por professores que apenas pretendem obter suceso estatístico. Ora, não me venha com orientações do Ministério para reduzir o insucesso, pois se cada professor cumprisse honestamente as planificações e competências que têm que desenvolver nos alunos certamente que o nível de exigência que a Anabela imprimia nas suas aulas seria bem maior. O problema é que cada professor se encolhe e escolhe o facilitismo. E diga lá honestamente que não o segue? Diga lá que enquanto aluna não lhe foi exigido mais do que exige aos seus alunos?
E já agora, uma última observação: relativamente à Visita de Estudo que durante a interrupção lectiva do Natal fez ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso penso que em termos pedagógicos deve reflectir sobre as suas estratégias. De facto, se planificou essa actividade como visita de estudo é porque foi utilizada como estratégia lectiva. Não acha grave durante o período de interrupção lectiva continuar a praticar actividades pedagógicas lectivas? Não acha que isso vai contra a legislação? Já pensou se a obrigassem a trabalhar nas suas férias em Agosto? Essas atitudes exibicionistas devem ser bem reflectidas sob pena de serem abertos precedentes com consequências imprevisiveis.
Sem mais,
obrigado pela atenção.
(A minha resposta 2 dias depois)
Hugo
Peço desculpa por só agora lhe responder, mas o atraso deveu-se ao facto de ter andado demasiado ocupada nos últimos dias, o que só me permitiu abrir o meu correio electrónico já a altas horas da noite. Assim, optei por só lhe responder hoje, sábado, de forma não tão apressada como a anterior, para não repetir infelicidades graves como a falta do t em Mattoso, falta involuntária pela qual peço igualmente desculpa .
Ponto um
Registo com agrado o abrandamento do tom "deita-abaixo" a que reduziu o seu comentário e que escolheu para entrar em contacto comigo pela primeira vez, presumo eu, na sua vida.
Ponto dois
Esta última observação leva-me a um primeiro reparo. O Hugo sabe que eu sou a Anabela Magalhães, que sou professora de História, e eu de si nem sei se o nome constante no seu endereço electrónico, Hugo, corresponde ao seu verdadeiro nome. Gostaria que o Hugo, ao entrar em contacto comigo pela primeira vez, tivesse tido a educação de assinar, assumindo a sua verdadeira identidade, assumindo o que escreveu. Gostaria que a sua segunda mensagem estivesse assinada com o seu nome.
Gostaria de, caso entenda entrar em contacto comigo mais vezes, assinasse o que escreve, assumindo-o, assim, inteiramente, tal e qual como eu faço.
Ponto três
Agradeço a sua preocupação sobre um tema tão fascinante e apaixonante como o da Educação. Agradeço a sua preocupação em acompanhar a minha actividade profissional em particular, muito embora desconheça a que se deve tão peculiar interesse. Gostaria que me facultasse essa informação satisfazendo assim a minha curiosidade/perplexidade.
Ponto quatro
Voltamos à questão das apresentações em PowerPoint.
De facto estas apresentações são utilizadas em contexto de sala de aula e são a base das minhas aulas. As apresentações, muito demoradas de estruturar e de construir, estão a ser feitas à medida das minhas possibilidades e das minhas necessidades, sendo que as iniciei durante o período das minhas férias para ir adiantando trabalho e para poder corresponder aos objectivos por mim traçados de as utilizar em todas as aulas, excepto aulas de dúvidas e revisões, testes, e aulas de carácter eminentemente prático, de pesquisa de informação em livros e na Internet, aulas de elaboração de trabalhos de grupo, aulas de visionamento de um ou de outro documentário que eu considero relevante para a consolidação dos conhecimentos.
Aconselho-o a examiná-las uma a uma. Só assim poderá formular um juízo de valor mais correcto. Não as interprete como um produto estático. Nem como um produto acabado. Serão reformuladas e limadas a partir de Julho data em que começarei a ajustar os meus recursos para o próximo ano lectivo. Só mais dois esclarecimentos. Nem todas as apresentações publicadas são exactamente as que eu utilizo em contexto de sala de aula e isto fica a dever-se ao respeito pelos direitos de autor. Uma coisa é a utilização de imagens em contexto de sala de aula; outra bem diferente é a sua publicação na Internet. O segundo esclarecimento prende-se com o facto das primeiras apresentações terem sido elaboradas somente para serem utilizadas durante a aula e depois serem feitas já com o fim último de as disponibilizar aos meus alunos. A minha página destina-se aos meus alunos, e por eles a fiz correspondendo a pedidos insistentes da parte deles. Como é óbvio com acrescento de trabalho da minha parte.
Avancemos. Já contestei um meu formador, numa acção de formação sobre novas tecnologias aplicadas ao ensino, quando ele afirmou que o PowerPoint era uma ferramenta muito estática que não permitia interactividade. Não é verdade. O que é verdade é que a maioria das pessoas que utiliza esta ferramenta não a sabe utilizar e projecta o diapositivo, lê o diapositivo e ponto final. Ora as minhas aulas não têm nada a ver com esta postura.
Aconselho-o a ver mais além. Bem sei que a apresentação em PowerPoint está envolvida em alguns equívocos e em muita ignorância por parte de pessoas que desconhecem em absoluto as suas potencialidades. Se eu lhe disser que já tive uma colega de História que desconhecendo completamente esta ferramenta contestou as minhas aulas afirmando que para o ensino da História nada substitui a análise do texto, do mapa, do gráfico...??!!! Só a mais completa ignorância pode explicar uma afirmação destas. E daí eu não ficar particularmente espantada com essas críticas levianas feitas por "alguns alunos e encarregados de educação".
Com efeito quando eu comecei a trabalhar arrastava comigo mapas, diapositivos, esquemas e árvores genealógicas em acetatos, o manual. Hoje em dia, dentro desta ferramenta chamada PowerPoint, tão atractiva e aliciante para os alunos cabe, como aliás já lhe referi, uma multiplicidade de fontes como os testemunhos escritos à época do acontecimento a conhecer, compreender e estudar; os textos escritos pelos historiadores interpretando esses acontecimentos; o gráfico; o esquema; a árvore genealógica; o quadro comparativo; o selo; a moeda e a nota; a fotografia de um monumento, de uma pintura, escultura ou gravura, de uma pessoa, de um documento manuscrito, de uma reconstituição; o cartaz; a planta e o alçado de um edifício; o mapa; a notícia de imprensa; a caricatura... e não sei se me estou a esquecer de alguma coisa que esteja dentro das minhas apresentações em PowerPoint e que são trabalhadas, geralmente a nível da oralidade, mas não só, porque também a nível escrito, em contexto de sala de aula.
Se tiver acesso aos manuais adoptados pelo grupo de História, na ESA, verificará rapidamente que as fontes a tratar na sala de aula constantes nas minhas apresentações são bem mais vastas e variadas do que as disponibilizadas pelo manual.
Assim sendo presumo que já terá entendido e percebido que a sua crítica continua a corresponder a irrealidades que não têm a ver com a minha prática lectiva.
Ponto cinco
Quanto à avaliação, para formular uma opinião sobre este ponto tão importante da minha actividade lectiva, teria de se pronunciar somente após o acesso a todos os registos de avaliação de testes escritos, de trabalhos de grupo escritos, de apresentações orais desses mesmos trabalhos, de registos de assiduidade, de pontualidade, de comportamento, de avaliação de cadernos diários.
Quanto à avaliação asseguro-lhe que cumpro o que está definido pelo meu grupo, na ESA, do qual eu faço parte sendo apenas uma peça entre muitas outras.
Não se esqueça que as competências para o terceiro ciclo se desenvolvem ao longo desse mesmo ciclo de três anos e que é impossível desenvolvê-las todas em simultâneo, até porque isto se liga à própria maturidade dos alunos que é, como sabe, completamente diferente num sétimo ano ou num nono ano.
O que lhe asseguro é que todas as competências específicas previstas pelo ME são trabalhadas pelos alunos em contexto de sala de aula. É evidente que nem todos as desenvolvem da mesma forma.
Quanto aos meus testes terem principalmente "questões que estimulam a memória" garanto-lhe que tal facto não passa de uma irrealidade. O Hugo não pode a partir de um teste, a partir de dois testes ou mesmo três, que sejam, formular um juízo de valor como aquele que formula. Para formular um juízo de valor a este nível teria de analisar todos os meus testes desde o primeiro ao último. Mais uma vez não se esqueça que a escolaridade se faz por ciclos de estudo e como deve calcular não fui eu que defini estas regras.
É verdade que a par do desenvolvimento de competências é necessário, do meu ponto de vista, algum trabalho no campo da memorização. Não a renego em absoluto. Como sabe nem toda a gente tem a mesma opinião havendo mesmo quem defenda o ensino à moda do meu tempo de aluna do Estado-Novo, em que era apenas a memorização que interessava e ponto final; mas também há quem defenda que a memorização não cabe no ensino actual.
Eu nunca gostei de extremismos, e tenho-lhes medo, por isso procuro conseguir um equilíbrio entre estas duas posições tão radicalmente opostas.
Ponto seis
Quanto ao meu facilitismo encontra-se mais uma vez enganado. Não confunda facilitismo imposto pelo ME com o meu suposto "facilitismo".
Senão vejamos.
Quando eu andava a estudar tinha de me esforçar a todas as disciplinas e tinha de alcançar um patamar mínimo de dez valores para poder progredir de ano sem problemas. Uma nota, a qualquer disciplina, inferior a dez levava-me ao chumbo imediato. No meu tempo de estudante o ME não me permitia uma falha. Mais tarde o ME permitiu que os alunos encostassem duas disciplinas, e mais tarde três e de laxismo em laxismo permitiu até que os alunos passassem chumbados a todas as disciplinas.
Com o novo Estatuto do Aluno já nem é sequer importante e imprescindível ao aluno ir às aulas e uma falta porque o aluno está numa cama de um qualquer hospital tem o mesmo tratamento duma falta em que o aluno saído de casa dos pais, não chega a entrar nos portões da escola porque ficou a fumar uns charros com os amigos. Para mim a primeira será sempre uma falta justificada e a segunda será sempre uma falta falta injustificada. Pois para o ME é "igual ao litro" e não tem qualquer importância. De prova em prova os professores acabarão por se cansar. Fico preocupada com este laxismo, protesto e volto a protestar, mas só gasto energias. E sabe a que se deve esta medida? Limpar uma elevada percentagem de chumbos do nosso sistema, porque como deve ter ouvido um chumbo de um aluno fica muito caro ao país.
E o que sabe sobre as escalas das avaliações serem alteradas a meio de um ano lectivo em que um aluno de nível quatro passa a sê-lo a partir de 70% quando antes só o era a partir do 75%?
E o que me diz sobre uma escala que pretende igualizar os alunos o mais possível dentro de grandes patamares uniformizadores e que é a escala de 1 a 5 usada por nós no 2º e 3º ciclos?
E o que me diz de dois alunos de 14 ou de 17 na escala do Secundário terem exactamente a mesma nota na pauta, ou seja um nível 4 no básico? Olhe que para mim estes alunos são bem diferentes!!
E o que sabe sobre a pressão interna que é feita sobre nós professores para não atribuirmos aos alunos nível negativo?
E o que sabe sobre toda a gente hoje em dia saber que um nível três é de facto um nível dois? Não sabia? Pois eu também não e ainda não consegui digerir.
E podia continuar.
Informo-o só que a minha exigência é muitas vezes apontada pelos meus alunos como um defeito na minha actividade lectiva o que me deixa deveras satisfeita. E informo-o que muito antes do ME se lembrar de avaliação de desempenho de professores como se nós não fôssemos avaliados anteriormente e como se não tivessem existido professores avaliados com não-satisfaz, já os meus alunos eram chamados, por mim, a pronunciar-se sobre a minha actividade lectiva e incentivados a colocar livremente as suas críticas no sentido de eu encontrar o melhor caminho, as melhores estratégias. E aqui está uma situação em que eu deixo os meus alunos à vontade para fazerem as suas críticas até de forma anónima, se se sentirem mais à vontade para isso. É a única situação em que eu aceito e permito anonimatos.
Informo-o também que guardo religiosamente estes registos, muitíssimo abonatórios da minha actividade lectiva. Os depoimentos que pode ler na página de recursos estão cortados onde os alunos começam a falar sobre mim enquanto professora. Também não eram para ali chamados, tendo eu o cuidado de só colocar aquilo que eles escreveram sobre a utilização das apresentações ou que decorre dessa mesma utilização.
Asseguro-lhe que aquilo que eu exijo aos meus alunos é muitíssimo superior em quantidade e em qualidade do que aquilo que me foi exigido a mim enquanto aluna. O que marcou a minha geração, na escola, foi o decorar puro e simples das matérias salvo uma ou duas excepções de disciplinas e de professores.
Não partilho da visão catastrofista de que os alunos não sabem nada hoje em dia e asseguro-lhe que há hoje muitos mais alunos com uma excelente preparação se compararmos com o meu tempo de estudante. Tenho discutido isto com amigos professores universitários que partilham da mesma opinião. A preparação dada pela escola de hoje é de nível muito superior à do meu tempo de estudante. Apesar do ME. E não se esqueça que no meu tempo estudava uma elite. Hoje está literalmente tudo na escola. E se calhar é aqui que reside a sua confusão.
Ponto sete
Relativamente à visita de estudo devo informá-lo que ela não se realizou em horário escolar pois os tempos lectivos da turma em questão, o meu 9º F, não eram/são coincidentes com os horários do museu. Facultei aos meus alunos o meu horário lectivo para conseguirmos ajustar uma hora mas aquela turma é uma turma da cidade e muitos têm outras actividades para além da escola. Apesar da minha total disponibilidade foi completamente impossível fazer de outra forma e entre faz não faz optámos em conjunto pela primeira opção e ajustamos, de comum acordo, um dia na primeira interrupção lectiva do Natal. A data não foi imposta por mim. Devo informá-lo de que a maioria dos alunos da turma foi à visita, e estava feliz, e usufruiu com extremo interesse da visita guiada pela Drª Cláudia Cerqueira que lhes gabou, no final dessa mesma visita, o interesse, a colaboração, a participação, a curiosidade, o comportamento e o facto de eles prescindirem de um dia das suas férias para estarem ali no museu. Assinalou mesmo esse facto como uma estreia na história das visitas guiadas por ela feitas e assinalou-o com grande satisfação. Como deve calcular eles ficaram babados. Eu também. Tenho as carinhas felizes deles documentadas em fotografias. Podia dizer-lhe que teria preferido ficar em casa. Não posso. Não corresponderia à verdade. Repetiria a experiência. Atitudes exibicionistas???!!! O Hugo não sabe o que está a dizer!
Ponto oito
Muitas das suas preocupações são também as minhas preocupações.
Espero que um filho ou filha sua venha a ser meu aluno/aluna se é que tal é possível. Certamente mudará de opinião a meu respeito e verá que eu sou honesta no meu trabalho.
Se sou perfeita?
Se acho que faço tudo bem?
Se não falho?
Se não erro?
Longe disso. E é essa consciência, em mim sempre presente, que me faz todos os anos trabalhar mais no sentido de melhorar a minha actividade enquanto professora. Sou extremamente auto-crítica. É feitio meu.
E estou nesta profissão, digo-lho também francamente, não por necessidade económica mas por necessidade intelectual. Até ao dia em que não suportar mais as asneiradas consecutivas da tutela.
E agora vejo que me alonguei em demasia e que já passa das 19 horas e eu ainda tenho de elaborar um teste para a semana... mania de não fotocopiar um já feito!!!
E ocorreu-me... tem a certeza de que não me está a confundir com outra pessoa?
Anabela Magalhães
Caro Hugo
Na esperança que não confunda o meu tique de professora, que todos os meus alunos lhe podem testemunhar, com arrogância, aqui lhe deixo mais duas correcções ortográficas.
Assim deverá escrever
Sucesso e não suceso
Imprevisíveis e não imprevisíveis
Lá está... outra esdrúxula...
Agradeço desde já todas as correcções que me puder fazer em troca.
Sem mais
Anabela Matias de Magalhães
19 de Maio de 2008
Caro Hugo
Hoje lembrei-me de si por duas razões.
A primeira tem a ver com uma dedicatória que lhe deixei na minha página de recursos.
Agradeço-lhe ter feito tocar uma campainha algures no meu cérebro povoado de neurónios tão irrequietos.
A segunda tem a ver com uns convites que lhe quero endereçar.
Gostaria de assistir às horas de trabalho, normalmente ao fim-de-semana, que me consomem as construções dos PowerPoints?
Gostaria de assistir a uma aula de História em data a combinar?
Gostaria de indagar junto dos meus alunos o que eles pensam de mim tanto a nível pessoal como profissional?
Gostaria de assistir à aula em que eles avaliarão o trabalho desta professora e em que serão incentivados, por mim, a avançar com críticas e a dar sugestões para um melhor desenvolvimento do meu trabalho, como é habitual em todos os finais de ano lectivo?
Gostaria de se deslocar à ESA depois de afixadas as pautas e de fazer um estudo sobre a minha avaliação?
Informo-o que as minhas turmas são o 9º G, 9º H e ainda 9º F.
Informo-o e esclareço-o desde já que se for pela calada da noite, como um rato, encontrará os portões fechados e o cão feroz à solta pelo espaço da ESA.
Convido-o também a visitar com regularidade o meu blogue. E a participar no debate de ideias que aí se faz também sobre educação. Olhe, curiosamente é o tema dos meus dois “posts” de hoje. Aqui poderá acompanhar uma pequeníssima parte do meu percurso, de crescimento, enquanto ser humano, e poderá ainda acompanhar uma pequeníssima parte do meu crescimento profissional, assim como o dos meus alunos satisfazendo, quiçá, assim, a sua imensa curiosidade sobre a minha pessoa. E este convite estendo-o aos seus filhos, se o Hugo os tiver. É que o meu blogue é bastante educativo como decerto se aperceberá rapidamente.
E se ainda não percebeu aquela explicação sobre os PowerPoints avise-me. Tenho todo o gosto em fazer-lhe chegar um esquema simplificado.
Sem mais e a aguardar as suas respostas
Respeitosamente
Anabela Matias de Magalhães
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
15 comentários:
Por que será que só me ocorrem provérbios depois de ler esta entrada?
Alguns, por sinal, bem contraditórios, pois que nem a sabedoria popular é perfeita.
"A palavras ocas, orelhas moucas" mas "Não é com vinagre que se apanham moscas."
Louvo essa tua capacidade e vocação de professora. Porque foi uma lição de elevação e profissionalismo que nos (lhe) deste.
Escuso-me a fazer mais acrescentos ou comentários à tua resposta educada, coerente, sistemática e pedagógica.
Mas não posso deixar de sublinhar alguns dos clichés e dos vícios que eivam a prosa desse cobarde: a culpa é todinha dos professores; qualquer bicho-careta os pode levianamente avaliar; um, dois, ou mesmo três insatisfeitos transformam-se no todo universal; as coisas resolvem-se minando o terreno e não com frontalidade; para me fazer melhor que os outros, aponto os erros deles mas escondo os meus; e “the last, but not the least”, jogando na antecipação uso do argumento da liberdade que (claro!) só pode estar de um lado, o meu.
Deixo-te com Vieira que pródigo é também nas lições:
«Com os voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus para vós, e o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes. Se acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e conhecereis que não sois aves, senão peixes, e ainda entre os peixes não dos melhores.»
Muuuuuuuistoa beijinhos!
O exercício argumentativo /contra-argumentativo continua a evidenciar uma Desigual Inteligência: poderá fixar-se em testes e fichas para avaliar toda a dinâmica e complexidade inerentes ao processo de
ensino-aprendizagem? Poderá pronunciar-se sobre os critérios de avaliação de um professor, desconhecendo os seus parâmetros e os do grupo disciplinar a que diz respeito? Poderá opinar sobre o que se passa numa aula, sem nunca ter estado presente, sem nunca ter assistido a uma única aula?
Como já referi ontem, não é a contra-argumentação que me aborrece, é a sua falta de fundamentos.
Falou com todos os encarregados de educação e com todos os discentes da Anabela, como o seu juízo universal indicia?
Não é verdade. Nem tão pouco humanamente possível. Não sei se falou com alguns. Mas esse argumento, aparentemente tão credível, é facilmente desconstruído: as extrapolações decorrentes de juízos particulares são sempre abusivas. Aliás, a ser verdade - a insatisfação dos encarregados de educação e dos discentes - certamente que a Anabela saberia, ao longo de três longos anos de trabalho com os alunos do 9º ano, através da figura do director de turma. Por que não teve uma única queixa?
O facto indesmentível é que não falou com todos os encarregados, nem com todos os discentes. Duvido que tenha falado com alguns. Sabe porquê?
Não me lembro de ter falado consigo. Não me lembro do meu filho, aluno da Anabela, ter falado consigo.
E vou parafrasear o meu filho,quando soube da sua crítica às aulas, à avaliação da professora: "Apelo à memorização?!"
"Se assim fosse, teria 100% nos testes, como acontece em algumas disciplinas!". "Apresentei o meu trabalho em powerpoint sobre o 25 de Abril e não me limitei a lê-lo! Expliquei-o, socorri-me de outros exemplos que não estavam no powerpoint, pedi aos meus colegas que respondessem a questões."
Sendo, por vezes, difícil provar a verdade, foi-me fácil provar a mentira!
É muito, mas mesmo muito, especial para mim receber o apoio destas duas Elsas. A primeira, distante fisicamente, e que só me conhece daqui, deste blogue. Mas que por isso mesmo já tem uma ideia daquilo que eu sou enquanto ser humano em mutação, crescimento e aperfeiçoamento constante. Recuso-me a estagnar. Recuso o abrutalhamento. Os meus neurónios não o permitem. Resistirei.
A segunda Elsa que me conhecia de vista até eu ser professora do seu filho, passando aí a ter uma maior aproximação à minha pessoa, que passou a ser muitíssimo maior através deste blogue, blogue este que é como as janelas de minha casa. Sem trapos, deixando entrar a luz e a paisagem exterior, deixando percepcionar ou mesmo ver os meus interiores.
Continuo em paz comigo mesma, sem esqueletos nos meus armários, a resolver os problemas à medida que eles me surgem da única maneira que posso e sei, e é a minha, directa e frontal, jogando limpo, lutando por aquilo em que acredito, adormecendo à noite em dez minutos.
Não posso deixar de endereçar uma última palavra ao Ricardo.
Foi para mim um prazer ser tua professora durante estes três anos que passaram a voar.
Obrigada pelo teu apoio. É um dos mais significativos para mim.
Professores e alunos, alunos e professores... não existimos uns sem os outros. Somos uma equipe, não é assim?
Beijinhos para os três.
É verdade, estamos fisicamente distantes. E se “com-vivêssemos” não sei como o fariam um escorpião e um aquário…
Ora acontece que, quando cá venho e tenho tempo, aventuro-me pela pré-história deste blogue, ou seja, pelo que já estava postado antes do marco histórico da minha chegada (repare-se na importância que dou à minha pessoa! Ah! Ah! Ah!), e ponho-me a espreitar pelas janelas sem trapos, fazendo o esboço mental da moradora…
Ora na incursão desta madrugada, na procura de esquecer as desditas que por cá vão, topei com mais um facto arqueológico que deve ser do conhecimento dos visitantes assíduos e fiéis, mas que eu ainda desconhecia. Lamento ter chegado tarde!
Então não é que descobri que também não concorreste a titular! É claro! Só podias como só podia quem é consequente!
«Muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa.»
Olá Elsa
Fiquei congelada no sétimo escalão. Como muitos já deveria estar no oitavo escalão, progredindo em termos profissionais com inteira normalidade.
Eu podia dizer-te que não me deixaram concorrer e que se me deixassem eu concorreria a toda a pressa. Não é verdade. Eu jamais concorrerei a esta invenção mira bulante de professor titular. Não porque não esteja disposta a concorrer às quotas que me permitirão fazê-lo, mas apenas porque alcançando essa posição quero publicamente dizer à "nossa" tutela que fique com esse presente envenenado que distribuíu pelos professores e que eles aceitaram, na maioria dos casos, tão alegremente. Não concorro a posições e títulos que mexem com o meu sistema nervoso porque visceralmente estou contra eles. Não me vou abastardar com rebuçados. E envenenados, porque correria sérios riscos de ficar irremediavelmente afastada da sala de aulas, o único sítio onde eu gosto verdadeiramente de estar na minha escola.
Ainda na sexta-feira perguntava na sala de professores "De quem é culpa última disto tudo? E se os professores, em bloco e unidos, se tivessem recusado a preencher este quadro que nos dividiu irremediavelmente?
Como se diz aqui na minha zona "não tiveram tomates".
E o problema é que continuam sem eles.
Elsa
Vais encontrar dias muito mais felizes, mas também dias muito mais infelizes.
Em suma, vais encontrar a vida. A minha. Não toda, mas uma parte.
Beijos
Fica bem
Anabela!
Não perca tempo e energia com esse rato. Vá em frente e continue a ser aquela professora entusiasta e dedicada que todos sabemos que é.
Ramiro Marques
Sorry, Elsa, saíu-me mira bulante!!!! Xiii, estou mesmo a precisar de descanso.
Mirabolante, é o que é! :)
Obrigada, Ramiro, pelo seu apoio. Provavelmente nem sabe o quanto esse apoio é significativo para mim.
Isto não é la muito normal mas ha pessoas com descaramento para tudo... Este "rato" não deve falar assim de uma pessoa, que neste caso é a minha prof de história, pois nem sabe como são as aulas e tem o descaramento de dizer que as aulas nao "prestam"...Stora vou fazer tudo por tudo para descobrir quem é este "rato" pois ele não tem o direito de falar assim da melhor professora de história da ESA, que ainda por cima é minha professora.....
Ruizinho, também não é preciso exagerar...
É claro que gosto que gostes de mim enquanto professora mas não generalizes assim isto. Não conheces todos os professores de História da ESA. Eu percebo a tua zanga. Eu também fiquei zangada. Mas não faças extrapolações sobre aquilo que não conheces.
Ok?
Beijinhos e obrigada pelo teu apoio.
Segunda lá estamos com o mesmo entusiasmo de sempre.
Pódiás assínáre Rátó dé ésgotó!
Também lhe disse isso, João Pedro!
E o rato não mais deu sinal de vida. Era de esperar.
Póís érá!
Rátó dé méíá téjélá
Admiro a coragem, a frontalidade, a firmeza, a honestidade das tuas respostas.
Mas achas mesmo que merece a pena responder a gente desta? Não vale! Não há palavras, argumentos , esclarecimentos que transformem ratos em seres humanos.
Não percas tempo com estas coisas. Desprezo!
Beijinhos Anabela.
Enviar um comentário