Auto-Retrato em Dia de Reencontro com a História - Espanha
Fotografia de Anabela Matias de Magalhães
Estou num dos escalões "Bombo de Festa" eleitos pelo MEC para a experimentação da ADD, aquela que pretendendo ser Avaliação de Desempenho Docente ainda não deixou de ser, desde a paridela por MLR, Avaliação de Desempenho Doente.
No primeiro ciclo avaliativo não solicitei aulas assistidas apesar de não as temer minimamente.
No segundo ciclo avaliativo fui obrigada, pela legislação em vigor, a solicitá-las. No problem, a minha avaliadora assistiu a duas aulas em turma de CEF... pela primeira vez na sua vida às duas coisas... avaliar uma professora na sua actividade docente, sem qualquer preparação/formação prévia para tal! e entrar em turmas de CEF, precisamente aquelas que muitos docentes rejeitam pelas dificuldades acrescidas que se nos colocam no dia-a-dia, na actividade docente, nestas turmas. Sei do que falo porque sempre as quis e tive desde a sua implementação. E sim, para o próximo ano estou a precisar de descanso do desgaste que já é muito, do trabalho com estas turmas... quase uma década e sempre com direcção de turma de bónus! E sim, estamos a precisar de preparar, especializar e enriquecer mais uns quantos professores... que não sempre os mesmos exactamente para não serem sempre os mesmos.
Tenho já a experiência de um ciclo avaliativo completo com tudinho o que a legislação em vigor previa, à época. Nada como experimentar a coisa e lhe ver as tripas muito nojentas por dentro e para falar da coisa com conhecimento de causa. Tenho já a triste experiência da palhaçada da legislação em vigor transposta para a prática e tenho já a muito deprimente experiência da sua adulteração no terreno por parte de quem a executa. Vi, ao mau do MEC, juntar-se o péssimo dos poucos ou nenhuns escrúpulos na sua implementação muito doente. E, assim, passamos de uma Avaliação de Desempenho Doente para uma Avaliação Demasiado Doente.
Por mim, chega. Obrigada pela experiência, aprendi muito, pela negativa, relativamente aos homens e às suas capacidades de me surpreenderem. Profissionalmente, aprendi zero. E então para que servirá este raio desta coisa?! Não tenho mesmo a certeza se a experiência não terá contribuído bastante negativamente para a minha postura na Escola que é agora de um maior afastamento... afastamento que jamais se reflectiu/reflecte ou reflectirá no meu trabalho com e para os alunos, a única parte sagrada da minha profissão que até hoje permaneceu intocada no entusiasmo, energia, determinação, trabalho constante e criatividade que eu sempre procurei colocar quando preparo exaustivamente as minhas aulas, que eu sempre procurei colocar quando entro dentro de uma sala de aula para fazer aquilo que todo o professor que se preze deve fazer acima de tudo e para o qual foi preparado - leccionar!
Posto isto, e com mais um ciclo avaliativo à espreita que nos levará para lado nenhum... ainda por cima somos gozados valentemente pelo MEC, gozados até à exaustão, levados ao masoquismo doentio, declaro, pela segunda vez neste blogue, que não participarei na palhaçada que dará acesso ao Muita Bom e ao Xalente desde que isso não tenha repercussões na minha carreira estagnada. Sei lá... de repente estes legisladores da treta lembram-se de fazer uma lei a dizer que quem não pede aulas assistidas é despedido da função pública... ok, aí o caso poderá mudar de figura... mas se a legislação permanecer como está, faço boicote, enquanto avaliada, à avaliação.
Apenas porque não tenho vocação para perder o meu tempo, tão precioso porque único, em palhaçadas.
Nota - E sobre a saga/novela muito rasca dos professores avaliadores pode ler aqui um post que, nem a propósito, complementa este.
Este é apenas um retrato possível de um país cheio de merda, cheio de faz de conta.
E agora pergunto eu - A merda, quando varrida para debaixo de um tapete, desaparece?
Há quem pense que sim... apesar do cheiro nauseabundo.
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