sábado, 15 de outubro de 2011

Orgulho

Serenidade - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de João Pedro Fonseca

Orgulho

O orgulho é outro pecado daqueles mesmo mortais que pratico, amiúde, para além do pecado da gula. E, pecado ainda maior, frequentemente pratico-o comigo própria e sinto orgulho em mim apenas pela minha decência, sentido de rigor, honestidade, procura de coerência, trabalho incansável.
Ontem foi um dia... como o classificar? Curioso? Absurdo? Inacreditável? Decepcionante? Cómico?
Parvo? Medíocre? Estapafúrdio? Espampanante?
Parece-me que foi tudo isso e muito mais. Ontem foi o dia em que ouvi, aos berros, sem surpresa e sem decepção, um "maldita a hora em que voltaste para esta escola! Devias ter continuado na secundária!"
Ontem foi um dia muito especial para mim, daqueles raros na vida de qualquer pessoa, daqueles que mexem com o nosso interior e nos fazem crescer e tornam a nossa vida mais rica de emoções à flor da pele e que só quem vai à luta, de cara bem levantada, apoiada apenas na verdade, e sem mais armas para além dela, pode vivenciar.
Ontem foi um dia daqueles que jamais esquecerei, daqueles em que senti orgulho em Ser aquilo que construí, penosamente, diga-se de passagem, desde criança, desde que tenho memória de mim, lutando por aquilo em que acredito, mesmo se comprando dissabores, às vezes até com os que amo.
Mas ontem foi um dia ainda mais especial. Porque ontem foi dia de ver o orgulho em mim nos olhos do meu companheiro de route de trinta e seis anos... e isso não tem preço. 

8 comentários:

EMD disse...

Se por um lado lamento que pessoas como tu tenham de viver dias assim, Oh diacho de mundo!, por outro, só posso felicitar-te por teres esses dias, sinal de integridade e firmeza nos princípios.
Orgulho mais que merecido, minha querida. Há raros, como tu.

Anabela Magalhães disse...

Obrigada, querida Elsa! Recordas aqueles filmes rascas da ESA, mais ou menos aflorados e contados aqui no blogue? E contados de viva voz, escutando tu a minha pronúncia do Norte? Estou num desses momentos rascas porque rascas são os seus actores. Permaneço num estado curioso - faço parte de um enredo que criaram para mim, ficcionado, mas ao mesmo tempo com a capacidade de observar tudo de olhos bem abertos, para não perder pitada dos esgares, dos constrangimentos, dos berros e das atitudes incontroladas, salva-me a minha grande endurance com os CEF, mas também das gargalhadas, dos risos genuínos, das palavras certas ditas na hora certa, dos beijos e dos abraços, das palavras escritas de apoio. Nós, mulheres, temos esta capacidade de fazermos múltiplas coisas ao mesmo tempo... e assim estou eu.
Obrigada mais uma vez. Sabes que me enrosquei nos teus braços maternais.
Beijinho

Unknown disse...

Desculpa, amiga, mas o texto é um pouco críptico. O que aconteceu? :-(

Anabela Magalhães disse...

Terei de te explicar pelo outro lado... eheheh... beijocas!

@bc disse...

Pois, chama-se a isso verticalidade.

Infelizmente, apenas nos dissabores,entendo bem o seu estado de espírito,pois vivencio-o quase diariamente.

Como alguém disse, valemos pela quantidade de inimigos que temos... Será muito cruel, mas a vida vai-me mostrando que é 1 pouco por aí... Saudações.

Anónimo disse...

Substitui o termo «orgulho» por outro mais apropriado ao contexto da escola e do que, supostamente, visa o trabalho docente, mas que para gente comum será tido como muito mais provocatório: «elevação»!
Sem ensaios esotéricos, nem saídas orbitais, a dignidade ganha-se sempre a cada episódio, a cada momento, que deixamos que o rebanho siga o bode que vai à frente sem saber para onde. O mundo está farto de suportar uma Humanidade que não se descobriu como gente, e gosta de impor as métricas com que escreve os seus compassos sem olhar ao precipício em frente.
Se eu fosse escritor, Nobel e me chamasse Saramago, diria com todas as letras «Puta que os Pariu» a todos (sem ofensa pessoal), só para os tentar acordar do sonambulismo que os persegue.
José Emanuel Queirós

Anabela Magalhães disse...

Certeiro o que diz, ABC. Principalmente estes, olho-os como medalhas penduradas na minha lapela.
Mão me abastardarão. Eu não deixo.
Beijinhos

Anabela Magalhães disse...

Obrigada pelas tuas sábias palavras, irmão meu. E pelo teu exemplo também.
Parafraseando Saramago "Puta que os pariu", aos indignos que chafurdam no lodaçal e parecem gostar disso.
Mas há tanta gente boa e decente no meu local de trabalho!...
Uns quantos poucos não cilindram os restantes.
Bjs

 
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