domingo, 10 de junho de 2007
Selos Chineses
Mr. Armand
As idas ao deserto proporcionam experiências inesquecíveis e estranhas. Na última noite de deserto passada na Líbia, estava previsto jantarmos e dormirmos num acampamento da África Tours com infraestruturas mínimas de apoio ao bicho turista que se aventura por aquelas bandas. Eis que estamos a chegar, todos esbodegados, depois de quatro dias passados em pleno deserto e, "Meu Deus! Sanitas! Chuveiros!" Acho que alguns pensaram que estavam a sonhar e outros perderam mesmo a cabeça...Foi o caso do Zé Tó que não quis saber de mais nada. Toca a saltar para debaixo de um chuveiro. Passado um bocado ouve-se o dito aos berros "Maria Salomé! Esqueci-me de tirar as cuecas!" E pronto todo o grupo ficou a saber que o Zé Tó, na sua aflição de tomar um bom duche, foi para debaixo dele de cuecas e tudo.
Não foi evidentemente o meu caso. Não sou assim tão precipitada. Além de que amei os banhos tomados em plena Natureza, em pleno deserto!
No centro do acampamento havia uma espécie de bar, rudimentar, com algumas cadeiras e, numa delas, sentado, estava um senhor de cabelos já brancos, alto e bem constituído, dos seus sessenta e muitos anos. Quando passei por ele cumprimentei-o em francês, ele retribuiu e... desatou a falar comigo. Sentei-me ao pé dele e satisfiz a sua curiosidade. Quis saber qual era a minha nacionalidade, qual era a minha profissão, em que circunstâncias tínhamos chegado ali... e falou dele, do seu amor pelo deserto que descobriu somente aos sessenta anos aquando da sua reforma. Tinha chegado ali ao volante do seu jeep, vindo de França, e estava previsto que a sua viagem durasse três semanas. Disse-me que tinha três casas em França, uma na praia, outra na montanha e uma outra de cidade e que estavam todas à minha disposição. Entregou-me o seu cartão de visita, mostrou-me a sua agenda pessoal com datas de acontecimentos importantes para a sua família, a que não podia faltar, como aniversários de filhos e netos, e as datas das suas viagens... várias... e longas. Em Maio estaria em Portugal para um encontro/raly de carros antigos. Deixei-lhe os meus contactos. Combinamos que me telefonaria e que passaria por Amarante. Foi uma boa hora passada a conversar enquanto os outros faziam figuras tristes nos chuveiros!
As férias acabaram. Retornei a casa e não pensei mais no assunto. Até receber o seu telefonema. Estava em Amarante. Levei-o a almoçar ao Zé da Calçada e conversamos calmamente... do deserto. O sr. Armand mandou-me para o Egipto, para a Mauritânia, para o Mali, para a Argélia. Nunca esquecerei as suas palavras. "Podes tirar uma licença sem vencimento? Tira! Vai para o deserto!Olha para mim... o tempo passa muito depressa!"
O sr. Armand deve ter agora mais de setenta anos e é para mim um exemplo.
Recordo-o porque recebi um postal da China. O sr. Armand está a fazer uma viagem de sete meses pela Ásia, três deles na China. Está no deserto de Gobi e está adorar. Pelo que eu conheço dele nem poderia ser de outro modo!
Moral da história: Haja saúde e a nossa idade é aquilo que nós quisermos!
Porque é um estado de espírito!
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