quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Novas da FENPROF - Ponto de Situação



Novas da FENPROF - Ponto de Situação

A FENPROF apresentou hoje ao Ministro da Educação, em reunião em que o governante esteve presente, diversas propostas para as quais aguarda, agora, respostas, esperando que as mesmas sejam tão céleres quanto a dimensão de cada problema justifica. A saber:
- Assinatura de um protocolo negocial em torno de 3 grandes questões: combate ao desgaste e envelhecimento do corpo docente das escolas; criação de condições que garantam estabilidade no exercício da atividade docente; valorização do exercício profissional docente, também no plano das suas carreiras. Para a FENPROF, este protocolo destinar-se-á, não apenas, a identificar os problemas, como a encontrar soluções e a estabelecer os prazos para a resolução;
Com vista a serem consideradas no âmbito deste protocolo, a FENPROF adiantou já algumas propostas, dando ênfase às seguintes:
- Resolução dos problemas relacionados com a carreira docente, numa sequência de três momentos: i) regularização de todas as situações ilegais (janeiro de 2017), ii) descongelamento das progressões (julho de 2017), iii) início do processo de recuperação do tempo de serviço não contado (janeiro de 2018);
- Combate à situação de comprovado desgaste físico e psicológico dos docentes, através de uma reorganização dos horários de trabalho que contemple: i) uma clara definição do conteúdo de cada componente do horário, distinguindo, sem equívoco, o que é letivo do que não é letivo, ii) a integração das reduções por antiguidade (art.º 79.º do ECD), de novo, na componente não letiva individual dos professores, iii) antecipação da aplicação destas reduções;
- Rejuvenescimento do corpo docente das escolas através, por um lado, da criação de um regime especial de aposentação dos professores (tendo a FENPROF manifestado disponibilidade para encontrar soluções diversas de concretização deste regime), por outro lado, da criação de um regime de vinculação que integre nos quadros todos os que, em situação de precariedade, satisfazem necessidades permanentes das escolas e do sistema educativo.
Para além destas matérias, a FENPROF propôs ainda:
- O recurso à Procuradoria-Geral da República para arbitragem de divergências de ordem jurídica que FENPROF e ME mantêm em torno de aspetos relacionados com a interpretação de normativos legais que são incorretamente aplicados, penalizando fortemente docentes que continuam sem ser reposicionados na carreira, nos escalões em que se encontram os seus colegas com igual tempo de serviço;
- A criação de uma comissão conjunta que vise elaborar um diagnóstico da grave situação que se vive no 1.º Ciclo do Ensino Básico, com vista a atacar e resolver os problemas que afetam este setor, com prejuízos evidentes para a organização pedagógica das escolas, os alunos e os seus docentes;
- Que a gestão das escolas seja considerada matéria prioritária, a analisar e discutir ainda no presente ano letivo, no sentido de a democratizar e melhorar aspetos de ordem organizacional e de funcionamento das escolas. Nesse sentido, a FENPROF comprometeu-se a apresentar, na próxima reunião a realizar com o Ministro, uma proposta para a gestão democrática das escolas, que resultará da campanha de auscultação e debate que, a partir de janeiro, vai lançar em todo o país.
Relativamente a estas propostas, o Ministro da Educação afirmou que as teria em conta, quer analisando-as, quer encaminhando-as para as áreas adequadas da governação, pelo que a FENPROF fica, agora, a aguardar respostas concretas a cada uma delas, que espera receber em tempo breve.
Reconhecendo o conjunto de sinais positivos que foram dados no início de mandato – fim da PACC, das BCE, do PET/Cambridge, da requalificação e dos exames nos dois primeiros ciclos de escolaridade, entre outras medidas – é necessário, porém, que esses sinais deem lugar a mudanças significativas, sendo que, para os professores, relativamente às cinco grandes questões apresentadas (aposentação, vinculação, horários de trabalho, carreiras e gestão democrática), o tempo começa a justificar mais do que o reconhecimento dos problemas, exigindo que se tomem medidas que lhes ponham cobro.
A FENPROF está consciente de que não se pode fazer num dia o que foi desfeito em vários anos, mas os professores, que nunca deixaram de cumprir zelosamente os seus deveres, não aceitam continuar a ver desrespeitados os seus direitos. Com o objetivo de encontrar soluções para os problemas dos professores e das escolas, a FENPROF insiste na necessidade de um protocolo que calendarize os tempos para negociar e aprovar as medidas adequadas a essa resolução.

O Secretariado Nacional

Disciplinas de Primeira e Disciplinas de Segunda

Imagem surripiada na net

Disciplinas de Primeira e Disciplinas de Segunda

A notícia já é de ontem mas hoje volto a ela para reforçar uma ideia minha, por certo idiota, que ontem me ocorreu de imediato ao ler o que se foi escrevendo e ao ver o PSD chamar a si, e ao ministro Nuno Crato, os louros pelos resultados conseguidos à disciplina de Matemática de 4.º ano. Já agora, Nuno Crato fez exactamente o mesmo aqui.
Reforço o que ontem já escrevi: e as Ciências, senhores? E o fiasco da queda das Ciências no mesmo ranking? É que de 2011 para 2015 verificamos uma descida da 19.ª posição para a 32.ª! Não reclamam para o PSD e para o ministro Nuno Crato semelhante descida?!

Certo certo é que com Crato tivemos a introdução de um desenho curricular que nitidamente separa as disciplinas de Matemática e Português das restantes, ddesde o 1º. Ciclo. Estas são as disciplinas de primeira, as disciplinas de eleição. Todas as restantes são disciplinas de segunda categoria... havendo mesmo disciplinas de terceira categoria... estou a lembrar-me, por exemplo, de TIC no 3.º Ciclo.
Sim, porque o aumento das horas lectivas a Matemática e a Português foi feito à custa de horas roubadas a outras disciplinas. Disse bem, disse e escrevi bem - foram roubadas. O que desequilibrou todo um desenho curricular.
Só para que se saiba, estamos a falar de 275 horas anuais dedicadas à Matemática, somos mesmo os campeões pois nenhum outro país lhe dedica tantas horas!, sendo que a média dos países participantes no TIMMS é de 157 horas anuais. Mais quantidade é sempre melhor? Pois não é. A Coreia do Sul dedica umas modestas 100 horas anuais a Matemática e alcançou a medalha de bronze neste campeonato.

E deixem-me puxar a brasa à minha sardinha. Vejamos o caso de História, de 3.º Ciclo, na minha escola. Em tempos que já lá vão, já tive três tempos semanais de 50 minutos para leccionar um programa menos exigente do que este que agora lecciono em 100 minutos semanais.
Esta gente quer milagres? Talvez em Fátima? Em cima de uma azinheira?
É que o raio da manta, assim, não dá mesmo para cobrir de modo equilibrado a totalidade das disciplinas.

Portugal com subida redorde nas notas de matemática do 4.º ano

PSD congratula-se com melhoria dos conhecimentos a matemática no 4.º ano

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Matemática - Alunos Portugueses de 4º Ano à Frente dos Finlandeses


Matemática - Alunos Portugueses de 4.º Ano à Frente dos Finlandeses

O post que se segue foi originalmente escrito e publicado no ComRegras.

Sem dúvida que esta é a notícia de hoje, a divulgação dos resultados do TIMSS - Trends in International Mathematics and Science Study - que compara resultados internacionais de Matemática e Ciências e que nos comprova que não só os estudantes portugueses do 4.º ano de escolaridade conseguiram melhores resultados que os míticos finlandeses, como comprova ainda que, entre 1995 e 2015, Portugal foi o país que mais melhorou no que à Matemática diz respeito.
Clara Viana, no Público de hoje, chama este feito, como não podia deixar de ser, para o título da notícia Matemática: alunos portugueses do 4º ano passam à frente dos finlandeses. Mas, já a Ciências...

"Estes testes realizam-se de quatro em quatro anos. Por comparação a 2011, a média obtida por Portugal a Matemática subiu nove pontos, estando agora na 13.ª posição de um ranking que lista 49 países e regiões, dois lugares acima do que foi alcançado há quatro anos.
Já a Ciências (Estudo do Meio no currículo português), pelo contrário, registou-se "uma descida significativa": menos 14 pontos de média e descida da 19.ª posição para a 32.ª" escreve Clara Viana que aborda ainda a desigualdade de géneros verificados nos resultados de Matemática, desta vez com os rapazes na liderança em Portugal.

É claro que o PSD já veio reivindicar os excelentes resultados a Matemática... esquecendo-se, habilmente, de também reivindicar os péssimos resultados de Ciências...

Público - Clara Viana

Matemática: alunos portugueses do 4º ano passam à frente dos finlandeses

Lusa

PSD chama a si louros pelos bons resultados a Matemática

E ainda no Público

Bons resultados a Matemática mostram que houve políticas eficazes

Olaria Negra de Bisalhães - Património Imaterial da Unesco

Fotografias recolhidas na net

Olaria Negra de Bisalhães - Património Imaterial da Unesco

Já era Património Cultural Nacional mas, a partir de hoje, a Olaria Negra de Bisalhães é também, orgulhosamente, Património Imaterial da Unesco. Restam cinco oleiros, todos idosos e vale bem a pena saber os seus nomes - Cesário da Rocha Martins, Jorge Ramalho, Manuel Joaquim da Rocha Martins, Querubim Queirós Rocha e Sezisnando Ramalho são os resilientes artesãos que perpetuaram esta actividade fazendo-a chegar aos dias de hoje. A janela da extinção ainda não está, assim, fechada e a distinção de hoje vai contribuir, por certo, para a preservação desta forma de produzir peças de barro que, por usarem a soenga, muito embora não tão primitiva quanto a de Gondar, como método de cozedura, resultam em peças de barro preto pretinho, muito apreciadas na região e nos seus arredores, estrangeiro incluído.
Orgulho! Hoje, enquanto portuguesa, só posso estar orgulhosa.

Orgulho também na olaria de barro negro produzida em Gondar, Amarante, actualmente em processo de certificação, que usa um método de cozedura em soenga primitiva já raríssima nos dias que correm e já só produzida por um único artesão de seu nome César Teixeira.
Orgulho em saber que aqui mesmo, nesta mesma rua em que habito, abrirá um pequeno museu a esta olaria negra dedicado, com o apoio do Município de Amarante e a dedicação e empenho de sempre da Associação Camerata das Artes. Chamar-se-á Núcleo Museológico do Barro Negro e talvez para o próximo ano, até porque é ano de eleições, vos dê a notícia da inauguração deste importante espaço que contribuirá, inevitavelmente, para o ressurgimento desta rua que já bateu no fundo e está agora, nitidamente, a reerguer-se.
Aguardamos as cenas dos próximos capítulos mas, sem dúvida! esta foi uma importante notícia para Bisalhães... e para Gondar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Iluminação de Natal - Rua da Cadeia - Amarante

Iluminação de Natal - Rua da Cadeia - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Iluminação de Natal - Rua da Cadeia - Amarante

A iluminação de Natal da Rua da Cadeia, em Amarante, foi oficialmente inaugurada hoje, o que quer dizer que por aqui também já há luzinhas a apagar e a acender. Entretanto, outras luzinhas se juntarão. Porque aqui, na rua, no coração da cidade de Amarante, também habita gente.

Castanheiros/Castanhas

Castanhas/Castanheiros - Barca - Serra da Aboboreira
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Castanheiros/Castanhas

Este ano os meus castanheiros esmeraram-se de uma maneira tal que continuo de cara à banda perante a quantidade de castanhas espalhadas no chão do meu souto. Estas foram apanhadas ontem, durante a tarde, retiradas aos seus ouriços empapados na água das últimas chuvas. A janela de tempo, para voltar à serra e apanhar as ditas cujas, é agora curta. Esperam-me, para variar, aulas e mais aulas e, além do mais, os dias agora estão já curtos como o raio que os parta.
Estas castanhas, apanhadas ontem, repousam agora em cima de uma toalha, ainda sem qualquer limpeza, mas já a secar. Serão, tal como as anteriores, muito macias, muito saborosas, muito doces, a descamisar que é uma maravilha e vão continuar a fazer as delícias cá de casa... e de mais algumas casas também.

domingo, 27 de novembro de 2016

As 3 Marias - Ruga de Expressão


Fotografia surripiada na net

As 3 Marias - Ruga de Expressão

Com os meus agradecimentos ao meu queridíssimo conterrâneo, nascido nesta minha rua, o jornalista Costa Carvalho, pelo envio destas belíssimas 3 Marias!


sábado, 26 de novembro de 2016

Benjamin Clementine - Do Metro de Paris para os Palcos do Mundo



Benjamin Clementine - Do Metro de Paris para os Palcos do Mundo

Hoje volto a um amor meu. Hoje volto a ele e recupero um post escrito exactamente há um ano.
Hoje volto a um hino à perseverança, à resiliência, ao trabalho afincado, à capacidade criativa humana, ao génio chamado Benjamin Clementine.
Hoje volto a um hino à multiculturalidade, ao movimento livre das gentes no nosso espaço/casa comum chamado Terra. Hoje volto a um hino à nossa Humanidade.

Thank you, Benjamin Clementine!






Amarante Cidade Presépio, a Antiga Rua da Cadeia e as Iluminações (Inexistentes) de Natal

Amarante Cidade Presépio - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Magalhães

Amarante Cidade Presépio, a (Antiga) Rua da Cadeia e as Iluminações (Inexistentes) de Natal

A (antiga) Rua da Cadeia, que actualmente é composta por três ruas - Rua dr. Miguel Pinto Martins, Rua Miguel Bombarda e Rua Teixeira de Vasconcelos... ufa... ufa! tanto nome para rua tão pequena!... - é uma das artérias mais antigas de Amarante, existente já pré-invasões francesas, coisa que não acontecia com a actual Rua Cândido dos Reis, só posteriormente rasgada mais na proximidade do Tâmega.
Acontece que a (antiga) Rua da Cadeia tem vindo a ser sistematicamente discriminada, no péssimo sentido, relativamente à iluminação de Natal que por aqui tem sido inexistente, ano após ano, ano após ano. E esta discriminação, muito negativa, já cansa. Por Amarante, vêem-se já luzinhas por todo o lado, no Largo de S. Gonçalo, na Alameda Teixeira de Pascoaes, na Ponte Velha, na rua 5 de Outubro, na Cândido dos Reis, em Santa Luzia, no Campo da Feira, na Ponte Nova, no Largo do Arquinho... e na (antiga) Rua da Cadeia, coração do centro histórico de Amarante... cadê iluminação?! Pois não a viste? Pois nem eu!
Não sei a quem cabe a responsabilidade da contratação da iluminação de Natal. De qualquer modo, deixo aqui um apelo a quem de direito que me possa ler desse lado. Se Amarante se quer afirmar como Cidade Presépio... que tal deixarem de discriminar negativamente uma das ruas mais emblemáticas da cidade que se esforça de carago para se reerguer do esquecimento a que tem sido votada?
Podem ter a certeza que os moradores da rua agradecem. As associações culturais aqui existentes também. E os comerciantes... bom, estes nem se fala!

Nota - A minha parte está feita. A minha contribuição para Amarante Cidade Presépio já pisca... se eu a ligar. De resto, a rua está como nos restantes dias do ano, ou seja... escura como breu!

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A Jóia de Luz e o Natal

A Jóia de Luz e o Natal - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

A Jóia de Luz e o Natal

Sim, já é tradição, somos nós os dois que fazemos a árvore de Natal por aqui e este ano o pequenito andou numa azáfama a chegar-me as bolas que tirava, entusiasmado, das caixas que guardam segredos de um ano para o outro.
E já cá estamos outra vez... quase quase no Natal...

Michel Giacometti - Memórias

Gravação da Chula de Carvalho de Rei - Serra da Aboboreira
Fotografia de Artur Matias de Magalhães

Michel Giacometti - Memórias

Sobre os 26 anos da sua morte, dou a palavra ao meu irmão José Emanuel Queirós.
Com uma correcção: o povo continua a cantar.


26 ANOS COM A MEMÓRIA DE GIACOMETTI
Michel Giacometti (Ajaccio, 8 de Janeiro de 1929 - Faro, 24 de Novembro de 1990)
Ao perfazer 26 anos sobre a partida de Michel Giacometti deste mundo para algum endereço etéreo onde a etnomusicologia terá seu lugar cativo no concerto dos deuses, relembro um texto de homenagem produzido à época e publicado em «O JORNAL de AMARANTE», com o título
O POVO NÃO VOLTARÁ A CANTAR
Algures neste país, numa pequena aldeia alentejana, que o seu último desejo retirou ao anonimato, estarão, por certo, a decorrer os últimos cerimoniais por um Homem que, embora nascido corso, e depois de percorrer meio mundo (vide “O Jornal de Amarante” N.º 471, de 14 de Setembro de 1988) à procura do verdadeiro e justo sentido que quis dar à sua existência, entregou apaixonada e abnegadamente toda a sua vida ao Povo português, à prospecção e ao estudo das raízes da sua autêntica identidade cultural, e a quem num acto simbólico de gratidão e reconhecimento devolveu, em último gesto, tudo o que tinha de verdadeiramente seu.
Nesta minha modesta homenagem que, a distância que Peroguarda de Amarante separa, me impede, de outro modo, testemunhar a gratidão da sua sincera amizade, reúno parcimoniosamente todos os sinais que da sua presença conservo, e elevo o meu pensamento para a memória que de Michel Giacometti resguardo. E recordo o tom grave da sua voz (exprimindo-se em correcto português, com ligeiro sotaque que denunciava as suas origens gaulesas) em último telefonema que, acerca de cinco ou seis semanas me fizera.
Grave era o seu timbre natural de voz, mas mais se acentuava naquele sábado do modo com que referia ter “eliminado Amarante dos seus itinerários”, e excluído da Antologia de Música Popular Portuguesa, que estava a preparar, as recolhas por cá efectuadas (vide “O Jornal de Amarante” N.º 472, de 21 de Setembro de 1988). As suas palavras tinham, compreensivamente para mim, a determinação que lhe reconhecia, mas a dureza que nunca lhe havia encontrado, nem sequer nas longas conversas que ambos tivemos em Amarante sobre a relação de suspeita e desconfiança que o Estado Novo mantivera consigo e com o seu trabalho, em relatos nos quais colocava a dose de ironia e de desculpa correspondente ao insustentável grau de parvoíce e de ignorância que os mais fiéis servidores do Regime naturalmente exibiam.
Hoje associo esse último contacto do Dr. Giacometti ao prenúncio da sua despedida definitiva de mim, à reafirmação – a quem sempre o escutara com atenção – do auge do seu desalento com os poderes e as autoridades deste país, em manifestação da sua máxima expressão de impotência perante a vida que em si se esvaía e com ela o seu desespero em crescendo porque o trabalho efectuado ao longo de 30 anos ficava só no começo. Que a doença, pelos visto, já o acompanhava nos seus derradeiros percursos, e poucos dias depois o havia de conduzir ao termo da sua vida, em qualquer leito de hospital na cidade de Faro, nas condições que outros jornais relatam.
O inabalável respeito pelas diferenças que procurava intimamente conhecer e justificava com minúcia, apoiado em conhecimentos musicais que reuniu e lhe terão facultado um ímpar apuro de memória e selectividade auditiva, e as sinceras e profundas amizades que cultivava, creio que lhe deverão ter marcado, em definitivo, a sua opção e percurso de vida, denúncias da particular dimensão de Homem, de cultura invulgar, de trato simples e afável, modesto e despreocupado no trajo, marcado por um estilo de vida singelo mas exigente que levava, dedicado em apostolado quase messiânico a uma causa de dimensão Nacional, que Portugal e os seus diferentes representantes não souberam, nunca, compreender.
Michel Giacometti conhecia o país e as suas múltiplas diversidades regionais, na sua dimensão física, cultural e humana, certamente como poucos portugueses. Os seus longos e penosos percursos preparava-os minuciosamente em Cascais, aonde vivia na Rua dos Navegantes, e de onde partia para a sua investigação, que daí o levava até à aldeia mais remota de Trás-os-Montes, ao interior da Serra Algarvia, num acervo de recordações e histórias antes vividas. Lembro aquela, que ele um dia me contou, passada com um pastor que observando atentamente a juventude de uma amiga que o acompanhava, e achando-a boa para o trabalho no montado, lhe propusera a sua troca por um porco; como não me esqueço das condições e do quadro de vida de uma família, em Outressa (freguesia de Ovil, em Baião) que ambos fomos encontrar em tentativa de recolha de “encomendação das almas”, e que o levaram a exclamar: “se o Bergman cá viesse caía de joelhos.” Testemunhos de um país ainda medievo, na Europa.
Sem receios, mas com extrema precaução, Giacometti deixava o alcatrão das estradas e trocava-o pelos mais difíceis caminhos e veredas empoeirados, em lenta marcha que impunha à sua viatura, cor creme, com alguns sinais de corrosão, levando consigo em ansiedade latente o desejo e a pressa de chegar, e a angústia consciente de já chegar tarde.
Agora, que Michel Giacometti nos deixou sós na solidariedade que nos dedicou, num rol de projectos por concretizar, se esfumou o sonho que um dia tivera de se instalar em Carvalho de Rei durante dois meses, que pela localização e altitude considerava as condições ideais para a sua saúde, e daí lançar as suas exaustivas prospecções à região. Ganha razão a mágoa funda que sentia de não conseguir deixar quem, com a mesma dedicação, a mesma honestidade, e o mesmo rigor fosse capaz de dar continuidade ao seu trabalho.
É 25 de Novembro de 1990. Neste dia em que Portugal se despede de Michel Giacometti e o seu Povo deixa de ter quem o queira ouvir cantar, fico com um endereço e um número de telefone impossíveis, em incontida saudade, enquanto a RTP no seu Jornal de Domingo noticiava poeticamente a morte de um golfinho numa qualquer praia do rio Tejo.
Amarante, 25 de Novembro de 1990

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Serra da Aboboreira Invernal

Serra da Aboboreira - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Serra da Aboboreira Invernal

Não admira que as aldeias de montanha vão sendo abandonadas, a cada geração menos gente até ao despovoamento total. Isoladas, com invernias agrestes e geladas que se iniciam no Outono e entram Primavera dentro, a vida, em altitude, não é mesmo nada fácil e não causa surpresa que a atracção pelos vales, onde a vida é mais doce e suave, se tenha entranhado no ADN humano desde tempos imemoriais.
Dizem-me que a aldeia de Carvalho de Rei terá agora uns cinquenta habitantes, quase quase todos idosos. "Quando estes morrerem, a aldeia acaba!" - dizia-me o Sr. Manuel, um dia destes. A não ser, digo eu, que chegue gente de fora que se empenhe na reconstrução de casas de granito muito simples e belas onde, ainda hoje, se vive duramente. E que as salve da morte e do abandono total... talvez através de projectos ligados ao turismo... talvez seja esse o destino...
Hoje subi à serra só para a ver, num saltinho de pardal logo logo a seguir ao almoço e antes de entrar na escolinha para o turno da tarde.
Estamos a quinze quilómetros de Amarante. O frio é intenso. A chuva gela-nos até aos ossos. O vento fustiga-nos em rajadas irregulares. O nevoeiro não se decide e ora se levanta, ora cai com uma determinação e densidade digna de registo.
Sim, "Isto hoje está mau, sr. Joaquim!" gritei eu de dentro do aconchego do meu carro para o pastor que, pacatamente, olhava o seu parco rebanho protegido em abrigo frágil nas terras do já falecido sr. António das Lagoas.
Pois está. Isto hoje está mau. Brrrrrrrr....

Nota - Fotografei o pastor. Alguém o consegue descortinar entre o nevoeiro?

Ainda a Tosquia

Auto-Retrato - S. Gonçalo - Amarante
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Ainda a Tosquia

Agora aprovada pelos meus alunos de 8º ano, da minha direcção de turma, que voltaram à sua professora de História de sempre.

" Agora dá vício ver a professora!"
"Agora dá vício vir à aula de História!"

E com cabelo ao vento... não dava?!... pergunto eu!

Castanheiros da Barca

Barca - Serra da Aboboreira - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Castanheiros da Barca

O que pode levar uma pessoa aos vinte e dois anos a plantar um souto?

O gosto pela árvore, bela como o raio que a parta em todas as estações do ano?
A admiração pela árvore, resistente a todas as intempéries?
A vontade de se deliciar com os seus frutos?
A esperança de poder acompanhar durante alguns anos o seu crescimento?
A inveja sentida sempre que constato que as espampanantes morrem de pé?

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Tosquia

Auto-Retrato - S. Gonçalo - Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães


Tosquia



O diálogo ocorreu hoje, pela manhã, no café do costume.
O tom foi enérgico e persuasivo e foi mais ou menos assim:

- Quando me vais cortar esse cabelo?!
- Um dia destes.
- Sabes, agora, com esse cabelo comprido, estás igual a todas as outras.

E pronto. Fui à tosquia. E aqui estou eu de volta ao meu look de décadas.

Zumba - E. B. 2/3 de Amarante

Zumba - E. B. 2/3 de Amarante
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Zumba - E. B. 2/3 de Amarante

O professor é um professor de zumba espanhol porque nós queremos internacionalizar a escolinha. A aula é semanal. Junta alunas, mães de alunas, professoras e funcionárias. E já é coisa sagrada.

Nota - Apesar de picados, os rapazes ainda não tiveram coragem...

Jardim Exterior Amarantino

Jardim Exterior Amarantino - Barca - Serra da Aboboreira
Fotografias de Anabela Matias de Magalhães

Jardim Exterior Amarantino

O meu. A aquietar-se perante a aproximação do Inverno.

 
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