Fotografias de Anabela matias de Magalhães
Chuva
Finalmente chove.
Começou ontem à noite. Chuva a sério. Como eu gosto. Chuva a rodos. Chuva a potes. Chuva a cântaros. Detesto dias de chuva miudinha, dias de chuva molha tolos, dias de chuva em que a chuva nem ata nem desata. Pelo contrário, gosto dos dias em que a chuva cai forte, em pingos grossos e graúdos que molham sem dó nem piedade qualquer um que se aventure a andar no meio deles, com ou sem guarda-chuva.
Durante anos circulei à chuva, dando corridinhas, esperando abertas, esgueirando-me para debaixo dos beirais, fintando a chuva.
Com a idade vieram os óculos e a necessidade imprescindível do uso do guarda-chuva que finalmente me acompanha em dias como este. Impossível sentir mais o prazer de circular à chuva, com óculos completamente molhados e opacos dos pingos da água colados aos vidros curvos.
Mas continuo a observar com gosto os pingos que se agarram aos vidros das janelas cá de casa, fazendo composições abstractas de água pingada e escorrida. E continuo a ouvir com gosto o barulho da chuva forte que se abate nas coberturas e telhados enquanto eu, cá em baixo, me enrosco numa manta no sofá e me abandono, por momentos, sem fazer nada, ao som melodioso da chuva.
2 comentários:
E vou por aqui abaixo e depois das nocturnas estas também são poesia... daqueles dias que de quando em vez temos... e vou deixar de comentários... Parabéns...
Obrigada pelas suas palavras de incentivo.
Vou tentar recuperar o meu equilíbrio interior... apesar da tutela.
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