terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Avaliação de Desempenho Doente
Quero - Salamanca - Espanha
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Avaliação de Desempenho Doente
Já escrevi e mais que escrevi porque estive contra a anterior avaliação de desempenho docente. Sendo que esta é herdeira directa da outra e, em alguns aspectos até a agrava, obrigada sindicalistas!, não poderei estar de acordo com o novo modelo parido.
As minhas críticas são simples e rápidas e centradas apenas no fundamental:
1- Este modelo de avaliação, feita pelos pares, que são amigos de infância, amigos do peito, inimigos figadais ou mesmo de estimação, parentes afastados ou próximos, em alguns casos até muito próximos, enferma desta maleita da falta de distanciamento permeabilizando a avaliação a juízos pré-concebidos, a vontades de não prejudicar, até a vontades, deliberadas, de prejudicar.
2 - Este modelo de avaliação determina avaliadores aos molhos que, sem qualquer preparação para o serem, o vão ser, contrariando a conversa da própria tutela de que tudo será feito assegurando competências adquiridas em formação disponibilizada para o efeito e seriedade nos procedimentos. Ora nós sabemos que das palavras aos actos vai um passo de gigante.
3 - Depois mantemos a questão das quotas. Dou de barato que elas tenham de existir e que nem todos os 140 ou 150 mil professores portugueses possam chegar ao topo da carreira, estrangulada por quotas. Não me repugna esta ideia. Dentro de uma farmácia nem todos os farmacêuticos chegarão a Director Técnico da mesma, por falta de vagas, lá está. Aceito este princípio pacificamente e convivo muito bem com ele. Já não posso aceitar que sendo eu uma professora excelente tenha que gramar uma nota chapada no meu currículo de muito bom, ou mesmo de bom, apenas porque não há vagas para as outras avaliações. Seria lindo se avaliássemos assim os nosso alunos! Promovemos assim a mentira, a aldrabice, aquilo que parece mas não é, a bota que não corresponde à perdigota.
4 - E volto aos avaliadores e avaliados que concorrem exactamente às mesmas quotas decididas pela tutela. Está bom de ver a pouca vergonhice e aberração à solta nas escolas do país. E nem vou deter-me mais neste ponto porque não me quero irritar muito logo pela manhã. Só dizer que aguardo informação do meu sindicato sobre este ponto da avaliação de desempenho docente, e doente, porque quero saber o que está a ser feito, em concreto, para resolver este conflito de interesses que é ilegal, sendo apenas legal para este (des)governo que já provou à exaustão ser capaz de tudo. É que como não admito o princípio, a meu ver subversivo, e ele me causa asco, asco este de impossível digestão, estou disposta a actuar em conformidade nem que esteja sozinha.
5 - Este modelo, colocando uns a avaliar os outros, sendo que avaliados e avaliadores são iguais entre si, ou seja todos são professores, promove o que de mais baixo tem um povo e que é a inveja, a dor de cotovelo, a má língua, o egoísmo e a falta de partilha porque se eu partilhar o que sei e tenho, as minhas estratégias e os meus projectos, as minhas planificações, os meus materiais construídos, os meus instrumentos de avaliação, as minhas reflexões, estou a colocar um trampolim por debaixo dos pés do outro que me pode, no futuro, fazer frente na ocupação das quotas.
Posto isto vou ser claríssima. Se não estivesse num escalão que me obriga a ter aulas assistidas não as pediria. Avaliar, honestamente, o trabalho nas aulas de um qualquer professor, obrigaria a um acompanhamento constante, da primeira à última aula do ano lectivo porque só assim se estará certo que há um fio condutor, uma finalidade prosseguida, objectivos alcançados.
Ter duas aulas assistidas pode ser o mesmo que zero. Já assisti a cenas lamentáveis de professores que sempre zurziram contra o PowerPoint e se gabaram da sua não utilização, da sua recusa de aprendizagem de manuseamento e construção, do que quer que fosse e eis que surge a aula assistida, e toca de pedir aos amigos do peito "fazes-me um PowerPoint para a aula assistida?"
Que show... off! Lamentável de falta de seriedade, de honestidade, de rectidão, de verticalidade.
Mas são duas as aulas assistidas previstas, poderão ser três, no máximo, e o modelito previsto presta-se à aldrabice e à trapaça.
A minha primeira aula assistida ocorrerá amanhã. Escolhi a minha Direcção de Turma, a minha turma de CEF de Padaria/Pastelaria porque quem não deve não teme e eu sempre gostei de caminhos que me dão luta. A aula será a de iniciação ao módulo Lusofonia: A Língua Portuguesa para além de Portugal. A planificação do módulo está aqui há uns anos que eu não gosto de andar a chover no molhado e prefiro organizar de uma vez, para depois ser só dar pequenos retoques.
A planificação da aula foi feita em três tempos a partir da planificação do módulo, que isto já é quase mecânico e é mais papel, menos papel, mais grelhado, menos grelhado.
Única alteração aos meus procedimentos normais será o facto de distribuir uma fotocópia com exercícios. Não que eles não os façam regularmente, que fazem, aliás estes alunos têm de estar sempre ocupados sob pena da coisa virar uma feira, só que eu tenho preocupações ecológicas, para além de pedagógicas e económicas e obrigo os meus alunos a terem portefólios organizados, onde registam tudo tudinho, obrigando-os a escrever, excelente exercício que parece estar a ficar fora de moda, poupando assim verbas ao Estado, poupando recursos ao país, contribuindo para a manutenção das florestas... mas as evidências, as evidências... e reter portefólios não sei se será correcto para mostar o trabalho feito, por mim e pelos meus alunos, ao longo de todo um ano lectivo. De resto utilizarei esta apresentação em PowerPoint que está feita há vinte mil anos... parece-me... e que foi só cortar pela abordagem da CPLP a que não chegarei numa aula.
Vou ainda concretizar mais a minha posição - confesso que não pediria aulas assistidas se confiasse nesta gente que detém o poder. Mesmo estando no 4º escalão a passar... deixa-me rir... para o 5º em Fevereiro próximo. Mas não confio. Sei lá se estes não serão os primeiros a ter problemas mesmo se não está agora prevista qualquer sanção?! Não me quero ver nesta situação que não controlo, muito embora perspective a minha saída do Ensino, que eu amo, exactamente por isso mesmo, porque, a acontecer, deverá ser fruto de uma decisão minha, ponderada, que rumina volta e meia na minha cabeça, fruto da exaustão, por precisar de digerir a anormalidade e não o estar a conseguir muito bem, porque muito do que se passa colide com a minha estrutura de ser humano, com a minha matriz, da qual não abdico, apesar das minhas contradições, próprias de qualquer ser humano que pensa.
Vai daí observo. E registo. Principalmente dentro da minha cabeça.
Nota final - Não apresentei objectivos individuais. São facultativos, pois são?
Pois então...
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