Hoje foi dia de regressar às aulas, aos alunos da minha direcção de turma, alunos que agora frequentam o 8.º ano de escolaridade, para os discursos costumeiros.
Falei-lhes do melhor aluno da minha turma de secundário, aquele que era o mais pobre de nós todos, que era filho de agricultores analfabetos, que não tinha água canalizada em casa e que também não tinha luz e que, por isso, estudava à luz das velas e se licenciou em Direito fruto de muito esforço e dedicação e que, assim, fintou um destino madrasto conseguindo, numa geração, uma mobilidade social brutal.
E falei-lhes dos excelentes alunos que foram meus / nossos até ao fim do ano lectivo passado e que agora brilham no 10.º ano e também daqueles que já se encontram no 12.º ano e que igualmente brilham fruto de uma formação sólida e consistente que passa, obrigatoriamente, pelo esforço de cada um deles. E falei-lhes do orgulho que todo o(a) professor(a) sente quando, na rua, é abordado por estes alunos, que nunca deixarão de ser nossos muito embora já não povoem as nossas salas de aula, para nos dizerem, entre muitos sorrisos, que a sua formação continua a ser feita sem sobressaltos... sim, com muito trabalho e esforço da parte de cada um deles e que sim, que têm a noção e a consciência que a formação que lhes foi dada na E.B. 2/3 de Amarante foi muito sólida e lhes permite agora voar em direcção ao futuro que cada um pretende alcançar.
E foi tempo de chegar ao TPC. Não de férias, claro está!, que nunca os marquei.
Vá lá, respondam com honestidade... quem faz o TPC semanal que é ler em voz alta, no manual de História, a matéria que vai ser abordada na aula seguinte? E quem sublinha as palavras difíceis ou de significado desconhecido que encontra na leitura? Quem as anota no portefólio e vai procurar o seu significado no dicionário?
E, tal como eu já sabia, basta folhear os portefólios deles para saber ser uma impossibilidade as secções "Palavras difíceis e sinónimos" estarem um período inteirinho em branco, nem um dedito se levantou para me dizer "Eu, professora!"
Bom... passo seguinte... e quem pretende passar a fazer este exercício tão simples e tão rápido de fazer? Dois, três dedos no ar... bolas, tão pouco!
Registei a honestidade e fizemos um TPC agora transformado em TPA.
Vamos lá então fazer um exercício destes, cronometrado. Quem quer ler? Obrigada, X! E vamos começar! Cada aluno vai sublinhar as suas palavras difíceis, ok?
E passamos à leitura de uma página interessante, a pedido deles, do manual. O X. demorou três minutos e encontrou uma palavra difícil - aculturação. Outros sublinharam, para além desta, miscigenação e outros ainda tribal. Ok! Cada um anota no portefólio as suas palavras difíceis e vai procurar no livro ou no dicionário. Claro que quem tem um vocabulário mais rico terá, em princípio, menos trabalho a realizar. O conceito de aculturação estava no livro e ocupava uma linha e meia.
Ok! Então o X. demorava... quanto tempo a fazer este TPC? Cinco minutos? Vá lá, lentamente, dez minutos?
E continuei alertando-os para a importância do português para que consigam obter bons resultados a todas as disciplinas e para a importância de fazerem um exercício metódico como este. Não se prossegue a leitura de coisa alguma se não percebemos o que nos está a ser comunicado, se não conseguimos descodificar o seu significado.
Ok, quem vai passar a fazer este exercício em casa? Muitos deditos no ar... mas nem todos!
Pergunta ao contrário... Quem vai continuar a não realizar este TPC? Bolas, três dedos levantaram-se.. dois masculinos e um feminino continuam a resistir, a resistir, a resistir... aprender!
E agora?
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