sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Avarias, Oficinas e Mecânicos




Mecânicos - Nouakchott - Mauritânia
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Avarias, Oficinas e Mecânicos

No final de Julho de 2006 iniciámos uma viagem de jeep que nos levaria de S. Gonçalo até à capital da Mauritânia, Nouakchott, e que iria revelar-se, mecanicamente falando, uma viagem/aventura extraordinária e, a dado momento, até algo desesperante.
A viagem foi feita por etapas, longas, debaixo de um sol por vezes impiedoso. Ar condicionado desligado, para não forçar muito o nosso caquéctico Land Rover, e tudo sobre rodas até ao Sahara Ocidental.
A caminho de Dakla o jeep começa a assobiar e a perder potência. Ora, um jeep que assobia é sinónimo de chatice, e a perder potência é sinónimo de chatice acrescida. Vai daí, chegados a Dakla, ex-Vila Cisneros do tempo da colonização espanhola, o tipo foi logo recambiado para o mecânico que lhe diagnosticou um "big probléme" - morte do turbo.
Bolas! E eu que nem sabia que um turbo podia morrer.
E agora como íamos descer a Mauritânia, pela praia, até à capital? Big probléme mesmo!
Feito o diagnóstico, o mecânico passou à acção, e desligou o dito. E nós passamos a deslocar-nos à velocidade máxima de 80/90 Km/hora, embaladinhos nas descidas suaves das estradas
saharianas. Bonito!
Mas lá conseguimos atravessar a fronteira sem problemas mecânicos de maior, excepto uma nuvem de fumo negro e espesso que nos acompanhava sem nos largar um segundo. Chegados a Nouadibou, uma das principais "cidades" mauritanas, segunda ida ao mecânico, que lá desapertou e apertou peças e tubos, e nos garantiu, depois de algumas horas de trabalho, que o jeep estava ok.
E assim nos aventurámos rumo ao sul, por uma estrada deveras escaldante, sempre sempre rodeados de deserto, de areia e de dunas mais ou menos altas. O jeep acusou o esforço. E chegou à capital a largar um rasto de fumo e, descobrimos nós no dia seguinte, a largar também um rastito de óleo. Bonito! Agora dera-lhe para perder óleo! E foi pela terceira vez ao mecânico. Foi onde o A. fez as fotos acima postadas. A "oficina" era um espaço assustador, deprimente e sujo, e mais parecia uma lixeira. Os "mecânicos" até eram esforçados e simpáticos mas, coitados, nem percebiam do assunto, nem tinham as ferramentas mais elementares para apertar e desapertar as peças que entretanto iam saindo do motor. Azar! O jeep passou ali o dia e saiu pior do que entrou. Agora perdia óleo a rodos e no dia seguinte só nos restava procurar outro mecânico onde o jeep foi pela quarta vez estagiar. E até parecia que estava melhorzito, mas eis que começa a deitar um fumo branco altamente preocupante. E agora?
Acabámos salvos in extremis por um italiano, dono de uma oficina na capital e que sim, funcionava quase como uma oficina normal. Acabámos por negociar um turbo usado que nos traria quase até Tan-Tan e que pifou completamente no meio do deserto, no meio do nada, fazendo-nos accionar o seguro de viagem.
Seríamos resgatados depois de uma noite dormida ali mesmo no jeep, em pleno deserto.
Evacuados para Agadir, onde apanhámos um avião que nos traria até ao Porto, acabaríamos por chegar a casa... de táxi! E nada mau. O jeep chegou quase três meses depois.

2 comentários:

Isabel Preto disse...

Que aventuras! Isso das oficinas, parece uma epopeia! Só mesmo assim, para se notar bem as diferenças entre "nós e os outros"...

Anabela Magalhães disse...

Ah! Estás aqui!
Pensei que tinha perdido o comentário, Isabel, por presumir, mal, que o tinhas enviado para o post "Avaria".
Há muitas diferenças entre nós e os outros. Umas jogam a nosso favor, outras a favor deles! E ainda bem que assim é.
Beijocas

 
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