Um Exemplo Exemplar

Claustro de D. Dinis ou Claustro do Silêncio - Alcobaça
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães

Um Exemplo Exemplar

Um dia destes, precisando de me ausentar brevemente da sala onde leccionava História, perguntei aos meus alunos se podia confiar neles, se tinham maturidade suficiente para trabalharem a sós, sem necessidade da presença de um funcionário que tivesse como missão a vigilância dos "bebés"! Pois responderam-me qualquer coisa como "por amor de deus, professora, mas é claro que pode ir descansada". Lá lhes marquei a tarefa, nada de complicado e ausentei-me confiando plenamente neles já que, desde a primeira aula, o comportamento geral daqueles miúdos e miúdas, dentro da minha Sala de História, tem sido absolutamente exemplar.
Mas acontece que alguns alunos da turma resolveram brincar e, de brincadeira em brincadeira, a coisa descambou em atitudes absolutamente desaconselháveis e impróprias para uma sala de aulas.
Não que eu tivesse assistido à rebaldaria porque, de facto, não assisti a absolutamente nada pois quando cheguei à sala estavam já todos calados como ratos e eu prossegui, sem nada saber.
Bom, mas acabei por saber. E a DT deles também. E, aqui chegada, tenho de fazer uma pausa na narração breve da coisa para afirmar alto e bom som que felizardos são os alunos que têm uma DT como a H. É o caso destes.
Deslocámo-nos as duas à turma e as duas falámos no mesmíssimo sentido, parecendo até que ensaiámos o chá, mas sem o termos ensaiado coisíssima nenhuma.
As nossas palavras saíam ora de mim, ora dela, complementando-se em perfeita harmonia, sensibilizando-os para a assunção do erro, para o voto de confiança quebrado com brincadeirinhas parvinhas, pela falta de respeito demonstrado para comigo e para com a DT que eles respeitam e amam.
E eu amei a conversa que mantivemos ali, entre todos. Todos os que erraram, e lá volto eu, com os meus cuidados, a frisar que não foi a totalidade daqueles alunos daquela turma, o reconheceram, confessando os seus próprios erros em voz alta, assumindo as culpas sem atirar absolutamente nada para as costas do vizinho, sem se refugiaram no grupo. Amei esta honestidade. Porque assim se cresce, porque assim se cresce bem. (Não liguem aos maus exemplos que vos chegam vindos de cima que essa gente só pode acabar mal.)
E, confesso, acima de tudo amei a espontaneidade com que iniciaram os pedidos de desculpas... uns aos outros, a nós as duas também.
Garanto-vos que jamais me esquecerei da vossa reacção sentida, adulta, honesta, madura, limpa, e sem truques baixos ou altos. E garanto-vos que a relação de confiança entre nós está, por completo, restabelecida.
Todos cresceram aos meus olhos. Por certo aos da vossa DT. Porque de um mal fizeram um bem sendo os actores principais deste "Exemplo Exemplar".
Tomara que os "grandes" pudessem comportar-se sempre assim!
Tomara que os "grandes" reconhecessem os seus erros e conhecessem o sabor doce de um pedido de desculpas sentido.