quinta-feira, 13 de março de 2008

A cultura é indomável

Revejo-me em cada palavra dita por Manuel Poppe.
E jamais serei uma professora agachada. Até posso ir parar a uma biblioteca qualquer. Mais e antes disso. Jamais serei uma pessoa agachada. Hoje são 12 de Março de 2008... tantos dias passaram já desde o 25 de Abril de 1974. Tantos que não os esqueci. Cada um deles vivido em Liberdade e Democracia, valores aos quais me rendo incondicionalmente e defendo furiosamente.

Manuel Poppe in JN 9 de Março

1. Afirmaram-se, ontem os professores. Milhares. Não se manifestaram porque não têm nada que manifestar. Há mil gerações que ensinam as pessoas a serem pessoas. Afirmaram, ontem, a identidade - a vocação - contra o que este governo lhes tem retirado precisamente, a possibilidade de realizarem aquilo que os levou a serem professores: ensinarem. Humilhados, ofendidos, desacreditados, reagiram - felizmente, reagiram, que mestres covardes seria o fim da honestidade e o triunfo dos que nos convidam a aceitar a vigarice dos dias, em que o especulador vive sobre a miséria do próximo. Ao invés do que disseram os instalados e ambíguos, a reafirmação (revolta) dos professores não abre brechas, não os afasta dos alunos, nem os provoca: quem os ensina mostra aos alunos que não é pobre de pedir, "professoreco", agachado, hesitante, tíbio, com medo de perder o emprego. O professor é o amigo, que escolheu dar-se: entregar aos mais novos a experiência e o conhecimento. Transmitir-lhes a vida que viveu e quanto aprendeu com ela. E o que aprendeu, também, com eles, alunos, em sagrado convívio fraternal e solidário.

2. O espírito "corporativo" juntou os professores, dizem os ignorantes e os de má fé. Uniu-os o "corporativismo"?! É humor negro, comicidade revoltante. E não colhe os trabalhadores do mesmo ofício - como todos os trabalhadores - defendem a dignidade do seu ofício - e nenhum será mais nobre do que o de ensinar. "Corporativismo", no sentido pejorativo, arranjismo em comum, será o dos instalados no dinheiro, ou o dos serviçais políticos. Que, no próximo sábado, um partido dito socialista organize uma (contra)manifestação é deplorável. É paradoxal. É triste. É contraditório. O socialismo defende a liberdade, a iniciativa própria, o diálogo - não o autoritarismo dogmático. Que irá defender o partido dito socialista, (logo por azar na cidade do Porto, que sempre lutou pela democracia)? A indiscutabilidade da política desastrosa? Ou vai justificar o caos em que mergulharam as escolas? Os dois milhões de pobres? Os cem mil portugueses que emigram, anualmente? As crianças entregues à rua?

3. Uma coisa esta política de governo sem nexo - ou com a lógica carnífice do neo-liberalismo- não trava a força da Cultura. A vontade de saber. Ontem, os nossos professores, contra ventos e marés (e investigações policiais), provaram-no. Emprestaram-nos a voz - a nós, também abandonados e explorados, a ver a vida andar todos os dias para trás, em país doente.
Manuel Poppe, JN 9 de Março de 2008

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