terça-feira, 19 de junho de 2007

Velório


Fotografia de Família - Régua

Velório

Passei a tarde de ontem no velório da minha tia Graça, uma das muitas irmãs da minha mãe. De oito irmãos restam agora três. De sete raparigas e um rapaz restam agora três irmãs. Nada de especial. Nada que não aconteça em todas as outras famílias. Mortes. Nascimentos. A uns sucedem-se os outros. Lei da vida. E a vida renova-se. Não existe um momento sem o outro. E se a passagem do tempo é democrática e igualitária, a morte também o é. Não nas circunstâncias, mas não é isso que me interessa, isso são simples acessórios, mas no fim, em si mesma.
A família da minha mãe acusa a mudança de mentalidade dos portugueses durante todo o século XX. Os meus avós tiveram oito filhos. Destes, três não tiveram qualquer descendência, três deles tiveram dois filhos, um teve três filhos e um apenas um filho. A vida tornava-se mais complicada para todos, mais exigente, as mulheres ingressavam no mundo do trabalho, deixavam de ser domésticas e era pois complicado ter proles assim tão numerosas.
Somos pois dez primos, do lado da minha mãe, do lado da Régua. E atendendo ao número de filhos que os meus avós tiveram até somos bem poucos.
Ontem tive a oportunidade de rever alguns e dizer as frases do costume "Só nos encontramos nestas alturas". Altura para interiorizar que o meu primo mais velho já está sexagenário e há vários que estão à bica. Não é o meu caso que estou "só" quase cinquentona. Mas também, mais novo que eu, só há um primo, igualmente quarentão.
Oportunidade para interiorizar que, de todos os netos, somente dois herdaram a cor dos olhos do meu avô materno. Azul. E este é o meu avô responsável pelo meu nome esquisito, Pilroto, nome estrangeiro que ele herdou do seu pai ou do pai do seu pai, pelo que sei um galego anterior que se fixou na Régua.

Oportunidade para relembrar as viagens mensais da minha infância à Régua, por uma "estrada" curvilínea e estreita, em macadame, que me provocava enjoos sem fim.

Oportunidade para rever a minha tia Graça, agora infelizmente já sem vida, e que eu sempre associarei a boa disposição e delicioso bolo de prata com coco.
Até já, querida Tia Graça!

2 comentários:

Helder Barros disse...

Antes de mais, os meus sentimentos.
Sabes escorpion blue (nunca cinzentão) que apreciei a tua descrição das idas à Régua por estradas curvíleneas. Há uns tempos atrás, como sou ciclista amador, fui subir alguns troços dessa antiga estrada para Régua... fabulosa! É aquela história dos caminhos, às tantas dei-me a pensar que estórias aquela estrada já viveu, quando era a única estrada para o Douro profundo, assim como para quem não conhecer a estrada real que atravessava o Marão e passa na minha casa em Fregim e que o Camilo cita nas "24 horas de liteira"; e a nossa antiga n.º 15, que históri ela carrega, tantas viagens. Adoro histórias sobre caminhos, têm muita vida, muita estórias para a história. Gosto de filmes sobre estradas, desde que vi o "Route 66", estrada mítica que atravessa a América. E, se calhar, também é por isso que adoras os teus caminhos da Barca. Também amo ir ao Douro, porque já foi uma estrada fluvial; é um rio com muita história humana; para mim é um Rio mistico. Madame Pilroto, adoro os Durienses! E os caminho fisico e interiores! Que Alá te ponha sempre a percorrer caminhos com história e estórias!

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, Helder.
Como sabes eu também adoro caminhos. Os visíveis e os invisíveis, os exteriores e os interiores. E as suas estórias. Caminhos e estórias fazem parte de qualquer um de nós.
Neste blogue vou partilhando alguns caminhos e algumas estórias.
Sem ser egoísta, outros e outras guardo para mim.

 
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