Carta Aberta - Silêncio
Confesso-me completamente chocada pelo silêncio das entidades oficiais à volta desta "caso".
Com "elites" deste calibre, a darem de frosques, a meterem as cabeças na areia, a darem estes exemplos de falta de solidariedade para com a família enlutada, que jamais verá o Leandro, não me espanta, de todo, a situação em que nos encontramos, mergulhados na mais profunda crise de valores de que eu tenho memória.
Acredito na Educação pelo exemplo. Já aqui falei dela inúmeras vezes. Pelo contrário não acredito na Educação pela deriva, ao sabor das ondas e que se faz cavalgando ondas que rapidamente se desfazem nas praias, restando delas nada. E também não acredito na Educação pelo vale tudo, até arrancar olhos. Ora quando os exemplos que nos chegam, vindos de cima, são estes, e quando a responsabilidade, acrescida pelos cargos desempenhados, não se reflete em nada e não há a mínima preocupação em dar sinais adequados e solidários à sociedade, sinto-me envergonhada pela má cepa desta gente insensível que temos em muitos lemes.
Amanhã não deixarei de cumprir o meu minuto de silêncio.
Carta Aberta
Ao Ministério da Educação, à Direcção Regional de Educação do Norte e ao Conselho Directivo da Escola E.B. 2,3 Luciano Cordeiro
A Amnistia Internacional – Portugal, a AMI – Assistência Médica Internacional, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a Margens – Associação para a Intervenção em Exclusão Social e Comportamento Desviante e a OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento, juntam-se para:
Publicamente manifestar:
- A sua sentida solidariedade com a família e amigos do Leandro, criança de 12 anos, que optou por pôr termo à sua vida devido ao espancamento repetido por dois colegas mais velhos da Escola E.B. 2,3 Luciano Cordeiro.
- A sua indignação perante os factos que estão na origem de tão grave acontecimento e que, segundo familiares, já tinham tido lugar repetidas vezes, uma das quais originando internamento hospitalar do Leandro. Publicamente instar:
- Os destinatários da presente carta a apurarem todas as responsabilidades por acção e por omissão na morte deste jovem e concomitantemente envolverem as autoridades policiais e judiciais. Portugal, Estado parte da Declaração dos Direitos da Criança e da Convenção dos Direitos da Criança está comprometido a respeitar e garantir os Direitos das Crianças. Prescreve, designadamente, o n.º 3 do artigo 2.º da Convenção sobre os Direitos da Criança que “Os Estados Partes garantem que o funcionamento de instituições, serviços e estabelecimentos que têm crianças a seu cargo, assegurem que a sua protecção seja conforme às normas fixadas pelas autoridades competentes, nomeadamente nos domínios da segurança e da saúde, relativamente ao número e qualificação do seu pessoal, bem como quanto à existência de uma adequada fiscalização.” Estamos perante um caso que, à luz do ordenamento jurídico nacional e internacional, tem que ser objecto de investigação objectiva e célere. A inacção e passividade dos responsáveis constituem uma grave violação de Direitos Humanos, em especial dos Direitos das Crianças. As Organizações subscritoras, exigem o cumprimento das normas que protegem as crianças. Para que tanto seja possível, reforçamos a importância da Educação para os Direitos Humanos na Escola, quer para os alunos, quer para os professores e restante comunidade escolar. Convidamos todas as escolas do país a, na segunda-feira dia 8 às 11h00 da manhã a fazerem um minuto de silêncio em homenagem ao Leandro. Seja essa a ocasião para recordar a todos a gravidade deste tipo de situações. Acabar com elas é a melhor homenagem que se pode prestar ao Leandro e à sua família. “Todas as grandes personagens começaram por ser crianças, mas poucas se recordam disso.” Antoine de Saint-Exupéry
As organizações subscritoras: Amnistia Internacional – Portugal AMI – Assistência Médica Internacional APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima Margens – Associação para a Intervenção em Exclusão Social e Comportamento Desviante OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento
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4 comentários:
Anabela:
Que humanos somos nós, melhor, que humanos são nossos «responsáveis» governantes e quejandos, que nos vestimos de um silêncio de indiferença e anomia, ante esta (e outras) tragédias de vidas de nossos semelhantes. Bem dizia Luther King, que a Ema (ou a Eduarda) citam, que mais confrangedora do que a inacção é a carapaça da indiferença que nos faz egoístas ferozes. Pois maus pais, maus responsáveis, maus professores, maus meninos fomos, e somos, cínicos, como nos diz Pacheco Pereira, cínicos, e vorazes. Como acordará assim o sol da justiça?
Anabela
Seria muito bom se o apelo do minutos de silêncio tivesse expressão nas escolas. Obrigado pela divulgação. É um imperativo de consciência.
Nossos irresponsáveis governantes trouxeram-nos aqui: morre uma criança, fugida duma escola, e o silêncio passa a ser de ouro e é absolutamente ensurdecedor.
Não me conformo, Ângelo. E recuso-me a ir por aí.
Ramiro, vou sondar se alguém do directivo da minha escola está sensibilizado para isto.
A ver vamos que isto é escandaloso!
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