quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Amy Winehouse - Back to Black

Ontem, ao entrar no blogue do Helder Barros, fiquei boquiaberta com esta mulher de voz poderosíssima, completamente desconhecida para mim. Vai daí, investiguei-lhe os passos, e aquilo que já li, e vi, deixou-me preocupada e triste.
Mas como é que esta mulher, de talento excepcional para a música e dona deste vozeirão, se deixa enredar nas teias do álcool e das drogas?
Complicada a vida se não conseguimos dar a volta por cima por forma a superarmos os nossos traumas, os nossos problemas. Complicada a vida se perdemos o controlo sobre os nossos passos, se perdemos o controlo sobre nós próprios.
Esta jovem, nascida em 1983 e oriunda dos subúrbios de Londres, tem andado perdida. Perdida dentro de si própria.
Internada por diversas vezes em clínicas de reabilitação para tratar as suas dependências, Amy Winehouse não parece ainda ter encontrado o seu porto seguro e encontra-se a braços com uma vida descontrolada, errática, pelos consumos igualmente descontrolados de substâncias tão perigosas como as drogas duras.
Que a luta dela sirva para meditarmos e para decidirmos não enveredar por estes caminhos tortuosos, enganadores e destruidores.

http://www.amywinehouse.co.uk/

http://www.myspace.com/amywinehouse

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Ainda sobre a Avaliação de Desempenho

Um dia destes recebi do Helder Barros esta caricatura/sátira à Avaliação de Desempenho do pessoal docente. Dos professores portanto. Face à conjuntura actual posto-a hoje no meu blogue. A deriva que se vive hoje nas escolas com medidas e leis que dão uma no cravo e outra na ferradura e que "parecem" feitas à pressa e em cima do joelho, é preocupante.
E a forma como está a ser implementada a Avaliação de Desempenho tem sido mais do que preocupante, tem sido desastrosa. Se conseguirmos, vamos rindo. Porque o riso é uma excelente terapia.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Damien Rice - Elephant

A precisar de voltar a acompanhar Damien Rice, "para quando a recuperação total do meu pio?", aqui deixo uma música belíssima deste músico de excepção já postado neste blogue.
Estou a precisar de música. Estou a precisar de voltar a cantar. E pode ser "and she may cry like a baby".
Estou a precisar de cantar. Para quando a recuperação do meu pio?

this has got to die
i said this has got to stop
this has got to lie down
with someone else on top
you can keep me pinned
'cause it's easier to tease
but you can't paint an elephant
quite as good as she
and she may cry like a baby
and she may drive me crazy
'cause i am lately lonely

so why did ya have to lie
i take it i'm your crutch
the pillow in your pillowcase
is easier to touch
and when you think you've sinned
do you fall upon your knees?
or do you sit within your picture?
do you still forget the breeze?
and she may rise if i sing you down
and she may wisely cling to the ground
'cause i'm lately horny
so why would she take me thorny?

what's the point of this song or even singing?
if you've already gone, why am i clinging?
well i could throw her out
and i could live without
and i could do it all for you
i could be true
tell me if you want me to lie
'cause this has got to die
i said this has to stop
this has got to lie down, down
with someone else on top
you can both keep me pinned
'cause it's easier to tease
but ye can't make me happy
quite as good as me..
well,
you know that's a lie

Fichas de Avaliação do Desempenho

Disponíveis em

http://www.dgrhe.min-edu.pt/DOCENTES/FichasAvaliacaoDesempenho.htm

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

SNS - Sem Comentários

Violência Doméstica

Hoje deixo um alerta para um problema gravíssimo que as nossas sociedades contemporâneas não conseguiram ainda resolver e não conseguiram ainda erradicar do seu seio, apesar de toda a sofisticação alcançada, apesar de todo o progresso económico e cultural conseguido, até hoje, pela humanidade no seu conjunto. Hoje deixo um alerta para um problema gravíssimo que atravessa, sem distinção, gente de diferentes credos e religiões, de diferentes culturas, de diferentes etnias e nacionalidades, de diferentes filiações partidárias, de diferentes classes sociais e económicas, de diferentes faixas etárias. Esse problema chama-se Violência Doméstica.
O problema existe, é real, e é mais chocante quando acontece em sociedades que se querem/dizem compreensivas e tolerantes, quando acontece em sociedades ditas civilizadas e democráticas, quando acontece em sociedades que se dizem longe da barbárie. Só que a barbárie não é só apanágio dos analfabetos, dos pouco instruídos, dos pobres e miseráveis. A barbárie está dentro de nós. Basta olhar para dentro de portas, para aquilo que deveria ser sempre um porto de abrigo e que se transforma, quantas vezes, num "dormir com o inimigo".
Nunca é demais frisar que a mudança, de mentalidades e de práticas, está nas nossas mãos.

domingo, 27 de janeiro de 2008



Verinha - Salvador - Amarante
Fotografias de Vera Seara

Verinha

A Verinha está hoje de parabéns. Catorze anos acabadinhos de fazer já são razão mais do que suficiente. Mas a Verinha está de parabéns por uma outra razão. A Verinha, com a aproximação dos catorze anos, resolveu entrar para a blogosfera. Eu notei-lhe a vontade, a curiosidade, o apetite por este mundo tão interessante e criativo da blogosfera. E soube a novidade por ela. A Verinha pariu um blogue aos treze anos. E pariu um blogue inesperado pois através dele pude constatar uma escrita verdadeiramente surpreendente para uma adolescente de treze/catorze anos. Porque é uma escrita correcta e escorreita que joga sabiamente com as palavras e explora e trata os sentimentos mais nobres e mais profundos de uma forma muito madura, muito elaborada, muito complexa. E porque tratando-se de textos em prosa não podemos deixar de constatar tratar-se de uma prosa muito poética.
Aqui lhe deixo os meus parabéns. Públicos.
Razões de sobra para aqui deixar o endereço desta nova blogueira dizendo para terminar "Temos mulher!"

Plain White T`s - Hey There Delilah

hey there delilah
whats it like in new york city
im a thousand miles away
but girl tonight you look so pretty
yes you do
time square cant shine as bright as you
i swear its true

hey there delilah
dont you worry about the distance
im right there if you get lonely
give this song another listen
close your eyes
listen to my voice its my disguise
im by your side

oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me
what you do to me

hey there delilah
i know times are gettin hard
but just believe me girl
someday ill pay the bills with this guitar
we'll have it good
we'll have the life we knew we would
my word is good

hey there delilah
ive got so much left to say
if every simple song i wrote to you
would take your breath away
id write it all
even more in love with me youd fall
we'd have it all

oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me

a thousand miles seems pretty far
but they've got planes and trains and cars
id walk to you if i had no other way
our friends would all make fun of us
and we'll just laugh along because we know
that none of them have felt this way
delilah i can promise you
that by the time that we get through
the world will never ever be the same
and youre to blame

hey there delilah
you be good and dont you miss me
two more years and youll be done with school
and ill be makin history like i do
you know its all because of you
we can do whatever we want to
hey there delilah heres to you
this ones for you

oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me
oh its what you do to me
what you do to me

sábado, 26 de janeiro de 2008

Recomendações

Ontem à noite, sim porque esta gente do Ministério da Educação trabalha até pela noite dentro, saíram finalmente algumas recomendações para a elaboração dos instrumentos de registo normalizados, observação de aulas ou, mais corriqueiramente, das fichas e grelhas que servirão para nos avaliar. Recomendações gerais e vagas, até porque o Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP) ainda não está constituído estando apenas ocupada a cadeira da presidência. É um órgão formado apenas por uma pessoa. É uma casa composta apenas por um telhado que levita. E que passou a batata quente para os Conselhos Pedagógicos das escolas ou agrupamentos.
É o que temos. Depois, depois logo se verá.

http://www.min-edu.pt/np3content/?newsId=1599&fileName=ccap_recomend_instrum_registo.pdf

Aula de História - ESA - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Professores são profissão em que portugueses mais confiam

Lusa 2008-01-25

"Segundo uma sondagem mundial realizada para o Fórum Económico Mundial, os professores são a profissão em que os portugueses mais confiam e também aquela a quem confiariam mais poder no país.
Os professores merecem a confiança de 42% dos portugueses, muito acima dos 24% que confiam nos líderes militares e da polícia, dos 20% que dão a sua confiança aos jornalistas e dos 18% que acreditam nos líderes religiosos. Os políticos são os que menos têm a confiança dos portugueses, com apenas 7%."

Enfim, boas notícias.

E agora pergunto eu, que sou uma relezita professoreca, com uma relezita licenciatura tirada numa relezita Faculdade de Letras e que jamais chegará à suprema categoria de Professora Titular... Para quando uma avaliação de desempenho que avalie os nossos governantes políticos?! Só para inquirir do nosso grau de satisfação?

Crianças - Bojador - Sahara Ocidental
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Estratégias

Ontem à noite evadi-me para longe daqui. Para as montanhas rochosas do Akakus, para as dunas colossais do deserto, para longe do ruído que por vezes estoura na minha cabeça. É uma estratégia minha. Uma estratégia consciente e deliberada que me permite ser mais feliz. Quando uma viagem me deprime de má, regresso a casa e começo a planear a próxima, só para me entusiasmar com o processo, só para arrumar definitivamente na minha cabeça o que me incomodou, o que me zangou, o que me entristeceu. Quando sou ultrapassada pelos acontecimentos sem conseguir ter mão neles e dar-lhes a volta, quando me sinto à mercê de não sei o quê, deito-me e durmo esperando ver as coisas de forma mais optimista ao acordar. Ou então evado-me mentalmente da choldrice, evado-me mentalmente para pessoas de quem gosto particularmente e, mais frequentemente, evado-me para lugares. Invariavelmente evado-me para o silêncio da Barca, para o silêncio do Sahara.
Foi o caso de ontem. Cansada duma semana em que o desânimo e a confusão se apoderou da escola e em que o que mais ouvi foi frases como "Se pudesse ia embora já hoje." " Até falei com o meu sogro para ver se me arranjava um emprego fora da escola." Já não aguento mais." "Vou sair penalizada mas não me importo." "Estive a fazer contas para a reforma. Já só tenho de trabalhar mais um ano.", confesso que cheguei ao fim da semana como se carregasse o mundo nas costas, cansada do ambiente docente, que nunca foi este e que sempre foi, até aqui, optimista e enérgico.
Ingressei na docência no longínquo ano de 1988 e desde aí não mais parei, não interrompi nunca a minha actividade e confesso que estou perplexa com o que se está a passar. Nunca vi ou senti nada assim.
Por isso aqui deixo os meus parabéns à tutela. Se a intenção é desmoralizar os professores, baralhar e tornar a dar, achincalhar, maltratar, estão a conseguir.

Eu por mim confesso que continuo recorrer às minhas estratégias pessoais para na segunda-feira me apresentar aos meus meninos enérgica, optimista, entusiasmada, feliz, esperançada no futuro. Por isso postei estes miúdos fotografados numa descida à praia, algures muito perto do cabo Bojador. Miúdos que ficaram guardados na minha memória pela alegria espontânea demonstrada, pela curiosidade em querer saber coisas sobre nós, pela calmaria que reinava naquela praia imensa e onde só estavam eles acompanhados do seu professor que sorria satisfeito apreciando a cena.

E por uma questão de estratégia acabo o "post" remetendo-me para o mítico cabo Bojador, representativo da superação das dificuldades, das armadilhas dos ventos e das correntes, das calmarias enganadoras, dos escolhos, dos monstros domados e dominados, dos muros ultrapassados, dos nós desatados.
Porque teremos de superar os nossos cabos. Porque, inevitavelmente, teremos de chegar a porto seguro.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Abdol


Abdol Verde - Sahara - Líbia
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Abdol

Hoje volto a 2004, à minha viagem à Líbia, desta vez para falar de um personagem chamado Abdol.
Esclarecimentos prévios para quem desejar seguir o exemplo. A saber. Não se entra na Líbia como se entra em qualquer outro país. Não se viaja na Líbia como se viaja em qualquer outro país. Para além de não se entrar na Líbia sem o convite escrito de um líbio, também não se passeia na Líbia sem aquilo a que os líbios chamam de polícia turística, polícia esta dependente do estado, e que tem como nobre missão proteger a turistada, que por estas areias se aventura, de possíveis ataques terroristas, em paragens tão inóspitas e desprotegidas como o deserto do Sahara.
E depois de feitos estes prévios esclarecimentos passo ao Abdol propriamente dito e à sua nobre missão de vigilância de dezanove portugueses difíceis.
Vindos da Tunísia, e passado o primeiro controlo fronteiriço tunisino, eis-nos parados do lado líbio. Documentos para cá e para lá, toda a gente a testar os seus telemóveis que imediatamente ficaram sem pio, estamos nestes preparos e eis que nos entra, mini-bus adentro, um indivíduo desconhecido, pestilentemente perfumado a suor. Era o nosso polícia turístico, que bem se esforçaria por nos acompanhar em todos os passos por terras da república de Kadafi, tarefa para o qual foi previamente mandatado, mas que se revelaria assaz complicada com um grupo tão indisciplinado como o nosso que por vezes, nas localidades, se subdividia em grupos mais pequenos andando ao deus dará, dificultando-lhe a tarefa de nos vigiar e controlar, deixando-o tipo uma barata tonta sem saber a quem proteger.
Pois este pide-guide, Abdol de seu nome, prontamente rebaptizado por mim de pide-guide em "homenagem" à nossa polícia política do Estado Novo, revelar-se-ia uma mais-valia imprescindível durante os nossos dias e noites no Sahara. Solteiro, trinta e muitos anos, ex-professor, irmão de três professoras, abandonou a sua profissão por não aguentar as saudades da vida errante e livre no deserto e acabou por abraçar uma profissão que lhe permitia contactar quase diariamente com o que ele mais amava e que eram as dunas de areias multicolores e de formas curvilíneas e sensuais, o vento quente do deserto, as formas improváveis das rochas emergindo das areias, formando arcos, catedrais ou, como eles diziam, formando mesquitas.
A surpresa veio pouco tempo depois do Abdol se ter imiscuído no nosso grupo. O nosso pide-guide era um pide-guide musical que de todas as superfícies extraía música ao som das batucadas que fazia nas superfícies lisas dos jipes, nas superfícies lisas dos jericans de água e de gasóleo, nos tachos e panelas da nossa cozinha tuaregue ambulante.
Cantorias boas que nos acompanharam em todos aqueles dias, e principalmente em todas aquelas noites, passadas à volta duma fogueira, no silêncio rompido daquele deserto. E era um artista completo, o tipo, porque para além de nos dar música, cantava e dançava com um entusiasmo e vontade, entregando-se e perdendo-se completamente naquela alegria irracional de quem comunga inteiramente com o Sahara.

Saudades. Muitas saudades daquele silêncio espampanante do deserto cortado pela música simples, ritmada e enérgica do Abdol. Saudades de sentir a areia quente nos pés. Saudades de me deitar ao comprido sobre a areia comungando completamente com ela, absorvendo a sua energia, o seu calor. Saudades de ouvir as dunas da Líbia a cantar por baixo dos meus pés descalços. Saudades de sentir o vento quente na cara. Saudades da paz e da calmaria interior. Saudades do Mar da Tranquilidade, do Sahara. Saudades.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Nós, Laços e Lacinhos




Nós, Laços e Lacinhos
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Nós, Laços e Lacinhos

Assim como adoro muros, adoro nós, laços e lacinhos. E pelas mesmas razões. Porque os muros se podem contornar, trepar ou saltar, abrindo novos caminhos e percursos até aí, quantas vezes, impensáveis. Porque os nós, laços e lacinhos podem ser desatados e desapertados, abrindo igualmente novos caminhos e percursos até aí, quantas vezes, inexplorados.
E como é bom descobrir, percorrer, abrir e explorar novas perspectivas em todos os domínios das nossas curtas vidas.
De facto, depois do "post" de ontem, estava a precisar duma mensagem mais optimista!!!
E o que há de mais optimista que um nó desatado, um laço ou lacinho desapertado?
Pode até ser caso para perguntar "Há coisas fantásticas, não há?"
E pode até ser caso para responder "Pois há!"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008


Roda Encostada- Feira Medieval EB 2/3 de Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

A Minha Pátria

Com a insatisfação, o desencanto, a saturação e a balbúrdia a instalar-se nas escolas, fruto de processos precipitados e anárquicos lançados e orquestrados pelo Ministério da Educação e que ainda agora estão no seu início, confesso que, cada vez mais, vejo a minha pátria como uma roda velha, encostada, que serve para muito pouco, se não entrar rapidamente nos eixos ou nos carris. Bem sei que há nichos de excelência neste país, mas o meu sector, o sector público da Educação, está a caminhar a passos largos para o caos completo e absoluto.
Já ninguém se entende nas escolas e a procissão ainda vai no adro. É toda uma classe docente que está no mesmo barco, e o barco anda à deriva.
Já entramos em avaliação mas estamos todos de pés e mãos atadas porque não há orientações dum dito Conselho Científico, que ainda não está constituído e, consequentemente, ainda não produziu qualquer orientação para que se dê início, na prática, a esse mesmo processo avaliativo já iniciado por lei no passado dia 10 de Janeiro. Confuso? A verdade é que, a partir daí, todo o processo de avaliação de desempenho está inquinado, e tudo o que vier a ser feito é um tiro no escuro. Mas os problemas não se ficam por aqui. Há problemas bem concretos, que nós sentimos na pele, nas escolas, e que criam constrangimentos enormes na implementação deste novo modelo de avaliação. E, sem querer ser exaustiva, vou dar só dois ou três exemplos. São os Coordenadores de Departamento que vão ter de avaliar os seus colegas sem que tenham para isso qualquer formação prévia dada pelo Ministério da Educação havendo mesmo, neste momento, casos caricatos de coordenadores que vão ter de assistir a aulas, e analisar planos de aulas de colegas, sem que eles próprios algum dia tenham tido uma aula assistida, ou tenham tido que planificar uma única aula durante os seus estágios pedagógicos. São Coordenadores de Departamento que mal sabem mexer num computador e que vão ter de avaliar colegas que usam as novas tecnologias nas suas aulas, com quadros interactivos, plataformas moodle, apresentações em power point, webquests, etc, etc, criando todos os constrangimentos que essa situação acarreta. São direcções de escolas, que gostam de mostrar trabalho e são subservientes relativamente à tutela, que nos pressionam para iniciarmos um processo, do qual desconhecemos as regras, lançando, assim, todo um corpo docente, na perplexidade e desorientação.
E como se não bastasse, somos obrigados, por lei, a fazer metade da nossa formação na nossa área específica, sob pena de ter insuficiente na avaliação. O caricato é que o Ministério da Educação não disponibiliza esta formação específica. Assim sendo, não há formação específica disponível, desde o ano lectivo anterior, em nenhum Centro de Formação deste país!!!
Ou seja, o estado exige, mas não cumpre a sua parte.
Por estas e por outras, e porque nem me apetece escrever mais sobre o assunto, sob pena de ficar eu própria deprimida, é com imensa pena que transcrevo, hoje, um texto de Guerra Junqueiro, do longínquo ano de 1896, e assumo que é com imensa pena que registo tantas analogias entre este texto e os dias que vivo em Portugal, em pleno século XXI.
Dois milhões de portugueses no limiar de pobreza!!!! Por favor, tirem-me deste filme!!!!

Obrigada, Elsa, por me teres disponibilizado este texto infelizmente tão actual.

Pátria - Guerra Junqueiro - 1896

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

terça-feira, 22 de janeiro de 2008




Mezinhas Caseiras - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Ainda as Mezinhas Caseiras

A recuperar muito lentamente o pio, continuo a experimentar mezinhas caseiras que vou juntando à medicação química.
Desta vez foi o xarope de cenoura. Ontem, a minha aluna Diana apanhou-me on-line e depois de eu lhe ter dito que ainda não tinha recuperado o pio, relembrou-me esta receita, que a minha mãe fazia lá em casa, quando eu ou o meu irmão estávamos doentes, e que, posteriormente, eu fiz à minha filha Joana. Estava agora completamente esquecida deste xarope, que se faz em três tempos, e que é delicioso.

Passados todos estes anos, e à falta de mãe para me mimar com mezinhas caseiras, fiz eu mesma este preparado simples e saboroso. A receita compõe-se de cenoura cortada às rodelas fininhas, cobertas de açúcar, a minha mãe fazia-a com açúcar amarelo, e este preparado fica a marinar de um dia para o outro.
Et voilá! Pronto a tomar às colheradas.

Não me lembro se esta mezinha era eficaz, mas lembro-me que era saborosa... vai daí mais uma tentativa, quiçá uma ajuda, para recuperar definitivamente o pio, que perdi há mais de uma semana.

Não tem sido bonito de se ver. Não tem sido bonito de se ouvir.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008


Equipamento duma Fadinha do Lar
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Fadinha do Lar II

Nos últimos dias, como se não bastasse dar aulas sem pio, tenho andado disfarçada de fadinha do lar. A verdadeira, ainda a debater-se com problemas num braço e a fazer fisioterapia, está de baixa, restando-me a mim fazer o serviço que por norma lhe compete. Ora o serviço de fadinha do lar implica fazer camas, limpar o pó, passar a ferro e arrumar a roupa passada nos respectivos sítios, mudar roupas de cama e quarto de banho, fazer máquinas de roupa suja, limpar o chão, varrer e lavar pátios exteriores, fazer máquinas de loiça suja, arrumar casas de banho, encher doseadores de champô e gel de banho, regar plantas, limpar vidros, fazer compras... uf, uf... estou cansada... e tudo isto sem avental!!!!
Disfarçada de fadinha do lar, sim, mas sem avental!!!
Se fosse homem ainda experimentava esta peça só para ver se ficava sexy... mas como sou mulher sei que só poderia ficar ridícula. Vai daí, não uso.

A fotografia que ilustra este "post" mostra-nos algum do equipamento duma verdadeira fadinha do lar. E uma verdadeira fadinha do lar não é nada sem um Pronto para o pó e para tratamento das madeiras, não é nada sem um limpa vidros, não é nada sem um pano do pó, não é nada sem um ferro de passar. Claro que poderia continuar porque ainda me falta falar de instrumentos tão indispensáveis como baldes, vassouras, aspiradores, regadores e afins, mas a verdade é que estes não couberam na fotografia.

Por estes dias resta-me ao menos a alegria de não cozinhar agora que frequento a Pensão Estrelinha, da minha querida sogrinha!

Confesso, isto de acumular funções, de professora sem pio e fadinha do lar, tem que se lhe diga.
E confesso que já delegava o serviço de casa na minha verdadeira fadinha do lar!
Sem pena. E sem saudades.

domingo, 20 de janeiro de 2008




Mezinhas Caseiras - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Mezinhas Caseiras e Agradecimentos

Ainda sem pio, e em desespero de causa com a nova semana de aulas que se avizinha, resolvi acrescentar às pastilhas, cápsulas e sprays, as mezinhas caseiras que ora um ora outro se lembra de me dar como receita infalível para recuperar o pio.
Já experimentei gema de ovo com mel e já experimentei sumo de limão com mel. E tenho mesmo insistido nesta última receita, porque gostei do sabor ácido do limão cortado pelo sabor extremamente doce do mel caseiro, mas confesso que não tenho tido grande êxito na recuperação do pio. Bem sei que ainda não tive coragem de experimentar o chá de casca de cebola que muitos dos meus colegas dizem ser mesmo mesmo infalível. Ora infalível infalível sei eu o que era. Infalível era mesmo ficar em casa a descansar as minhas pobres cordas vocais que se queixam, queixam, transformando a minha melodiosa voz em qualquer coisa de esquisito que nem eu mesma sei definir.
O que ainda me vai ajudando, sempre que perco o pio, é que os meus alunos, provavelmente por contágio, perdem igualmente o pio dentro da sala de aulas e comportam-se como muitas vezes nem os adultos conseguem comportar-se, fazendo com que eu dê a matéria calmamente, baixinho e sem flutuações e esforços que poderiam ser ainda mais penalizadores para o estado deprimente das minhas cordas vocais. É o que se está a passar este ano com os meus adolescentes de 9º ano que, comprovando o meu esforço aula a aula, fazem silêncio absoluto, intervindo na aula ordeiramente e sem atropelos.
Sem esta colaboração seria de todo impossível manter-me ao serviço.

Obrigada, alunos meus, pela consideração e respeito que por mim demonstram, a cada aula, difícil, que passa.

sábado, 19 de janeiro de 2008


Acerca do Decreto Regulamentar nº 2/2008 ou de como se coloca os docentes de um país em ansiedade e stresse

A 10 de Janeiro saiu o Decreto Regulamentar nº 2/2008 que regulamenta a avaliação do desempenho dos professores e que visa avaliar os docentes nas vertentes profissional e ética, no desenvolvimento do ensino/aprendizagem, na participação dos docentes na escola e na sua relação com a comunidade escolar, no desenvolvimento e formação profissional. Tudo muito bem. Tudo muito bem não fora com este decreto se dar início a mais uma palhaçada neste país. Tudo muito bem não fora dar-se início a processo de avaliação que só pode sair mal na fotografia pela manifesta falta de tempo para a sua operacionalização.
O processo começa logo por estar inquinado à partida, por impor, a meio dum ano lectivo, um novo modelo de avaliação do desempenho dos docentes.
Tenho para mim que as regras de um jogo não se mudam a meio desse jogo. Tenho para mim que se as regras são umas no começo deverão ser essas mesmas regras a acompanhar os intervenientes até ao apito final. Ora estas novas regras que agora nos são impostas, e sem discutir da sua justeza já que isso daria outro post, mudam radicalmente o nosso processo de avaliação. E é que mudam mesmo radicalmente, não deixando pedra sobre pedra do antigo modelo de avaliação de desempenho. E então mudam-se assim as regras com o ano lectivo já a decorrer em velocidade cruzeiro, lançando todo o corpo docente português na insegurança, na perplexidade, na incompreensão, no espanto de prazos extraordinariamente curtos que são impossíveis de cumprir?
De facto as palhaçadas sucedem-se. Os instrumentos de registo da avaliação de desempenho só podem ser elaborados e aprovados em conselho pedagógico de escola ou agrupamento depois de um tal de Conselho Científico elaborar as recomendações que vão condicionar a sua elaboração. E cadê as recomendações deste Conselho Científico? Ainda não existem. Como é que as escolas vão conseguir elaborar o que quer que seja até dia 11 de Fevereiro que é a data limite estipulada por este decreto?
Mais. A operacionalização deste novo modelo de avaliação implica reformulações dos Projectos Educativos de Escola, dos Planos Anuais de Actividades, dos Projectos Curriculares de Turma pois todos eles têm de prever objectivos e metas a alcançar e só depois de todas estas alterações é que nós, professores, podemos definir os nossos objectivos individuais. O prazo para elaboração dos objectivos individuais é 25 de Fevereiro. Só que se eu quiser começar a delinear os meus objectivos individuais não posso fazê-lo já que para trás nada foi ainda feito.
Como é que se vai conseguir pôr em marcha um processo de avaliação, tão complexo e burocrático quanto este, assim de um dia para o outro?
Não seria mais ajuizado criar os órgãos que são indispensáveis a este novo modelo como a Comissão de Coordenação da Avaliação de Desempenho, que ainda não existe em nenhuma escola, criar os instrumentos de avaliação, que ainda não existem, criar as novas regras do jogo, que ainda não existem, e explicitá-las com tempo?
E então para o próximo ano lectivo iniciarmos todos um novo processo já não de forma extremamente precipitada e atabalhoada como é da vontade do Ministério da Educação?
"O cérebro é uma coisa maravilhosa. Todos deveriam ter um!!!"
A funcionar, claro!!!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


Caminhos do Todra - Marrocos
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Os Caminhos Desapareceram da Alma Humana

Caminho: faixa de terra sobre a qual se anda a pé. A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em si própria qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que hoje não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo. Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. E também a sua vida ele já não vê como um caminho, mas como uma estrada: como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um simples obstáculo que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente.

Milan Kundera, in "A Imortalidade"

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008














Nevoeiro - S. Gonçalo - Amarante - Portugal
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Nevoeiro II

Um dia destes, estava eu calmamente a trabalhar nas minhas apresentações em power point, telefona-me a Edite com uma informação preciosa para quem gosta de fotografar "Preguiçosa! Não vieste andar, não sabes o que estás a perder. Está a formar-se um nevoeiro lindíssimo junto ao rio."
Por esta altura já eu o estava a ver de minha casa. De facto. Um nevoeiro lindíssimo.
Não resisti ao desafio. Fui buscar a máquina e lá fui para a Costa Grande, primeiro, e depois para junto da Ponte Velha. E apanhei um daqueles fins-de-tarde de nevoeiro que ora se adensa, ora se dissipa, belíssimo, poético, lançando sobre o rio uma névoa de mistério e calmaria.
Foi bonito de se ver. Foi bonito de se fotografar.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Norah Jones - Sunrise

Sunrise, sunrise
Looks like morning in your eyes
But the clocks held 9:15 for hours
Sunrise, sunrise
Couldn´t tempt us if it tried
Cuz the afternoon´s already come and gone

And I said ooo...
To you

Surprise, surprise
Couldn´t find it in your eyes
But I´m sure it´s written all over my face
Surprise, surprise
Never something I could hide
When I see we made it through another day

And I said oooo...
To you

And Now the night
Will throw its cover down
On me again
Ooh and if I´m right
It´s the only way
To bring me back

ooooo...
To you
ooo...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008



Sequilhos - S. Gonçalo - Amarante

Ainda os Sequilhos

Hoje soube novidades que me deixaram a gargalhar.
A Vera relembrou-se dos sequilhos através do meu blogue. Pelos vistos já não os comia aos anos! Esqueceu-se completamente deles. Vai daí foi a correr comprar sequilhos a uma qualquer confeitaria aqui do burgo. Vai daí eu sei que hoje em casa dos Pedros e das Veras vai haver sequilhos. E daí eu saber que hoje os Pedros e as Veras vão-se sequilhar todos!!!!

Kakakakaka ... Ah! E continuo sem pio! Kakakakaka
É caso para dizer que o meu pio está como o meu assobio!!!

Xana - S. Gonçalo - Amarante - Portugal
Fotografia de não sei quem

Alexandra Bento

Conheço a Alexandra Bento seguramente há mais de duas décadas. Lembro-me dela aí com catorze anitos, bem adolescente, e eu já rapariga casada e mãe de filha. No entanto a nossa amizade só se desenvolveria uns anos mais tarde em tertúlias no café-bar e, mais tarde ainda, aquando da sua licenciatura e posterior entrada no mercado de trabalho, como professora, na Escola Secundária do Marco de Canavezes onde eu então leccionava. Acompanhei a sua entrada no Hospital de Amarante, e desde aí esta nutricionista desempoeirada não mais parou. Soube há dias pelo blogue do Helder Barros que a Alexandra voltou a ser reeleita para o cargo de Presidente da Associação Portuguesa dos Nutricionistas e que iniciou por isso o seu 4º mandato à frente daquela associação. Não me espanta. É que muito embora não a conheça profissionalmente, pois felizmente nunca necessitei dos seus serviços, conheço a Alexandra há muitos anos e sei do que a casa gasta. A Alexandra é uma pessoa exigente a começar consigo própria, é calma, pacata, responsável, competente, boa pessoa, sempre pronta a contribuir para consensos e soluções, educada, simpática, sóbria, esforçada, trabalhadora e durante todos estes anos vi-a sempre igual a si própria. Por tudo isto, e porque não há duas Alexandras, só posso inferir que profissionalmente a Alexandra é tudo o que atrás mencionei mais tudo de bom que me esqueci de dizer. Por isso foi sem espanto, mas com enorme satisfação, que soube da sua reeleição. E é com enorme orgulho que me considero sua amiga e lhe deixo aqui os meus mais sinceros parabéns e votos de bom trabalho para esta amarantina à frente da legião constituída pelos nutricionistas portugueses.

Claro que para mim a Alexandra Bento será sempre a Xana. E muitas vezes a Xaninha.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008


Gaivotas - Essaouira - Marrocos
Fotografias de Artur Matias de Magalhães

Perder o Pio

Hoje foi dia de perder o pio. Literalmente. Foi o resultado de uma sinusite não curada, de dores de garganta lixadas, de uma noite sem dormir devido à impossibilidade de respirar pelo nariz e, acima de tudo, foi o resultado de uma manhã cheiinha de aulas em que arruinei completamente a minha já fragilizada voz. E amanhã há mais aulas. Bem sei que já estou habituada a perder o pio uma ou duas vezes por ano lectivo. Bem sei que não falha e que até já faz parte da minha rotina. Mas confesso que não é agradável. Perder o pio não é de todo agradável, especialmente para uma mulher, sempre com tanto assunto para falar, com tanto argumento para dar, com tanto problema para debater. Mais grave ainda quando a mulher é também professora.
Agora só me resta teclar. Só me resta o pio escrito. E pensar que isto não é uma malandrice do Santo. É que eu andei a chamar-lhe brejeiro e ele pode não ter gostado!!!!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Preciosidades Linguísticas


Sequilhos Digitalizados- S. Gonçalo - Amarante - Portugal

Preciosidades Linguísticas

Hoje inauguro um novo tema que dá pano para mangas e que se intitula de Preciosidades Linguísticas. Toda a gente sabe que a língua portuguesa se presta ao múltiplo e dúbio sentido e que às vezes basta um sorriso malandro para todos nós alcançarmos o significado oculto da coisa. Também toda a gente sabe que os portugueses são peritos neste jogo de palavras donde por vezes resultam expressões engraçadas e curiosas, donde por vezes resultam autênticas preciosidades linguísticas. E os portugueses são, neste domínio, um povo extraordinariamente criativo.
E, posto isto, vou voltar a falar do nosso santo, ou beato, ou lá o que ele é, vou falar do nosso querido S. Gonçalo.
O verdadeiro dia de S. Gonçalo, 10 de Janeiro, já passou e por isso devo esclarecer os meus leitores que sempre que 10 de Janeiro calha num qualquer dia da semana, que não o Domingo, a festita, já que se trata apenas de uma festita, passa para o Domingo seguinte.
Daí que a festita é hoje, apesar da chuva que cai sem parar e que decerto afrouxará o ruído dos bombos a bombar Amarante acima e abaixo, apesar da humidade que decerto amolecerá a doçaria.
Por isso hoje volta a ser dia de doces de S. Gonçalo, já postados sem rodeios aqui no blogue, e hoje é também dia destes doces maravilhosos que muitas confeitarias aqui do burgo fabricam propositadamente neste dia e que se chamam sequilhos.
Nesta altura já os meus leitores se interrogam onde é que está a preciosidade linguística e o que é que ela tem a ver com tudo isto. Mas tem. Tem a ver com os sequilhos.

Ontem comprei-os. E hoje vou comê-los como manda a tradição.
Vou comer sequilhos até me sequilhar toda!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Ainda a Sida

Sexo Seguro

Sexo Seguro

Hoje resolvi seguir a sugestão que o Luís me deixou aqui no blogue e fiz uma pesquisa rápida no youtube sobre "spots" publicitários que abordam a problemática da Sida. Há abordagens muito diferentes e muitas maneiras de alertar contra esta doença terrível, que não fez parte do meu vocabulário enquanto adolescente, mas que já deveria fazer parte do vocabulário de todos nós, crianças, adolescentes e adultos, que moram nos dias de hoje.
De todos os "spots" que vi o que mais me agradou é o que hoje posto aqui no blogue porque, sem estar com rodeios e paninhos quentes, alerta-nos para a necessidade de praticarmos sexo seguro, para a necessidade de não sermos promíscuos nas nossas relações sexuais, para a necessidade de tomarmos decisões consciente e responsavelmente porque, depois do prazer, a morte espreita por detrás de qualquer esquina. As imagens belíssimas de corpos humanos que se movimentam elegantemente e se emaranham uns nos outros sugerindo a prática de sexo aleatório, quando filmados ao longe, fizeram-me lembrar vermes que desaparecem da parte de cima da ampulheta, de 10 em 10 segundos, parando, morrendo. Só que aqui os vermes somos mesmo nós que não estamos a conseguir travar este terrível flagelo que é a Sida preferindo ignorar os dados, preferindo olhar para os lados, preferindo pensar que isto só acontece aos outros.
Ora nós temos mais do que a obrigação de não nos comportarmos como vermes, já que nunca tivemos tanto acesso à informação como hoje. Usemos pois essa informação a nosso favor seguindo opções pensadas e amadurecidas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Novo Aeroporto


Deserto - Margem Sul
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Novo Aeroporto

Foi com alegria que soube que o novo aeroporto vai mesmo ser construído na Margem Sul. No deserto, portanto. Onde, como se pode comprovar em fotografia anexa, não há cafés, não há hospitais, não há escolas e não há pessoas. Melhor, assim não haverá nada a atrapalhar!
Finalmente chegamos a bom porto... ou será antes finalmente chegamos a bom aeroporto?!



9º G - Museu Amadeo de Souza-Cardoso
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Visita de Estudo - 9º G

Acabei ontem a série de visitas programadas para este ano lectivo ao nosso museu Amadeo de Souza-Cardoso. Mais uma vez aproveitando uma tarde livre já que em tempo lectivo normal seria impossível devido à incompatibilidade dos horários da turma com os do museu.
A visita correu muito bem e outra coisa não seria de esperar de uma turma educada desde o sétimo ano por uma série de professores empenhados em fazer destes alunos adolescentes que sabem estar e que sabem ser. Confesso que nos deu muito trabalho! Muito trabalho mesmo.
Relembro-os no 7º ano, meus alunos a História, Estudo Acompanhado e Área de Projecto, muito simpáticos, sempre alegres, muito trabalhadores... mas umas baratas tontas!!! É que entravam na sala de aula e continuavam a falar em grupinhos de amigos, agarravam-se, empurravam-se, beliscavam-se, como se eu não estivesse lá; riam-se por tudo e por nada, pelo que tinha realmente graça e pelo que não tinha graça absolutamente nenhuma; entravam-me na sala de bonés e mantinham-nos até eu os chamar à atenção; mantinham-se de pastilhas elásticas mesmo depois de os mandar deitá-las ao lixo até que eu descobria pelo mastigar das bocas bem abertas fazendo ruído e pelas bolas que eles, distraídos, faziam; entravam na sala de aula a jogar à bola; nos dias de entrega dos testes de avaliação tanto fazia terem positiva como negativa porque a alegria mantinha-se... sem dúvida alunos simpáticos e alegres que pediam desculpa quando eram chamados à atenção mas que voltavam a repetir tudo uma e outra vez na aula seguinte, da mesma forma, num processo desgastante para mim e para os restantes professores. Parecia que não aprendiam, que não retinham regras básicas de convivência e civismo.
Nunca desisti deles. Nunca desisti de os chamar à atenção ou mesmo de os castigar que alguns deles sabem bem do que falo e têm os cadernos com mais ou menos castigos conforme a gravidade dos casos.
E eis que somos chegados ao 9º ano. E o que dizer dos meus meninos e meninas do 9º G? No mínimo que parecem autênticos estudantes universitários. Comportam-se com uma correcção e educação que eles mesmo desconfiariam da veracidade das imagens se pudessem ver um filme comparativo do antes e do depois em termos de comportamento. É sem dúvida uma das turmas onde eu entro bem disposta e donde eu saio bem disposta, satisfeita pelo dever cumprido e, acima de tudo, satisfeita porque eles aprenderam a estar e estão a aprender a ser.
Por isso é para mim um enorme prazer leccionar as minhas aulas de História a este 9º G. Pena que o ano esteja a acabar, agora que o grosso do trabalho está feito!!! Porque leccionar História a estes alunos, hoje em dia, é canja!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

10 de Janeiro - Amarante - Portugal



Doces de S. Gonçalo - Amarante - Portugal

10 de Janeiro - Dia de S. Gonçalo

Hoje, dia 10 de Janeiro, é Dia de S. Gonçalo, e este santo, que somente é beato!, para quem desconhece este facto, é o santo padroeiro mui querido da nossa cidade de Amarante.
Há quem defenda que as festas em honra do nosso santo padroeiro deveriam ser transferidas do primeiro fim-de-semana de Junho para o seu dia, para hoje portanto, mas enquanto isso não acontece vamos tendo o verdadeiro dia a passar quase sem darmos por isso. Foi quase o que me aconteceu hoje. Não fora ter ido à rua, não fora ter passado na padaria, não teria visto à venda os famosos doces de S. Gonçalo que hoje posto no meu blogue e deixaria passar este importante dia sem qualquer menção. Convém esclarecer que estes doces, escolhidos por mim de um tamanho discreto, que os há muito mais generosos e avantajados, não têm nada a ver com qualquer tipo de brejeirice da minha parte sendo que o brejeiro é mesmo o santo. Estes Doces de S. Gonçalo, de forma fálica e de origem pagã, associados sem dúvida a cultos ancestrais de fertilidade que se perdem na memória, foram de algum modo incorporados, tolerados e aceites pelas várias moralidades vigentes e chegaram aos nossos dias vigorosamente associados ao santo. A ele está associada a crença de casamenteiro das velhas, a ele estão associados estes doces de formas muito pouco ortodoxas, a ele estão associadas quadras populares que todos nós amarantinos aprendemos desde pequeninos, entre gargalhadas de tão malandrecas que são as letras. Continuo a espantar-me sempre que olho para a sua imagem... uma carinha tão doce e sensata esconder o santo mais brejeiro de toda a cristandade! É que parece mesmo impossível!
E para finalizar, e para quem não é daqui e desconhece as quadras populares e brejeiras dedicadas ao santo, aqui fica um exercício para os meus leitores terminarem segundo o que lhes aprouver.

"Ó meu rico S. Gonçalo
Que estais virado prà vila
Virai-vos prò outro lado
Que vos dá o sol na ..."

E pronto, está comemorado o dia de S. Gonçalo, "comme il faut", aqui no meu blogue.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sabonetes


Sabonete de Tomate Digitalizado

Sabonetes

Já não é a primeira vez que me ocorre postar sobre sabonetes mas só hoje me decidi, impelida por este belíssimo sabonete de cozinha que cheira a tomates deliciosa e delicadamente perfumados.
Hoje em dia o sabonete acompanha a nossa existência praticamente, ou mesmo literalmente, desde o nosso nascimento.
Relembro o nascimento da Joana, quase imediatamente enfiada numa banheira cheia de água tépida e lavada dos pés à cabeça, como era usual e moda á época, e relembro que, quando me foi dado revê-la, já ela vinha toda vestidinha com finos trajares que um dia foram vestidos pelo meu pai aquando do seu nascimento e cheirosa que nem sei fruto destes odores de maravilhosos sabonetes.
O sabonete, líquido ou sólido, acompanha pois a nossa existência, dia após dia, e nem sei o que seria de nós sem ele, agora que ele faz parte integrante dos nossos hábitos de higiene e está à distância de um braço, nas prateleiras das lojas da especialidade e a preços mais ou menos convidativos, dependendo da marca, do design. Mas nem sempre foi assim e a minha mãe contava-me da trabalheira que era fazer sabões e sabonetes em casa, no tempo da guerra, seguindo receitas caseiras que eram passadas de geração em geração. Em casa da minha avó materna assim se fazia. O sabonete era, à época, um luxo a que nem todos acediam. E convém não esquecer que o sabonete continua a ser um luxo para largas franjas da população mundial.
Os sabonetes fazem parte das minhas memórias mais antigas e os sabonetes da minha infância estarão sempre associados às farmácias aqui do burgo, e mais concretamente à Farmácia Central, onde a Dona Albana reinava e a cada passo oferecia-me miniaturas de sabonetes que me fascinavam e embriagavam com o seu cheiro cheiroso.
O sabonete faz pois parte integrante da minha vida e as minhas memórias de infância passam por aqui, incluem cheiros e odores a sabonetes deslizando sobre a pele molhada.
E no Verão era ver os amarantinos nos Poços, homens e crianças, quase exclusivamente, que as senhoras não iam para lá fazer essas figuretas, de sabonete em punho, ensaboando-se energicamente, a água pelos joelhos, num banho quase completamente público!
Quanto aos meus banhos, guardo na memória os banhos mais extraordinários que já tomei em toda a minha vida, no meio das dunas, com água mais do que racionada e o sabonete deslizando sobre a minha pele, lavando-me mais do que a pele morena, lavando-me a alma, morena, em pleno deserto do Sahara, em plena comunhão com a Natureza.
Inesquecível.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008






Museu Amadeo de Souza-Cardoso - Amarante - Portugal
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Visita de Estudo - 9º H

Hoje realizei mais uma visita de estudo ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso, desta vez com a turma do 9º H, aproveitando a nossa tarde livre.
Saímos da ESA a pé, e lá fomos, Amarante abaixo, até ao museu, onde chegámos à hora marcada.
Estavam todos muito bem dispostos e a turma portou-se lindamente, tanto no trajecto, como durante a visita, guiada que foi, como sempre, com grande alegria, pela dra Cláudia Cerqueira.
As fotografias que ilustram este "post" foram propositadamente desfocadas e transformei, assim, os meus alunos em vultos elegantemente fantasmagóricos, envoltos em névoas diáfanas, deslocando-se pelo museu como que flutuando e que agora posto, com todo o carinho, no meu blogue. São fotografias das minhas meninas e dos meus meninos que comigo crescem há quase três anos. E como têm crescido bem!!!
Aqui lhes deixo beijinhos. Grandes. A condizer com eles.
 
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