sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A Palavra a João Quadros

Vida de Cão - Lisboa - Portugal
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
 
A Palavra a João Quadros

Querida Grécia,

escrevo esta carta sem ser segundo as regras do novo acordo ortográfico porque sei que vocês também gostam de não respeitar as regras.

Ia a escrever - espero que estejam todos bem -, mas também cá tivemos a troika.

Se lhe escrevo, Querida Grécia, é por uma razão muito simples. Não, não venho cobrar nada. Espero que não tenha enviado esta carta para o lixo. Juro que não sou familiar do Duarte Marques, nem conheço quem seja e assuma.

Escrevo-lhe para pedir desculpa pelo nosso Presidente, pelo nosso Governo e por um sujeito de pavilhões auriculares extensíveis que trabalha para a televisão do Estado. Sei que o que peço é demasiado. Sei que não me pode perdoar tudo, mas podemos negociar.

Penso, Querida Grécia, que serão sensíveis aos nossos argumentos, tendo em conta o sofrimento a que o nosso povo tem estado sujeito.

Queria começar por lhe pedir desculpa pelo nosso primeiro-ministro. Não. Esse é o Paulo Portas. O nosso primeiro-ministro é o alto. Um que caminha a passos largos para ser como o vosso Varoufakis; infelizmente, só a nível capilar.

Gostava muito que nos perdoasse, pelo menos, metade das coisas horríveis que o nosso PM tem dito sobre si. Mas se acha que as declarações do nosso PM ofendem a sua pátria, lembre-se que ele usa um pin com a nossa bandeira. Como é que acha que nós nos sentimos?! Se ele não usasse o maldito pin, talvez passasse por PM da Baviera e não tínhamos de sofrer tanta vergonha.

Quanto ao nosso Presidente, eu podia usar a desculpa de que ele já não está em condições, mas não quero enganar ninguém. Ele sempre foi assim. É uma pessoa horrível, mas somos nós que temos de viver com ele desde pequeninos, Querida Grécia.

Veja que, por exemplo, quando o nosso Presidente da República diz: "Muitos milhões de euros estão a ser tirados dos bolsos dos portugueses para a Grécia", e diz com os dentes todos para percebermos melhor a brutalidade da quantia - "miiiil e cem miiiil milhões" -, é óbvio que é muito ofensivo para vocês. Mas acredite, Querida Grécia, é muito mais ofensivo para nós. Imagine o nosso sofrimento, que ouvimos isto, e tivemos de nos juntar para pagar umas seis vezes mais, com o banco feito por ex-colegas do nosso Presidente. E, Querida Grécia, nunca o vimos vir a público dizer - "saíram seis miiiiiil miiiiiilhões de euros do bolso dos portugueses para o BPN". Ou: "Ganhei umas centenas de miiiiiiiiilhares de euros no BPN que acabaram por sair do bolso dos portugueses".

Por isso peço, Querida Grécia, que nos perdoe pelo menos 80% dos disparates que o nosso Presidente diz. O resto, não peço que nos desculpe. Espero que esqueça com o tempo. Prometo que vamos tentar esquecê-lo primeiro.

Com os melhores cumprimentos,

João Quadros

P.S.: Pare de me enviar iogurtes, Querida Grécia. Sou lacto-intolerante e isso não é negociável.

Nota - Subscrevo a carta na sua totalidade. E encontrei-a via Guinote.

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