domingo, 7 de abril de 2013

Escola Pública - Cheiro a Morte Docente

 
Escola Pública - Cheiro a Morte Docente

Hoje partilho um excelente e sentido texto publicado no facebook pela Maria João Serpa, nna página do grupo Fórum - Plataforma pela Educação, professora de EVT, companheira de lutas várias, pessoalmente conhecida aquando da primeira vigília convocada pelo que se viria a constituir como Escola Pública - Plataforma pela Educação.
Este cheiro a morte, sentido pela Maria João Serpa entre os seus pares de EVT, já o senti igualmente entre os nossos pares de História, de Português, de Francês, de Química, de Ciências, de Matemática... de... de...
Senti-o principalmente nas ausências esmagadoras de nós que tenho presenciado em todas as acções de luta em que tenho participado activamente, convocadas pela FENPROF, pela sociedade civil, pela Plataforma pela Educação...
Senti-o, muito, na última manifestação de professores a que fui a Lisboa, em 26 de Janeiro do presente ano, que me fez escrever um post triste aqui. A falta de energia e entusiasmo presente nos presentes, passo o pleonasmo, foi notória e nunca antes observada por mim assim nesta dimensão esmagadora.
Não, não estamos bem. Basta olhar para o lado. Basta até fazer um pouquinho de futurologia e adivinhar quantos participarão na reunião marcada pelo meu sindicato para discutirmos entre nós o que nos aflige, o que estamos dispostos a fazer, sim, independentemente de sermos sindicalizados ou não. Ninguém terá essa desculpa. Poderá haver gente que não pode ir por estar menstruada, porque não está para aí virada, porque não acha importante dar a sua opinião sobre um momento dramático e único que aflige pelos vistos só alguns, porque teve um súbito ataque de caspa, de unhas encravadas até, mas de se agarrarem à desculpa de que a reunião é só para sindicalizados e que a FENPROF só quer ouvir as "suas" hostes, ai essa não!
Veremos o que se vai passar na EB 2/3 de Amarante que por certo não será muito diferente do que se vai passar nas outras escolas, um pouco por todo o país. Veremos quem está disposto a dar o corpo ao manifesto. Temo... mas quem, diacho!, pode defender os nossos interesses se nós não estamos capazes de lutar?

E agora dou a palavra à Maria João Serpa afirmando alto e bom som que hoje, assim, preferiria nunca ter de lha dar.

"Ontem vi um grupo morto...
Na apresentação dos manuais da Porto Editora, onde estavam cerca de 200 professores de EVT, respirava-se desespero, desânimo e pessimismo. Eu, nos meus 41 anos, deveria ser das mais novas, mas todos tínhamos o mesmo cheiro: a depressão, a stress psicológico, a Burnout (palavra tão na moda...). Colegas com cerca de 20 anos de serviço, que efectivaram logo a seguir a acabarem o curso, já vão para a 4ª (sim, quarta!) substituição! Porque tiveram o azar de ser DACLs. Colegas que, sendo DACLs, não trabalharam ainda este ano. Colegas que, sendo DACLs, concorreram a quase tudo e com isso ficaram a mais de 50 km de casa e da escola onde estão efectivos. Colegas que já foram várias vezes às urgências dos hospitais porque estavam com graves problemas, provocados pelo sistema nervoso. Colegas que fazem das tripas coração para continuarem a fazer o que sempre fizeram: serem excelentes profissionais e darem o seu máximo. Porquê, pergunto eu, porquê?? Todos estávamos perdidos, sem saber que porra são estas metas, sem saber que porra andamos nós a ensinar aos alunos.
Ontem vi um grupo morto, dizimado por meia dúzia de tipos atrás de uma secretária comandada por mentirosos, egoístas, gananciosos e pelas costas largas, justificadas ou não, da Troika.
Ontem tive a certeza que tínhamos morrido!
Venha outro governo ou não venha, o espírito que fazia EVT estar vivo está agora enterrado. O amor à camisola que fazia ir mais longe teve as pernas cortadas.
O que somos nós, no meio disto tudo?? Quem somos? Para que existimos??
Ontem doeu-me a alma, ao ver que tantos, como eu, sobrevivem à custa de ansiolíticos e antidepressivos. Tantos que, como eu, já respiraram felicidade, são agora uma sombra de si mesmos...
EVT morreu, e com ela a felicidade de amar aquilo porque se dá tanto de nós, o ensino, os alunos. Pode, como Fénix, ainda vir a levantar-se, até ainda poderemos sonhar com isso, mas os danos, as feridas, as cicatrizes ainda vivas estão todas lá, na nossa alma, no nosso corpo, no nosso ser.

A todos os que, como eu, lutaram com quanta garra tinham no corpo, um BEM-HAJA! Tenho orgulho de ter estado ao vosso lado!!! Tenho orgulho de dizer: SOU PROFESSORA DE EVT!!"

6 comentários:

bibónorte disse...

Um abraço à colega Maria João que tâo bem descreveu o estado de alma de milhares de professores.
Um abraço também para ti, Anabela.
Obrigada por não desistires.
Os profs mais velhos "morrem" de desânimo e de cansaço mas os mais novos estão "mortos" há muito.
Estou cansada dessa gente que nunca levanta a "peida" para nada.
Na minha escola somos 11. Sabes qtas foram à manif? Duas! As mais velhas, eu com 55 e outra com 57
Os que ficaram são bem mais novos.
Como vês...
maria

Gi disse...

Obrigada, Anabela, por levantares a voz desta mágoa tão grande que vai no peito de quem será sempre professor de EVT.

Obrigada, bibónorte, é difícil ver a tristeza e o vazio estampados nos rostos que se conheciam apaixonados...

mjoão

Anabela Magalhães disse...

Desistir não faz parte do meu código genético, nem do da Maria João, nem do teu, Maria! O que não nos cega nem nos impede de observar o que se passa à nossa volta. E à nossa volta vai um desencanto e uma tristeza... rsrsrssrsrs. Temo que nos decepem e que o grosso da classe estique o pescocinho no cepo com pouco mais que um gemido inaudível...
Estamos presos por fios...
Beijo grande, Maria! E Bibónorte!

Anabela Magalhães disse...

Não tens de me agradecer, maria joão. A minha luta, não sendo de EVT, é exactamente a tua luta.
Beijo grande com muito carinho e admiração por ti!

mjoao disse...

O carinho e o respeito são recíprocos, Anabela. Uma das poucas coisas boas desta luta interminável é ter o prazer de conhecer gente como tu!

Beijo grande

Anabela Magalhães disse...

Digo-te o mesmo, Maria João!
Beijo grande!

 
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