"Será Que Vi Muitos Camelos?" - Ria de Aveiro
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Garanto que não me vou pronunciar directamente sobre a desgraça ocorrida no Meco, ao que parece de algum modo relacionada com as praxes académicas. Mas vou pronunciar-me sobre as praxes no abstracto.
Ao tempo em que ingressei na Faculdade de Letras da UP, na passagem dos anos setenta para os oitenta, fazia-se para lá qualquer coisa, ao que sei umas brincadeiras inofensivas tal como os alunos mais velhos irem dar umas aulas à caloirada... mas nem isto posso afiançar que existisse porque nunca participei em nada voluntária ou involuntariamente e, de facto, nunca assisti a coisa nenhuma. Presumo que fosse ritual rápido, reservado à primeira semana de aulas ou coisa que o valha.
Entretanto fui sabendo pela comunicação social e por testemunhos de familiares e filhos/as de amigos/as que a coisa involuiu, frequentemente, para um ritual abjecto e indigno de qualquer Ser Humano que se preza de o Ser. Ao ponto de, aqui e ali, alunos não aguentarem as praxes e pedirem mudança de faculdade. Ao ponto de as praxes serem notícia, volta e meia, pelos excessos cometidos pelos praxadores sobre os praxados, ao ponto de termos de lamentar vidas interrompidas, perdidas, nas animalidades dos momentos. Imperdoável!
Confesso que nunca tive muita paciência nem para as brincadeiras mais inocentes e acho tudo isto uma pura perda de tempo, o mais das vezes traduzido em humilhações que eu abomino, já para não falar das violências verbais e mesmo físicas que de quando em vez explodem apenas porque sim e eu não admito. Confesso que nunca me dei bem em bando, os bandos nunca condicionaram o meu pensamento nem a minha acção, nunca prescindi de pensar pela minha cabeça e, vai daí, penso. Ainda hoje continuo a pensar.... tenho esta mania... e penso.
E penso que, se a Praxe académica, ou simplesmente praxe, é um conjunto de práticas que, alegadamente, visa a recepção e integração dos novos estudantes nas instituições de ensino superior em que ingressam, então o que os mais velhos deviam promover uma recepção carinhosa, calorosa, digna e respeitadora para com os mais novos, mostrando-lhes os cantos da casa, as instalações da respectiva faculdade, a biblioteca, a cantina, a secretaria, as salas de aula... enfim, dando-lhes as boas vindas a essas casas que, convém não esquecer, são, acima de tudo, locais de estudo que se querem dignos, arejados, limpos e asseados.
As praxes, tal como as vejo neste trailer, são animalescas, indignas, indecorosas, humilhantes, enfim, abjectas e garanto-vos, a mim ninguém mas fazia. E apenas por uma razão - eu não deixaria!
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