Crianças - Bojador - Sahara Ocidental
Fotografia de Artur Matias de Magalhães
Estratégias
Ontem à noite evadi-me para longe daqui. Para as montanhas rochosas do Akakus, para as dunas colossais do deserto, para longe do ruído que por vezes estoura na minha cabeça. É uma estratégia minha. Uma estratégia consciente e deliberada que me permite ser mais feliz. Quando uma viagem me deprime de má, regresso a casa e começo a planear a próxima, só para me entusiasmar com o processo, só para arrumar definitivamente na minha cabeça o que me incomodou, o que me zangou, o que me entristeceu. Quando sou ultrapassada pelos acontecimentos sem conseguir ter mão neles e dar-lhes a volta, quando me sinto à mercê de não sei o quê, deito-me e durmo esperando ver as coisas de forma mais optimista ao acordar. Ou então evado-me mentalmente da choldrice, evado-me mentalmente para pessoas de quem gosto particularmente e, mais frequentemente, evado-me para lugares. Invariavelmente evado-me para o silêncio da Barca, para o silêncio do Sahara.
Foi o caso de ontem. Cansada duma semana em que o desânimo e a confusão se apoderou da escola e em que o que mais ouvi foi frases como "Se pudesse ia embora já hoje." " Até falei com o meu sogro para ver se me arranjava um emprego fora da escola." Já não aguento mais." "Vou sair penalizada mas não me importo." "Estive a fazer contas para a reforma. Já só tenho de trabalhar mais um ano.", confesso que cheguei ao fim da semana como se carregasse o mundo nas costas, cansada do ambiente docente, que nunca foi este e que sempre foi, até aqui, optimista e enérgico.
Ingressei na docência no longínquo ano de 1988 e desde aí não mais parei, não interrompi nunca a minha actividade e confesso que estou perplexa com o que se está a passar. Nunca vi ou senti nada assim.
Por isso aqui deixo os meus parabéns à tutela. Se a intenção é desmoralizar os professores, baralhar e tornar a dar, achincalhar, maltratar, estão a conseguir.
Ontem à noite evadi-me para longe daqui. Para as montanhas rochosas do Akakus, para as dunas colossais do deserto, para longe do ruído que por vezes estoura na minha cabeça. É uma estratégia minha. Uma estratégia consciente e deliberada que me permite ser mais feliz. Quando uma viagem me deprime de má, regresso a casa e começo a planear a próxima, só para me entusiasmar com o processo, só para arrumar definitivamente na minha cabeça o que me incomodou, o que me zangou, o que me entristeceu. Quando sou ultrapassada pelos acontecimentos sem conseguir ter mão neles e dar-lhes a volta, quando me sinto à mercê de não sei o quê, deito-me e durmo esperando ver as coisas de forma mais optimista ao acordar. Ou então evado-me mentalmente da choldrice, evado-me mentalmente para pessoas de quem gosto particularmente e, mais frequentemente, evado-me para lugares. Invariavelmente evado-me para o silêncio da Barca, para o silêncio do Sahara.
Foi o caso de ontem. Cansada duma semana em que o desânimo e a confusão se apoderou da escola e em que o que mais ouvi foi frases como "Se pudesse ia embora já hoje." " Até falei com o meu sogro para ver se me arranjava um emprego fora da escola." Já não aguento mais." "Vou sair penalizada mas não me importo." "Estive a fazer contas para a reforma. Já só tenho de trabalhar mais um ano.", confesso que cheguei ao fim da semana como se carregasse o mundo nas costas, cansada do ambiente docente, que nunca foi este e que sempre foi, até aqui, optimista e enérgico.
Ingressei na docência no longínquo ano de 1988 e desde aí não mais parei, não interrompi nunca a minha actividade e confesso que estou perplexa com o que se está a passar. Nunca vi ou senti nada assim.
Por isso aqui deixo os meus parabéns à tutela. Se a intenção é desmoralizar os professores, baralhar e tornar a dar, achincalhar, maltratar, estão a conseguir.
Eu por mim confesso que continuo recorrer às minhas estratégias pessoais para na segunda-feira me apresentar aos meus meninos enérgica, optimista, entusiasmada, feliz, esperançada no futuro. Por isso postei estes miúdos fotografados numa descida à praia, algures muito perto do cabo Bojador. Miúdos que ficaram guardados na minha memória pela alegria espontânea demonstrada, pela curiosidade em querer saber coisas sobre nós, pela calmaria que reinava naquela praia imensa e onde só estavam eles acompanhados do seu professor que sorria satisfeito apreciando a cena.
E por uma questão de estratégia acabo o "post" remetendo-me para o mítico cabo Bojador, representativo da superação das dificuldades, das armadilhas dos ventos e das correntes, das calmarias enganadoras, dos escolhos, dos monstros domados e dominados, dos muros ultrapassados, dos nós desatados.
Porque teremos de superar os nossos cabos. Porque, inevitavelmente, teremos de chegar a porto seguro.
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