segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Senhores Castanheiros

Castanheiros - Barca - Serra da Aboboreira
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães


Senhores Castanheiros



Confesso que os adoro. Gosto que se demorem durante o crescimento como quem degusta a lentidão do andar, que ganhem corpo devagar, devagarinho, que todos os anos percam as folhas e passem o Inverno despidos de outros adereços para além dos galhos mais ou menos fortes de onde desponta, na Primavera, um alvoroço de folhedo tenro e louco que os cobre de um verde único, quase frágil de tão clarinho. E continuo a amá-los quando eles explodem em floração doida e muito bela dando depois lugar a frutos picantes com promessas interiores de doçuras suaves e texturas macias que se desfazem na boca depois de cozidos ou assados com umas boas pitadas de sal grosso.
Estes castanheiros que agora partilho são todos meus. Já passaram por muito. Eram ainda novitos tiveram de sobreviver às bocas escancaradas das vacas que deles gostavam de se alimentar. E tiveram de sobreviver aos incêndios da Aboboreira, violentos, periódicos, um deles assustador de tresloucado a fazer-nos fugir de carro, a nós e aos bombeiros, deixando tudo o mais para trás... e os incêndios a serem parados aqui mesmo, afinal, mesmo mesmo por baixo destes castanheiros resistentes como o raio que os parta.
Estes castanheiros foram plantados há mais de trinta anos e durante todo este tempo resistiram só de quando em vez afagados. As suas copas, generosas e francas, estão já monumentais.
Um dia destes, lá mais para o final do mês, é provável que comecem a vomitar castanhas, grandes e suculentas, excelentes para juntar a uns rojões, a uma carne assada, para transformar em puré, para comer cozidas, assadas, cruas!
Estes são alguns dos meus castanheiros. Amáveis como só eles.

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